Estão a ver aqueles jogos de apresentação pré-época, onde a equipa da casa mostra a sócios, adeptos e simpatizantes as indumentárias que vão usar durante a maratona futebolística que se avizinha, tratando de mudar de equipamento ao intervalo? Pois bem, o concerto dos Efterklang no Lisboa ao Vivo foi mais ou menos assim, com duas partes bem distintas onde a alteração de vestuário nem por sombras alterou a qualidade de toque de bola desta malta que veio do frio.
Liderados pelo trio atacante constituído por Casper Clausen, Mads Christian Brauer e Rasmus Stolberg, na primeira metade vimos uns Efterklang alinharem com camisolas vermelhas e o símbolo DBU estampado no lado do coração, trocando tácticas, incentivos e insultos ao árbitro exclusivamente em dinamarquês; na segunda, equipados de branco e com três leões no emblema, trataram de festejar os golos na língua que se elegeu como desbloqueadora de conversas internacionais.
Lançado este ano, “Altid Sammen” surpreendeu ao ser cantado de uma ponta à outra em dinamarquês. Um disco sem grandes sobressaltos, longe dos projectos paralelos em que esta malta se tem envolvido nos últimos anos, e que aponta à contemplação e à descoberta interior. Dos nove temas que compõem o disco, a banda em formato “Os Sete Magníficos” tocou sete: “Verden Forsvinder”, aula de introdução à gramática dinamarquesa; “Supertanker”, casamento entre o electrónico e o tradicional, onde à atmosfera carregada dos teclados se junta uma flauta transversal e aquilo que, carinhosamente, aqui chamaremos de harpa de colo; “Vi Er Uendelig”, precedido de um discurso onde Casper disse ser este um concerto muito especial para si, com as vozes femininas a tomarem conta dos coros; “Espero que compreendam a mensagem mesmo não sabendo dinamarquês“, atira Casper antes de apresentar “Uden Ansigt” como uma canção sobre a certa altura da vida ficarmos debaixo de uma ponte; “Under Broen Der Ligger Du”, uma travessia experimental de sete minutos; “I Dine Øjne”, com um baixo gingão, uma guitarra aos saltos e uns teclados a bombar entre o espírito Flashdance e um frente a frente com o Eye of the Tiger; e, a fechar, “Hold Mine Hænder”, uma música em crescendo onde Casper, sentado e sorrindo de olhos fechados, vê uma volta inocente num carrossel dos patinhos transformar-se num passeio de montanha russa com direito e mortal encarpado. É então que, aproveitando um momento de acalmia, Casper se chega à frente, pedindo que o público entoe o refrão em dinamarquês, momento delicioso algures entre o divertimento puro e uma comoção tremenda.
A verdade é que a coisa poderia ter ficado por aí, mas ainda fomos brindados com uma segunda parte composta por greatest hits, tendo Casper dito antes que via por ali muitas caras conhecidas, mas que apesar de assim ser mais difícil iria tentar manter-se cool: “Alike”, “Modern Drift” – onde se canta a plenos pulmões “I can keep my hurt inside/when the modern drift is all I have” -, “Cutting Ice To Snow” – um masterclass de canto coral numa música em crescendo que os First Breath After Coma, que tão bem se portaram na abertura deste concerto, não se importariam de ter no repertório -, “Sedna”, “Black Summer – que poderia bem ser o “This is the end” dinamarquês com um toque feminino – e “The Ghost” – onde Casper aproveita para deixar a mensagem de que só temos um planeta e que dele deveremos cuidar com esmero. Há ainda um inesperado segundo encore com “Dreams Today”, com a banda a alinhar na frente do palco para os merecidos agradecimentos. Tak. Kom tilbage snart!
Fotos: Luísa Velez
Promotora: Gig Club
Sem Comentários