Foi no longínquo ano de 1978, algures em Wirral, Merseyside, Inglaterra, que os Orchestral Manoeuvres in the Dark (OMD) deram entrada no universo musical, tornando-se uma das mais interessantes bandas que a música electrónica (sobretudo) conheceu durante a primeira metade da década de oitenta. Discos como “Orchestral Manoeuvres in the Dark”, “Organisation”, “Architecture & Morality”, “Dazzle Ships” e “Junk Culture” entraram para a história da música pop, com tanto de adoração como de subversão da mesma.
Os anos 90, é preciso dizê-lo, poucas memórias deixaram que valesse a pena ter guardado, levando a crer que os OMD seriam mais uma daquelas bandas para arrumar na gaveta das meias, isto até que o período millennial nos trouxe três novos discos, dois deles com motivos suficientes para fazer a festa: “English Electric” (2013) e “The Punishment of Luxury” (2017).
Adoptando 1979 como o ano onde tudo começou, a banda iniciou na Aula Magna as festividades do seu 40º aniversário, com uma tour que se irá estender até 16 de Fevereiro do próximo ano – que terminará em Paris. Foi um concerto com casa muito bem composta, onde Andy McCluskey e Paul Humphreys – os dois membros do núcleo original dos OMD – mostraram estar em muito boa forma, sobretudo Andy, que muitas vezes fez lembrar Bez dos Happy Mondays – ainda que com mais movimentos de cintura e estranhos jogos de articulações.
A celebração em estilo revival, aberta ao som da intro “Art Eats Art/La Mitrailleuse” que mandava curvar o corpinho ao mundo das máquinas, teve um pouco de tudo: música de baile, carrinhos de choque e clássicos com fartura (e farturas).
A pista não pede licença e abre ao som de “Isotype”, com os robots em festa a reservarem o Lux para uma festa privada. “Estivemos cá há dezoito meses e prometemos voltar com a banda toda. E aqui estamos“, dispara Andy, antes de uma viagem a “Messages”, música de dança para faraós que parece ter servido de inspiração a uma banda chamada Cut Copy.
“Tesla Girls” é música de baile para ancas fortes, uma tema que não se estranharia ouvir nas Festas da Nossa Senhora dos Remédios enquanto se davam umas voltas nos carrinhos de choque. “Tenho pena do tipo das luzes“, diz um muito mexido Andy, cantando-nos “uma canção feliz sobre o fim do Universo” – “History of Modern (Part 1)”.
Abre-se depois a “Pandora`s Box”, onde Andy puxa pela voz ao estilo de um cantor de salão. “(Forever) Live and Die” tem aquele baixo gingão que os OMD sacaram ao tema “You Sexy Thing” dos Hot Chocolate, cantada com muito esmero e boa afinação por Paul Humphreys – a quem cabe também entoar um hino chamado “Souvenir”, com Andy a tocar baixo numa espécie de palanque e muita – mesmo muita – gente que não sabe estar agarrada aos telemóveis a gravar o momento.
“Joan of Arc” é momento para palmas coreografadas, na onda de um “Under Pressure”, enquanto Joan of Arc (Maid of Orleans), sacada ao melhor disco da banda, recebe uma ovação de todo o tamanho. “Time Zones” dá-nos aquele empurrão para “Statues”, momento Stranger Things filmado por um Kubrick em ácidos, com o quarteto alinhado na frente do palco.
“Nunca tocamos lados B“, confidencia Andy, mostrando-se disponível para uma versão irrepreensível de
“Almost” – do 1º single editado pela banda -, com as teclas a darem corpo a uma imensa melancolia e alguma tristeza. Segue-se “Don’t Go”, uma estreia mundial ao vivo, que depois de “Almost” é assim como passar do sossego de um quarto escuro para o rebuliço de um centro comercial.
“So in Love” tem falsete e aquele saxofone que nos habituámos a escutar nos discos do George Michael. A recta final faz-se com “The Punishment of Luxury”, “Dreaming”, “Locomotion” – onde a certa altura parece ouvir-se uma carrinha dos gelados com Elvis a anunciar os sabores disponíveis-, “Sailing on the Seven Seas” e esse manifesto anti-bélico chamado “Enola Gay”.
Quanto ao encore, pedido com unhas e dentes por um público satisfeito, traz-nos “If You Leave” – que figurou nesse conto de fadas moderno chamado Preety In Pink -, “Secret” e “Electricity”, esse hino que nos transporta ao lugar onde tudo (tão bem) começou – um punk pop feito de teclas, beats e uma bateria seca e cortante. Os 40 são mesmo os novos 20.
Setlist
Art Eats Art/La Mitrailleuse Intro
Isotype
Messages
Tesla Girls
History of Modern (Part 1)
Pandora’s Box
(Forever) Live and Die
Souvenir
Joan of Arc
Joan of Arc (Maid of Orleans)
Time Zones
Statues
(First time with full band since 2012)
Almost
(First time since 2016)
Don’t Go
(Live Premiere)
So in Love
The Punishment of Luxury
Dreaming
Locomotion
Sailing on the Seven Seas
Enola Gay
Encore
If You Leave
Secret
Electricity
Promotora: Lemon Live Entertainment
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