Aos primeiros segundos de “Black Moon Rising”, primeiro tema do álbum de estreia dos Black Pumas, traça-se desde logo o rumo: a voz almofadada e os arranjos elegantes e felinos apontam como uma seta à soul music do final dos anos 60, início dos 70. Não falamos no entanto de uma banda de tributo a um som anacrónico – o registo dos músicos texanos é bem contemporâneo, partilhando referências com nomes como os The Black Keys ou Danger Mouse, satélites desse universo sonoro.
O duo de Austin é formado pelo vocalista Eric Burton e pelo guitarrista e produtor Adrian Quesada. O primeiro registo de originais, “Black Pumas” (Rough Trade, 2019), surgiu já este ano no seguimento de um burburinho de hype, sustentado por uma vibrante actuação no Festival South by Southwest, em 2018.
Quesada é um produtor e músico com créditos firmados: já ganhou um Grammy e tem as mãozinhas em múltiplos projectos de sucesso, desde o funk latino dos Grupo Fantasma até discos de tributo aos Black Sabbath e aos Public Enemy, passando pelo rock e até pela cumbia – o homem tem um currículo extenso.
Em 2017, o músico andava à procura de uma voz carismática quando travou conhecimento com o cantor itinerante Eric Burton. Após uma audição telefónica que o convenceu, fê-lo assentar arraiais ao seu lado nos Black Pumas. Por mais que Quesada seja um produtor excelente, é a voz de Burton que eleva a banda a patamares mais altos – o vocalista tem um timbre intemporal, a meio caminho entre Otis Redding e Gary Clark Jr., e passeia uma presença dinâmica e carismática ao vivo.
Já falámos de “Black Moon Rising”, balada afrodisíaca a cheirar a Motown, onde a voz elástica de Burton tão depressa se veste de Marvin Gaye como dá uns ares de Sam Cooke. Os coros são elegantes, as cordas discretas a pontuar uma produção cuidada, um piano eléctrico completa a receita – nota-se que os Pumas começaram como um projecto de estúdio antes de saírem do cativeiro para os palcos.
“Colors” é uma pérola pop de todo o tamanho, com um refrão açucarado que se cola ao palato; “Fire” é tão cinemática que podia correr no genérico do último filme de Tarantino, e “Touch The Sky” revela os alicerces blues que sustentam a banda. Há ainda aquela guitarra acústica de “Oct 33”, tema arrancado à solidão de uma cálida noite de verão, e a leveza da música final “Sweet Conversations”, onde até cabem pássaros a chilrear.
No conjunto, “Black Pumas” é um disco muito coeso, fruto de músicos com capacidades consideráveis – um sólido primeiro trabalho que faz adivinhar vôos mais altos no futuro, assim a banda não se deixe enclausurar na sua felídea fórmula.
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