Para além de ser uma das mais fascinantes séries de animação televisivas apontadas a miúdos e graúdos, há que saber dar um enorme “respect” ao seu criador. Apesar do sucesso alcançado, Alex Hirsh não embarcou no espírito moderno das reposições desenfreadas, recusando ir além das duas temporadas originais que havia desenhado na sua cabeça. Porém, para que o choro colectivo não se viesse a transformar num novo Dilúvio bíblico, prometeu alguns episódios especiais ou comemorativos, para o tempo que há-de vir. Como é o caso deste “Gravity Falls: Lendas Perdidas” (D. Quixote, 2019), servido numa bela edição de capa dura, que reúne quatro novas histórias, em banda desenhada, nunca antes reveladas.
É nestas páginas que iremos encontrar as respostas a algumas questões bem pertinentes, lançadas por Hirsch na contracapa: “Já te perguntaste onde se escondem as criaturas de Gravity Fallas quando não as vês? E qual a sensação de andar perdido no multiverso? Ou que SMS o Dipper e a Pacífica trocam um com o outro?”. Quatro histórias que, segundo ele, são “esquisitas demais para a TV”. As apresentações são feitas por Shmebulock, um gnomo tão estúpido que só sabe dizer o próprio nome, resultado de uma maldição que apenas é quebrada por uma noite de mil em mil anos. Um verdadeiro fã da família Pines, encarregue de apresentar o festim composto por quatro contos.
Em “Cara a Cara”, Pacífica mostra-se preocupada com o aparecimento da primeira ruga, pois no dia seguinte terá a sessão de fotos para a capa da Revista Anual da Família Noroeste. Decide assim espreitar os diários de Gravity Falls, onde acaba por invocar o Sr. Cara de Quê, que lhe promete uma pele lisa para todo o sempre. Um conto com um certo toque a John Travolta no “Face Off”, à volta de confissões e traumas de infância.
“O Bando das BD” está em festa graças às colecções de BD do Soos, uma animação que só termina com um daqueles comentários sempre animadores de Stan: “Os livros aos quadradinhos não passam de uma tanga para bebés e desempregados crónicos”. Stan que acaba por se ver amaldiçoado por um velho baú, que o faz ser perseguido pelas legendas que saltam das páginas, e que quer que este expie o pecado de ter insultado o formato dos romances gráficos. Uma viagem incrível por vários estilos de BD, que mostra que aquilo que nos moldou na infância merece um lugar na vida adulta.
“Dimensão à Medida” indica-nos-nos a Falha de Mabel, que contém fendas interdimensionais. Ford leva então a canalha a reparar estes “buracos de minhoca”, mas parece que quando uma delas se fecha outra logo se abre. Uma história onde dois tios-avôs vão entrar com tudo para decidirem qual deles é o melhor cuidador.
Para o final fica “O Diabo de Jersey está nos Detalhes”, uma história sobre os gémeos Stanley e Stanford Pines, que envolve um fio de ouro desaparecido, uma disputa de caça com os Irmãos Fraternos e a entrada em cena do Diabo de Jersey, um “nocturno de cascos fendidos”.
No final de cada história o leitor vê-se brindado com os comentários de Shmebulock, algures entre os mandamentos morais e o puro reinanço. Um livro obrigatório para os fãs de Gravity Falls.
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