Numa altura em que as guitarras, muitas vezes, ficam em segundo plano e as letras se escondem por detrás de metáforas quase inatingíveis, os quartoquarto destacam-se por fazer exactamente o oposto. Referir o Termómetro, que venceram em 2018, seria quase desnecessário, se dele não tivessem saído nomes como Ornatos Violeta e/ou Silence 4.
Ao vivo, estes quatro rapazes dizem tudo o que têm a dizer e da maneira mais eficaz: através de um concerto impetuoso, recheado de riffs e ritmos de bateria alucinantes. Aquilo que fazem em álbum ganha ainda mais força em palco, transportando-nos para o seu universo de forma imediata.
A voz João Vidigueira destaca-se no meio da parede de som que vem do palco com uma naturalidade e fluidez, apenas comparável à intensidade das letras que compõe. Na bateria, Diogo Sousa faz uma coisa muito simples – mostra como deve ser dado “Um Concerto de Rock”. Na guitarra e no baixo, Lucena mostra que versatilidade é uma palavra que não deve ser usada em vão, movendo-se entre a guitarra o baixo e os synths sem que os temas percam a melodia e a força que os caracteriza. João Abelaira, nos teclados, cria ambientes sonoros densos, onde tudo o resto se encaixa na perfeição.
O concerto do mês passado, no Musicbox, com a abertura a cargo de Iguana Garcia e a colaboração de Sequin, Melquiades e Jibóia, foi mais uma prova de que a música nacional atravessa uma fase de glória, catapultando os quartoquarto para a primeira liga do Rock Português.
Aproveitámos o frenesim para colocar algumas questões (mais ou menos improváveis) aos rapazes, que nos responderam num coro afinado.
O que queriam ser em miúdos?
Acho que estávamos todos demasiado distraídos com a MTV e os videojogos, e isso deixa-nos com a sensação de que queríamos ser rock stars. Mas no fundo todos queríamos ser astronautas ou detectives.
Ornatos Violeta ou Radiohead?
Pode ser um mashup? Custa ter de escolher entre coisas muito boas. E se calhar até ia resultar.
Palco/Festival de sonho?
Vamos arriscar no Roskilde? Talvez o maior e mais ecléctico festival da Europa. Seria certamente uma experiência inesquecível.
Quem é que vos deixaria sem reacção se partilhasse o palco convosco?
Nem boa nem má? Alguém que já cá não está. Vamos mencionar o David Bowie porque nunca é demais.
O que nunca vos perguntaram e gostavam que se soubesse?
Se gostamos da música que fazemos. Sim! Apesar de às vezes ser difícil estar tanto tempo tão perto dela. É uma coisa que tem de ser muito bem gerida, por isso estamos sempre a transformá-la e a conceber arranjos de modo a não perder a essência das canções – mas também poder ser sempre divertido para nós tocá-las.
De futuro contam lançar álbuns no formato “tradicional” ou vão adoptar a tendência de lançar maioritariamente singles?
Lançar maioritariamente singles não é algo muito novo, o pop rock já nos fez perceber isso há um bom tempo. A importância desses singles na conjectura total de um álbum, EP, ou qualquer que seja o formato que se adopte, é que está cada vez mais obsoleta para um público mais geral. A maior parte dos consumidores quer momentos, e quando pensas numa obra e queres que ela faça sentido numa forma extra-momentânea, ela necessita de uma atenção e dedicação mais exigente, coisa que cada vez menos temos tempo para assumir devido ao oceano imenso da informação. Isto para dizer que cada trabalho é um trabalho e, se a viabilidade e o contexto se revelarem só de singles, é isso que se faz. Se casarem todos num álbum, melhor. Significa que mais forte e mais pertinentes se mostraram as ideias e que a estética e o conceito conceberam um todo maior que a soma das partes.
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