Em Pedestrian At Best, o terceiro tema de “Sometimes I Sit And Think, Sometimes I Just Sit”, a australiana Courtney Barnett canta assim:
Put me on a pedestal and I’ll only disappoint you.
Tell me I’m exceptional, I promise to exploit you.
A verdade é que, decorridos três meses desde que 2014 deu lugar a 2015, poucos discos se arriscam a ser colocados num pedestal ou, se preferirem, a ganhar o estatuto de loop em tudo o que seja dispositivo musical.
Pegando num triunvirato – guitarra, baixo e bateria – que parecia estar condenado a outro tipo de companhias nos dias que correm, Courtney chega-se à frente com um disco de estreia que reinventa, de certa forma, o sonho rock nascido nos anos 90, que andava numa travessia deserta onde só se viam caixas de ritmos, teclados e se escutavam, como alucinações, refrões de estádio.
A voz da australiana, que navega entre o canto e o espírito crooner, fala-nos de desapontamento e esperanças, falsas e por cumprir, revelando um olhar fotográfico apurado sobre a vida mundana e fazendo, de si própria, o personagem principal destas fascinantes onze histórias carregadas de humor, sátira, crítica social e alguma morbidez.
Há laivos de Pavement, salpicos de Elastica, pozinhos de Nirvana mas, sobretudo, muitos truques de mágica de Barnett que, com uma guitarra que dança entre a subtileza e o puxar de cabelos, oferece um disco rock como há muito não se via, provavelmente desde que o grunge foi levado para a campa. Uma das grande rodelas de 2015.
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