Desde o seu primeiro disco, de 2008, que Mike Jollet e os insubordinados The Airborne Toxic Event têm contribuído pela medida grande para acreditarmos que é muito difícil assassinar o rock. Até os mass murderers que distribuem, com a displicência dos incautos e a arrogância dos duros de ouvido, grammys para isto e EMAs para aquilo, não têm hipótese nenhuma na sua intenção genocida, pelo menos enquanto deixarem gente assim à solta, com liberdade para a explosão criativa.
Mas mesmo os génios têm direito a momentos menores. “Such Hot Blood”, o último trabalho que estes rapazinhos de Los Feliz – LA tinham editado, em 2013, constituiu uma desilusão do tamanho deste mundo e do outro. A vingança serve-se, porém, com dois anos de frigorífico: este “Dope Machines“ (Epic Records, 2015) não é apenas um grande disco. É uma afirmação de talento, coragem e resiliência. É a prova de que a reinvenção compensa, por muito trabalho que isso nos dê e por muito desagradável que se apresente o clima, quando saímos para fora da zona de conforto. Muito apropriadamente, Jollet parece bastante inseguro e quase consegue ser humilde (o que é uma novidade nele) logo à entrada, no grandiloquente tema bandeira de Dope Machines intitulado “Wrong”:
I see the look in your eyes
Am I trying too hard?
Am I doing this right?
(…)
I believe I was wrong
Probably most of my life
Or I’m just hearing it wrong
I’m just watching the fire light
O disco varia loucamente entre o puritanismo electro-pop e a vocação épica que está no ADN da banda. De tal forma que, em certos momentos – como em “California” -, parece que alguém convenceu o Bruce Springsteen a embebedar-se com os New Order. E, por esquizofrénica que pareça a mistura, a verdade é que resulta (dores de cabeça incluídas). As guitarras berram tão alto como os sintetizadores, Jollet consegue fazer barulho sobre isso tudo e há um constante desequilíbrio emocional que consegue ser tocante, mesmo quando a intenção não é essa. Até porque esta terra não é para lamechas. Só os heróis conseguem chegar até aqui.
Por exemplo, em “The Thing About Dreams”, um tema que tem o efeito de um prozac ao pequeno-almoço, a atitude já é mais apropriadamente confiante:
And the hell with the rest,
You gave them your best.
E está tudo dito. Ou talvez não, porque, para compensar os fãs pela descompensação psicótica e o brilhantismo histérico que percorre quase integralmente a duração de “Dope Machines”, os Airborne Toxic Event oferecem, em anexo, uma coisa completamente diferente: “Songs of God and Whiskey” reúne 10 temas acústicos de tom biblíco, que são, por si só, uma verdadeira opereta do Oeste; um western inteiro de aventuras e desventuras.
Duas sínteses pelo preço de uma antítese. Eis a definição de um bom negócio, segundo os impagáveis The Airborne Toxic Event.
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