A Primavera está mesmo aí à porta: o sol brilha, os pássaros chilreiam nas árvores, e apetece ouvir um disco bem-disposto, alegre e luminoso. “Happy in The Hollow”, o mais recente álbum dos Toy, não é esse disco – está recheado com a tão britânica neblina da melancolia.
Este é já o quarto tomo da carreira do quinteto, recebido como um regresso à boa forma depois de “Clear Shot”, disco mais morno de 2016, que apesar de albergar algumas pérolas revelava um certo cansaço na fórmula.
A banda é, muitas vezes, despachada sob o rótulo do rock psicadélico, mas na verdade tem mais que se lhes diga. De uma forma um bocadinho preguiçosa, podemos aqui enumerar as influências mais óbvias: Byrds, Jesus and Mary Chain, o krautrock dos Can e as texturas de guitarra dos My Bloody Valentine, o noise dos Sonic Youth e por aí fora. No entanto, o que torna este quinteto interessante é a forma como, pegando nestas referências, cozinha um guisado musical com a colisão entre o experimentalismo e a sensibilidade pop, resultando em temas com melodias e ganchos que se agarram aos ouvidos.
Em “Happy in The Hollow” vão ainda mais longe, alargando a paleta sónica sem nunca perder a identidade: numa primeira audição, há o andamento contagiante de “Jolt Awake”, que desagua numa câmara de eco de psicadelismo, a voz do vocalista Tom Dougall num registo enigmático. Há também a injecção de adrenalina de “Energy”, viagem feroz pelas memórias do pós-punk a alta velocidade.
“Mechanism” coloca o foco nas frases de sintetizador, e deixa entrar um primeiro raio de luz – transporta-nos por paisagens diversas, como se olhássemos pela janela de um comboio em movimento (fica a ideia para o vídeo).
Há ainda mais pontos de interesse: o caminhar lânguido de “You Make Me Forget Myself”, a fazer lembrar a britpop dos Blur; a folk acústica e pastoral do instrumental “Charlie’s House”, contaminada por blips electrónicos; a dreampop de “Last Warmth of the Day”, com alguns pozinhos de folk na raiz – e um riff de guitarra perigosamente parecido com o de “Girl…You’ll Be a Woman Soon”, dos Urge Overkill; e ainda as vagas infecciosas do primeiro avanço, “Sequence One”, com o baixo risonho acompanhado pela batida cristalina do baterista Charlie Salvidge.
“Happy In the Hollow” é o primeiro álbum produzido inteiramente pela própria banda, que escolheu desta vez construir um disco mais diverso, conseguindo fugir à expectativa sem no entanto perder a coerência com o seu universo sonoro – é um bem-sucedido refrescamento, que coloca a banda de novo no bom caminho.
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Os Toy actuam no dia 17 de Março no Estúdio Time Out, no Mercado da Ribeira em Lisboa. Os bilhetes estão à venda nos locais habituais.
Promotora: Lemon Ibéria
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