Na véspera do seu regresso a Portugal, enviámos por messenger algumas questões a Daniel Knox, um cavaleiro negro da escrita amorosa no que toca às canções. O concerto acontece esta noite, às 22h00, na Igreja dos Ingleses, em Lisboa. Tenham ou não um Valentim ou uma Valentina por perto, é de ir amigos.
O que mudou na tua vida nestes quatro anos, nomeadamente desde a saída de “Daniel Knox” e a tua primeira visita a Portugal?
Já se passaram quatro anos? Penso que a maior parte desse tempo foi dedicada a preparar e a terminar este novo “Chasescene”. Mas fiz também música para filmes, lancei alguns singles e algumas colecções de bandas sonoras. Continuei o meu trabalho como projecionista no The Music Box Theatre, em Chicago. Tirei uma montanha de fotos, que vou pulicando na minha conta de Instagram. Esqueci-me de como tocar todas as minhas canções e tive de as aprender todas outra vez. Decidi não me levar tão a sério durante um tempo. Mas desde que deixei Portugal que tenho sonhado com regressar e ficar de vez. Nenhum outro lado do planeta me recebeu tão abertamente e foi tão inspirador para mim. Sinto que em Portugal tenho muito para dizer e, também, muito para fazer. Espero que o próximo regresso não seja tão longo quanto o foram estes quatro anos.
Como é para um não-católico, presumo, tocar numa igreja tão estilosa quando a Igreja dos Ingleses?
Penso que estamos sozinhos no Universo, se é a isso que te estás a referir. Mas colocando isso de lado, sempre adorei tocar em igrejas e catedrais. Sobretudo nas muito antigas. São lugares feitos de reverência. Faz-te pensar onde lugares como estes terão ido parar nos nossos dias. Os edifícios agora tendem a parecer-se todos com micro-ondas ou torradeiras. Apenas simples blocos. Muitas das novas igrejas nos Estados Unidos parecem-se com restaurantes de fast food numa escala maior. Outras das coisas fantásticas em igrejas é como tão bem transportam a voz dos cantores, algo que presumo ter sido pensado durante a sua construção. Quanto toquei na Igreja dos Ingleses deixaram-me tocar o órgão no final da noite, foi incrível!
Stalkers de fim de noite, assassínio animal e rapto, tudo isto atravessa “Chasescene”. Podemos presumir que concordas com Marlon Williams quando este canta “Love is a terrible thing”?
Não conheço a música do Marlon Williams, por isso não posso falar da forma como ele olha para esse sentimento. Mas permaneço um optimista. Como Jimmy Scott cantou, “Falling in love is wonderful”. Acredito nisso. Mas uma grande dose de coisas boas também te pode destruir.
Neste disco, o teu quarto longa-duração, encontramos uma impressionante secção de cordas, serras musicais, um mandolim, pedais e, claro, o teu piano característico. É claramente o teu disco mais ambicioso ou, pelo menos, o teu disco mais produzido até à data. Sentes que de alguma forma subiste de nível neste registo?
Sinto que depois de andar às cegas a passear em becos encontrei, neste disco, finalmente aquilo de que andava à procura. E agora que o encontrei quero começar tudo de novo em termos gerais. Não tenho o desejo de fazer o próximo disco da mesma maneira, de ficar tão preso a estes arranjos grandiosos. Estou orgulhoso disso e até realizado, mas criativamente estou preparado para fazer algo mais pequeno e estranho. Quero ver o que consigo fazer com limitações, uma vez que em “Chasescene” não tive qualquer uma. Estou ansioso em atirar tudo fora e começar a escrever como se fosse o meu primeiro dia.
Julgando pelas tuas letras, presumo que a Literatura (e a Poesia) tem – e teve – um espaço privilegiado na tua vida, transformando-te de certa forma num contador de histórias musical. O que tens lido ultimamente e que livros mais te transformaram?
Sempre tentei ler muita poesia. Gosto também de ler artigos longos. É algo embaraçoso dizer isto, mas não leio um bom livro há muito tempo, mas espero que isso possa mudar em breve. As minhas leituras favoritas e às quais regresso com mais frequência são Fante, Dos Passos, Robinson Jeffers, Samuel Butler, Heinrich Heine e Raymond Carver.
Incrível neste disco é também a participação de Jarvis Cocker, um homem de um outro continente que, de alguma forma, partilha contigo esta transviada – no bom sentido – visão do amor. Como aconteceu esta colaboração?
Conheci Jarvis no Barbican, em Londres, e acabei por fazer coros no seu segundo disco a solo, “Further Complicatons”. O tema de Jarvis no meu disco, “Capitol”, é sobre Springfield, a minha cidade berço. Senti por isso que teria de ter alguém a cantar que estivesse completamente afastado da cidade, uma vez que foi assim que me senti ao crescer lá.
Para terminar, o que podemos esperar do concerto desta noite? Serás tu e o piano? Algumas surpresas preparadas?
Trago algumas canções. Eu próprio. Um programa quase exclusivamente de música de piano e, ocasionalmente, vão ouvir-me a falar de vários assuntos. Estou ansioso em poder tocar para quem aparecer mais logo.
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