Ouvimo-la pela primeira vez a emprestar a voz a “Please, please, please”, dos portugueses Octa Push, uma femme fatale escaldante no respectivo vídeoclip. A portuguesa residente em Londres Catarina Moreno – nome de palco Mai Kino – editou o primeiro EP “The Waves” em 2016, com os blogues musicais ingleses a acolherem-no com um certo hype. No final do ano passado regressou com o single “Young Love”, e há novos temas em carteira para breve.
Na passada sexta-feira veio ao Pequeno Auditório do CCB apresentar as suas composições hipnóticas e sedutoras, depois de já ter passado pelo palco do NOS Alive 2017 e do Lisboa Dance Festival.
Ao entrar na sala via-se uma névoa estranhamente imóvel, que viria a adensar-se com o início do concerto. Sob luzes de intenso azul-cobalto, entraram silenciosamente em cena o percussionista e a teclista que acompanharam a cantora. Um manto sonoro tenso e eléctrico recebeu depois a entrada de Mai Kino, com um vestido leve, transparente e revelador, uma sedutora odalisca.
Sob o eficiente jogo de luzes, umas vezes com azuis soturnos, outras com laranjas quentes e sensuais, Mai Kino cantou com uma dicção clara e cristalina. A sua voz é quente, macia mas confiante, e invoca inevitavelmente o trip-hop dos anos 90. As canções têm engrenagens pop cativantes, como água, com arranjos minimais e as notas nos sítios certos.
A sonoridade da multi-instrumentista portuguesa assenta muito no protagonismo da caixa de ritmos, com pum-tchaks em catadupa e súbitas clareiras de silêncio – aproxima-se da cartografia sonora de artistas como Sevdaliza ou os The XX.
Alguns momentos ficaram na memória: a versão suave de “Eyes Without a Face”, de Billy Idol, hit dos anos 80 que fez todo o sentido neste registo; o apontamento acústico antes de “The Waves”, só a artista e a sua guitarra; a força do tema “Young Love”, balada soturna sobre uma paixão jovem, descrita como um fogo destruidor; a respiração muito própria e os sorrisos fugazes da cantora, acompanhando os seus gestos expansivos – embora se note a falta de rodagem de concertos, Mai Kino demonstrou leveza e à-vontade em palco.
O melhor da noite esteve na equilibrada junção entre a pop luminosa e cintilante e uma corrente mais soturna, mais subterrânea, como vimos em “The Waves”: o encantamento sonoro da voz a dar lugar a uma batida insidiosa, sexual. Este sentimento mais obscuro está presente também naquele que será o novo single, “Talk”, tema cativante que encerrou o espectáculo. Um início auspicioso de uma jovem artista que tem tudo para se afirmar na pop electrónica actual.
Galeria Fotográfica (Fotos de Luís Miguel Andrade)
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