Encoberto pela mitologia do número sete, o corrente ano de 2018 traz-nos uns Beach House com uma sonoridade aprimorada e aperfeiçoada, com a intenção de dissipar quaisquer dúvidas sobre a ideia de os colocar no patamar das bandas de culto e devoção (lembram-se de Devotion?) deste século.
A audácia da aposta não reside numa inovação sonora muito clara, até porque a mesma não existe. “7” (Sub Pop, 2018) podia ser perfeitamente o difícil segundo disco, embora surja com uma textura mais escura; ou, por outro lado, podia ser o pecado final, o último degrau do Inferno de Dante, aquele que completa a obra-prima, repleta de sons que já nos são familiares dado que foi posta de parte a hipótese de uma possível reinvenção, num assumir de receio em derrubar limites previamente delineados.
A voz de Victoria Legrand, discretamente ladeada por Alex Scally, continua a ser marca de água, um guia narrativo para sons voláteis, quase celestiais, que nos chegam de cima, de um patamar que nos é superior e que interiorizamos espaçadamente: primeiramente a voz, depois o sintetizador e, como remate final, a percussão. Ao fundo, a voz vai soando repetidamente, em loop.
Uma “Dive” que roda sobre si mesma e que, de tanto andar aos círculos, não chega a lugar nenhum; uma “Drunk in LA” que podia constar do disco inicial de 2006, relembrando os seus sintetizadores ruidosos; ou uma “Black Car”, que arrebata num ápice os nossos corações. As ondas sonoras que compõem “7” oscilam entre a penumbra e o crepúsculo. Um meio caminho indefinido que torna os Beach House um artefacto de culto na música popular contemporânea.
Teria sido difícil conceber um registo tão arrebatador quanto os discos que tornaram os Beach House uma banda de culto, mas seria ainda mais complicado receber deles um disco em 2018 e não salivar diante de algo tão majestoso, a aflorar o estatuto de peça de arte. “7” será seguramente um dos melhores registos do ano.
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