No palco thisquietarmy. No lado oposto, avança com uma cadeira debaixo do braço. Pousa-a com a mesma afabilidade com que o avô cede lugar ao neto. Há uma inversão das hierarquias, mas é nestes gestos largos que se reconhecem. O gajo levanta-se do degrau e agradece.
17 de Março deste ano. Noite de gala. A diva do no wave, a diseur dos atormentados – Lydia Lunch pelo meio da plateia de braço dado. Condu-la ao palco. Verifica se está tudo no devido lugar. O copo e a garrafa de vinho branco estão. Pode começar o concerto.
The Selva, tudo aponta para o fim. Não há lugar para mais nenhum tema, aparentemente. Com três cervejas na mão, entre aqueles dedos grossos de quem já construiu metade do mundo. E meio pedido, meio ordem transmitida com a implicação dos amantes – “toquem lá mais uma”. O trio de Lisboa/Roterdão cede. Impossível não o fazer.
Episódios. Somente três, de três noites no Sabotage e somente deste ano. Agora multipliquem por cinco anos, de noites ininterruptas de Dj´s e concertos.
A acreditar num Deus, ao mesmo tempo hábil de mãos e avaro em conceder desejos, diríamos que a este da nossa condição talhou-o em rocha dura e deu-lhe igual dose de teimosia e bondade. Não por acaso tem o cognome de Imperador, Carlos O Imperador. Magnânimo, chato, casmurro, mas de ouvido desafogado tanto para o rock, como para o jazz, electrónica, folk, funk, hard-core, metal ou punk e para todos os outros estilos, sub-estilos e fusões que se venham a inventar ou nem sequer estejam sonhadas. O tempo quando o vê contorna-o. Tem medo que o Carlos já tenha visto mais que ele próprio. São cinco anos, são muitas noites. E as noites dobram os dias. É tempo. É muito, é a certeza que um muito obrigado será sempre curto, como as calças de miúdo em corpo de adolescente.
Uma vénia? Se os jogadores do Benfica a fazem ao terceiro anel e os orientais também, porque não? Será gesto mais que apropriado e de agradecimento. Será reconhecimento de uma luta diária de uma casa que sempre pugnou por ser uma alternativa ao que até então se passava e passa na noite lisboeta. Como a aldeia irredutível do nosso imaginário. Afastada da rua com cor e símbolo da objectificação do espaço público, da estilização da fachada, que ora vende a sardinha em lata ora os baldes de cerveja a 1 Euro. Aqui os desejos dos consumidores são determinados pela casa. Quem vem, vem na incerteza da descoberta e na indefinição da hora de saída. A métrica é outra. A cerveja, o cigarro, a conversa possível. O chão torna-se pré-areia movediça e a roupa começa a cheirar a fumeiro transmontano. Mas há sempre espaço para mais uma. Ali, na certeza de cada um, já nos cruzámos com o Paul ou Bruno Ganz, com o Travis ou o Harry Dean Stanton, com o Harry ou Ben Gazarra.
São 5 anos, largos como aquela mão. À porta, como sempre, aquele sorriso, cabelo puxado atrás e tez de quem nunca saiu da praia. E nós a acrescentar mais umas tantas histórias… se nos lembrarmos.
SABOTAGE – 5º ANIVERSÁRIO
2 de Maio | Debut! + Jibóia | Clubbing: El Fuser + Nuno Rabino
3 de Maio | Xinobi LIVE | Clubbing: João Maio Pinto + Nuno Rabino
4 de Maio | Ricardo Remédio + The KVB | Clubbing: Deus do psicadélico + Pedro Oliveira + Noise Dolls Club + Nuno Rabino
5 de Maio | Talea Jacta + Electric Moon | Clubbing: Davide Polido + Tiago Castro + Johnny Chase + A Boy Named Sue + Nuno Rabino
Mais Info – www.facebook.com/events/1657650097654528
Fotografias: Pedro Roque
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