Os Dias da Música em Belém, que este ano se realizam nos dias 21, 26, 27, 28 e 29 de Abril no CCB, vão inspirar-se no perturbante e fantástico mundo de Hieronymus Bosch, partindo da observação das obras do mestre flamengo e ramificando-se num sem número de relações que irão do universo de Dante ao mito de Fausto. Um festival que se apresenta em fórmula de tríptico, uma fórmula que tem tudo a ver com Bosch.
A festa arranca no dia 21 de Abril com o Festival Jovem, dedicado aos melhores grupos jovens. No dia 26 chega a Portada do Tríptico, com uma obra que aborda a expulsão do Paraíso: “A Criação de Haydn”; a27 atravessar-se-á o Inferno com a “Danação de Fausto”, de Berlioz; no dia 28 exploram-se as Culpas, os Pecados e as Tentações Terrenas, com os “Sete Pecados Mortais”, de Kurt Weill, “Gianni Schicchi”, de Puccini ou “Caim”, de Alessandro Scarlatti); o dia 29 termina com uma programação dedicada às Graças Divinas e à Reconquista do Paraíso, recorrendo à oratória “Das Paradies und die Peri”, de Schumann.
Tendo por referência a obra de Hieronymus Bosch, a programação inclui também o Ciclo Hieronymus Bosch, intitulado “Tirai os Pecados do Mundo”, que tematiza o legado perturbante e enigmático de um dos maiores pintores do século XV, procurando declinar alguns aspectos e leituras suscitadas pela sua obra que tem apaixonado inúmeros pintores e historiadores de arte.
Marie Chouinard coreografou uma peça de dança a partir de “O Jardim das Delícias”, tríptico que ainda hoje alimenta a nossa perplexidade, recriando em palco uma feérie surrealizante, um freak show que não deixa, contudo, de propor uma reflexão sobre o bem e o mal do espectáculo do mundo. Essa reflexão estende-se com a exibição do documentário “El Bosco. El Jardín de los Sueño”s, uma co-produção do Museu do Prado, realizado por José Luis Lópes-Linares no âmbito da comemoração do V Centenário da morte do pintor – e nomeado a um dos prémios Goya do cinema espanhol. Será também o momento de ouvirmos dois dos maiores especialistas da obra de Bosch, Pilar Silva Maroto, do Museu do Prado, e Joaquim Caetano, do Museu Nacional de Arte Antiga.
Essa dimensão de redenção da humanidade perante a sucessão de comportamentos pecaminosos é materializada através da programação de filmes que abordam os Sete Pecados Mortais, título de outra das pinturas mais conhecidas de Bosch – de Stanley Kubrick a Orson Welles, de Jacques Tati a Martin Scorsese, mais do que a mera ilustração do catálogo pecaminoso, a proposta é colocar em confronto objectos cinematográficos tão díspares quanto a pluralidade de leituras suscitadas pela noção do bem e do mal, uma viagem pelos domínios obscuros de um «mundo às avessas» como caminho propiciatório para a salvação do Homem num mundo repleto de pecados.
Pluralidade de leituras que terão a sua materialização na programação dos Dias da Música que, estruturada como um tríptico, persegue e celebra as tentações terrestres e a sua redenção, como se poderá escutar em “A Criação”, de Haydn, no “Gianni Schicchi”, do Tríptico de Puccini, no “Caim ou o Primeiro Homicídio” de Alessandro Scarlatti ou n’ “Os Sete Pecados Mortais”, de Kurt Weill.
Programa Dias da Música
Programa Ciclo Hieronymus Bosch – “Tirai os Pecados do Mundo”
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