“Avozinha Gângster” | David Williams

Este livro é um diamante. Tem o brilho reluzente do humor, o valor incalculável do amor e detalhes preciosos de uma sensibilidade latente que merece ser partilhada. Com a história de Ben e da sua avó soltam-se sonoras gargalhadas, mas há uma música de fundo, qual neblina, que nos toca, emociona e traz saudades de quem já partiu.

“Avozinha Gângster” (Porto Editora, 2014) não é só um bestseller a nível mundial, com mais de 4 milhões de exemplares vendidos, como anuncia a capa. A história agarra, de imediato, leitores de qualquer idade. O sarcasmo e as risadas começam no cheiro a couve da avó do Ben, para acabarem em sopa de couve, bolo de couve, mousse de couve e muito mais… de couve. O sensível sem ser piegas arrebata-nos num crescendo, tal como acontece com a relação entre avó e neto, uma descoberta compassada.

Apesar de já ter 11 anos, Ben não sabia nada sobre a avó com quem passava grande parte das noites de sexta-feira. Conhecia os seus óculos grossos, o cabelo branco, o aparelho auditivo, a dentadura, os rebuçados da tosse que trazia sempre no bolso, os chinelos avermelhados ou o vestido florido. Sabia ainda da sua paixão por jogar Scrabble e da televisão avariada e coberta de pó. Porém, quando Ben vê as jóias, que a sua avozinha guarda numa lata de biscoitos, a história, a avó, o Ben e até o cheiro a couve ganham novos e inesperados contornos. Porque a velhinha antiquada, friorenta e chata, se transforma numa gângster misteriosa capaz de guardar em casa diamantes grandes, brilhantes e valiosos. Assim, aos olhos do neto, a avozinha e as sextas-feiras ganham um brilho bem maior!

O autor, David Williams, é um actor britânico de comédia, famoso pela série “Little Britain”. Em 2008 surpreendeu o mundo da literatura infantil com a “Avozinha Gângster”, entrando directamente para o primeiro lugar de vendas do top britânico. Comparado a Roald Dahl, David Williams tem somado êxitos e vindo a ganhar uma voz própria e emblemática, que chega finalmente aos leitores portugueses.

O livro desafia-nos a procurar o diamante que nele vem escondido, como oferta. Na verdade, é bem fácil de encontrar. Ou então não, caso falemos do brilho que tem pequenos pedaços do texto como este: «Ben abraçou a avó com toda a força que tinha, como que esperando que o corpo dele conseguisse partilhar alguma vida com ela.»