Cumpriu pena de prisão, esteve agarrado às drogas e arranjou forma de declarar falência, tudo isto antes de completar 20 anos de idade. Não falamos aqui de uma qualquer personagem arrancada a um guião de cinema, ou sequer às páginas da melhor literatura negra, antes de Micah P. Hinson, nascido em Memphis, Tennessee, um dos muitos corações cristãos fundamentalistas da América.
Com uma mãozinha dos texanos The Earlies, Micah gravou o seu primeiro longa-duração em 2003, intitulado “Micah P. Hinson & The Gospel of Progress”, lançado dois anos depois pela Sketchbook Records.
2006 seria um ano de grandes colheitas, com a gravação de dois discos na Jade Tree – “Baby & the Satellite” e “Micah P. Hinson & The Opera Circuit” – e de um EP intitulado “Lights from the Wheelhouse” – de um paralelo e mais experimental projecto seu chamado The Late Cord.
A vida de saltimbanco discográfico manteve-se fervilhante. Já na britânica Full Time Hobby lançou, em 2008, “Micah P. Hinson & The Red Empire Orchestra” e, no ano seguinte, “All Dressed Up & Smelling of Strangers”, composto exclusivamente por covers. “Micah P. Hinson & The Pioneer Saboteurs”, o quarto disco de originais, chegaria em 2010.
Em 2011 esteve envolvido num acidente de carro quase fatal, que obrigou a uma convalescença onde aproveitou para ouvir algumas demos recentes, um processo de reparação que deu origem a “Micah P. Hinson & the Nothing”, uma colecção de canções habitadas pelo negrume e que revelavam muito da sua esfera pessoal. Seguiram-se alguns anos de silêncio, interrompidos apenas com a edição de “Broken Arrows”, disco que gravou com o amigo e colaborador de longa data Nicholas T. Phelps.
Já este ano fomos surpreendidos com a edição de “Micah P. Hinson Presents The Holy Strangers”, uma belíssima rodela que, nas palavras de Micah, será qualquer coisa como uma ópera folk moderna, que conta a história de uma família em tempo de guerra.
O processo criativo, entre ensaios, gravações e últimos retoques, levou dois anos, tempo em que Micah utilizou velhas bobines de fita, teclados analógicos, e velhas mesas de mistura Tascam e Yamaha, tendo apenas recorrido à tecnologia actual no processo de masterização.
Dia 14 de Novembro, numa parceria entre o Musicbox e a Pinuts – promotora que tem levado o lema “pequenina mas rabina” à Quinta Dimensão -, Micah P. Hinson estará no Musicbox para nos tocar com as suas canções sobre o amor, a perda e o arrependimento. E, mesmo que a escolha do local possa ter sido um tiro ao lado, trata-se de um daqueles concertos imperdíveis. Os bilhetes – cada um vale 13 euros – já estão à venda nos locais habituais.
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