Reza a lenda que Alisson Mosshart e Jamie Hince – os The Kills – se conheceram quando eram vizinhos em Londres, no virar do milénio; ela ouviu-o a tocar guitarra no andar de cima, juntou-se a ele para uma noite de copos e a química foi instantânea. Juntos começaram a criar excitantes peças de blues rock sujo, declaradamente lo-fi, espontâneas e carregadas de atitude.
Após o primeiro concerto como banda, no 12 Bar de Londres, Allison tatuou a data (14 de fevereiro de 2002) na mão esquerda, e o compromisso dos The Kills ficou selado. Souberam imediatamente que o que tinham era algo raro. Esses primeiros concertos eram intensos, autênticas tempestades de electricidade onde a voz sensual e perigosa de Allison fazia o contraponto perfeito à guitarra áspera de Jamie.
O mau-feitio cool de músicas como “Fuck The People” e “Cat Claw” rapidamente os elevou ao estrelato indie. Na primavera de 2003 veio a lume o álbum de estreia, “Keep on Your Mean Side”, passado à fita em apenas duas semanas. Musicalmente, cristalizou o estilo instintivo e minimal da banda: a voz dela, a guitarra dele e uma caixa de ritmos, mais nada.
Para além de soarem bem, os Kills ainda tinham pinta de modelos; desde sempre estiveram ligados ao mundo da moda – Jamie foi casado 5 anos com a modelo Kate Moss, e o designer Hedi Slimane colabora regularmente com a banda.
Ao longo da carreira, o duo apurou o som ríspido e pedregoso, acrescentando à receita batidas electrónicas e refrões a puxar à esfera da pop – editaram mais três álbuns de originais até 2011 (“No Wow”, “Midnight Boom” e “Blood Pressures”). Entretanto a irrequieta Allison Mosshart ainda formou com o seu amigo Jack White os geniais Dead Weather, com os quais editou até agora três álbuns (o mais recente, “Dodge and Burn”, aterrou em muitas listas de melhores discos de 2015).
Ainda em 2013, quando os Kills começavam a trabalhar no quinto disco, Jamie entalou brutalmente a mão esquerda na porta de um carro. No rescaldo de seis operações e um transplante de tendão, teve de reaprender a tocar guitarra com um dedo médio que não se dobrava. Haverá algo mais rock n’ roll que ter o dedo médio sempre em riste?
O percalço fez com que Jamie se virasse para sintetizadores e teclados, que podia tocar só com uma mão – “Pensei que se calhar já não conseguiria ser guitarrista”, explica. “Alterou completamente a maneira como eu compunha. Nós juntávamo-nos e as demos da Allison eram feitas com guitarra acústica, como eu costumava fazê-las, enquanto as minhas tinham toda a espécie de cenas electrónicas”.
“Ash & Ice”, o mais recente álbum de originais, traz inscrita no ADN esta união entre guitarras e electrónica. Ainda assim continua a soar confortavelmente a Kills – desde os riffs sincopados da fantástica “Doing it to Death” até à pulsação vibrante de “Hard Habit to Break”, passando pela simplicidade acústica de “Echo Home”. O disco revela uma banda coesa, confortável na sua pele – uma faiscante e bem oleada máquina de rock n’roll, acelerando no asfalto quente.
Ainda fresca na memória está a passagem triunfante dos The Kills pelo Coliseu, em Novembro do ano passado. Estarão de volta este ano para abrilhantar o cartaz do NOS Alive – tocam a 7 de Julho, no palco NOS.
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