Em 2008, os Spiritualized lançaram “Songs In A&E”, disco inspirado na experiência quase terminal de Jason Pierce que, três anos antes, havia sido hospitalizado com uma dupla pneumonia, os pulmões cheios de líquido e um coração que, pelo meio, parou por duas vezes.
Os leirienses First Breath After Coma não tiveram de passaram por qualquer experiência terminal mas, no que toca à sua música, esta poderia bem ilustrar um documentário sobre o parto, o acordar de uma operação complicada ou a saída triunfal de um coma que se julgava permanente.
“Drifter“, disco que sucede a “The Misadventures Of Anthony Knivet” e que chega com o selo da Omnichord Records, tem uma costela arrancada à pop escandinava, trocando os icebergues por um quarto com vista para o Atlântico e o sol à espreita. E, pode acrescentar-se, um rim subtraído aos Foals na sua fase mais tardia, em que estes trocaram o ska e o rock mais picante por um som estereofónico e orquestral. E, claro, há também os Explosions In The Sky, banda à qual a banda pilhou o nome e já havia declarado amor incondicional.
Porém, apesar das influências que julgamos ouvir ao atravessar “Drifter” de uma ponta à outra, fica a ideia de um som com assinatura, feito de avanços e recuos, de crescendos que vão da timidez ao big bang.
A voz, muitas vezes a maior dor de cabeça no que toca a muito boa – e sobretudo má – banda, é nos First Breath After Coma um dos seus pontos altos, assumida aqui por Roberto Caetano. Assim como o são as guitarras aquáticas, uma secção rítmica que parece namorar há largos anos e os sopros ocasionais que chegam para adensar o estado de levitação. Um dos grandes discos nacionais de 2016.
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