Pouco mais de 30 anos depois do primeiro registo, este é o quarto disco após a reunião da banda – em 2007 – com a formação original. Ícone vivo do pós-grunge e do rock underground norte americano, os Dinosaur Jr. foram mantendo intacta uma matriz que deriva desse estilo musical, ainda que em 2006 fosse difícil acreditar num regresso revigorado destes veteranos do rock.
É relevante referir que “Give a glimpse of what yer not” (Jagjaguwar, 2016) não é um corte abrupto com o passado da banda, e aqueles que esperavam uma sonoridade diferente do seu historial produtivo irão ficar decepcionados. Há, inclusivamente, um esforço no sentido de manter constante, ao longo das onze faixas deste novo registo, a sonoridade que a sua história discográfica carrega.
Mascis continua a ser o centro da criatividade da banda e a sua presença acaba por abraçar as canções de Dinosaur Jr na totalidade. Os seus riffs, que ganham na luta contra uma bateria coerentemente descontrolada, continuam iguais a si mesmos conforme se pode constatar em temas como Tiny ou Good to know.
Reminiscências de um grunge mal resolvido são permanentes e a maioria das faixas tem num solo de Mascis o ponto de êxtase numa sequência sonora que se perde em si mesma e posteriormente volta ao auge, regressando finalmente ao ponto inicial. A censura poderá no entanto estar presente. Há o risco de notar que este registo discográfico é “apenas” mais do mesmo. Pode classificar-se este novo trabalho como uma oscilação entre o folk barulhento, sobretudo nas faixas a cargo de Lou Barlow (em especial Love is…), e o “quase” punk rock, onde se destaca a faixa inicial Going Down.
Lou Barlow, braço direito de J Mascis na banda, teve períodos de entrada e saída, mas o apaziguamento nesta época é evidente. Foi precisamente a cedência ao espaço criativo da composição a Barlow que tornou “Give a glimpse of what yer not” num dos melhores registos dos Dinosaur Jr. A intervenção do baixista é o toque de Midas que confere uma genuinidade à existência do conjunto, oferecendo uma consistência que o isolamento de Mascis não conseguiu alcançar.
Talvez já não nos surpreendam, até porque os próprios Dinosaur Jr. já não se devem surpreender a si mesmos. Trata-se, aqui, da celebração do ruído pelo ruído. “Give a glimpse of what yer not” não os tornará numa banda de culto para quem não os conhecia até agora, mas certamente não irá desiludir os fiéis seguidores de uma das bandas mais respeitadas do panorama do rock alternativo.
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