Na segunda metade dos anos 80, os soundsystems estavam muito presentes na paisagem musical britânica. Estes colectivos de músicos e DJ’s, de inspiração caribenha e jamaicana, apelavam a uma juventude urbana e multicultural, que não se revia nos discos de Queen ou Rod Stewart.
Um desses colectivos musicais começou a dar que falar nas raves e discotecas de Bristol. Chamava-se The Wild Bunch, e misturava nos seus sets uma variedade de estilos, misturando punk com soul e reggae, algo pouco usual na altura. Foi das suas fileiras que saíram os membros fundadores dos Massive Atack, formados em 1987 por Robert “3D” Del Naja, Mushroom e Daddy G.
A banda optou por abrandar as rotações frenéticas do drum and bass, muito em voga no início dos anos 90 – idealizaram, antes, uma abordagem mais lenta e obscura à cultura hip-hop e reggae. Ao mesmo tempo, integravam inúmeras vozes convidadas, desde o soul de Shara Nelson à voz distinta de Horace Andy, do sussurro de Martina Topley-Bird à musa dos Cocteau Twins, Elizabeth Frasier. Já para não falar das diatribes asmáticas e sufocantes de Tricky. O trip-hop nasceu neste laboratório sonoro.
Os Massive Attack editaram não um mas três álbuns geniais na década de 90. “Blue Lines”, “Protection” e “Mezzanine” foram de tal forma influentes que inspiraram, até hoje, incontáveis imitadores.
Com o virar do milénio, o colectivo passou por alguns maus bocados – o trip-hop perdeu a vitalidade e tornou-se uma caricatura de si próprio e, um dos elementos fundadores – Mushroom -, deixou a banda, por não se rever na sonoridade mais negra e opressiva do álbum “Mezzanine”.
No comando das operações ficou Del Naja, e o som tornou-se cada vez mais sinistro e claustrofóbico – veja-se “100th Window”, álbum de 2003, composto quase exclusivamente pela mente retorcida deste.
Seguiram-se alguns anos de acalmia, em que o nome Massive Atack apareceu ligado a bandas sonoras e a uma colectânea de êxitos, com a qual fizeram uma digressão. Só em 2010 haveria novo álbum de originais assinado pelo duo 3D e Daddy G: o disco chamava-se “Heligoland”, precedido pelo EP “Splitting the Atom”. Como sempre, rodearam-se de convidados de luxo: Damon Albarn dos Blur, Tunde Adebimpe dos Tv On The Radio, Hope Sandoval dos Mazzy Star, entre outros.
Chegados a 2016, põe-se agora a questão: será possível a uma banda com mais de vinte e cinco anos voltar às glórias passadas? É um desejo não muito realista, mais por força das inevitáveis mudanças culturais do que por demérito próprio. No entanto, o EP editado este ano, “Ritual Spirit”, mantém viva a esperança – as quatro músicas são Massive Attack vintage, nocturnas, densas e atmosféricas. Neste EP participa também Tricky, em grande forma no tema “Take It There”. No seguimento de “Ritual Spirit” anuncia-se para breve um LP, que promete ser (mais) um tiro certeiro.
Os Massive Attack apresentam-se no Super Bock Super Rock com a ajuda do colectivo escocês Young Fathers, que 3D apelidou recentemente como “a melhor banda do mundo neste momento”.
O trio de Edimburgo editou, em 2015, “White Men Are Black Men Too”, disco onde cabem influências tão diversas como os TV On The Radio, Arcade Fire e Curtis Mayfield. Como escreveu a revista Exclaim, os Young Fathers são “uma tempestade perfeita de influências e talento”. Com a reputação de serem ferozes em palco, vão certamente deslumbrar a plateia com a sua sonoridade enérgica e enxuta.
Massive Attack e Young Fathers actuam no dia 15 de Julho, no palco Super Bock.
Super Bock Super Rock 2016
14 a 16 Julho
Parque das Nações, Lisboa
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