Quem procura estar atento à música actual, mais cedo ou mais tarde vai dar a Kendrick Lamar. O aclamado rapper cresceu em Compton, Los Angeles, no seio de uma cultura de gangues e violência – testemunhou o seu primeiro homicídio com 5 anos -, mas a música iria encaminhá-lo para um percurso diferente.
Observador e perspicaz, desde criança que gostava de escrever. Na adolescência começou a transformar as histórias em rimas e, depois, em mixtapes de sucesso crescente. O talento de K-Dot – nome que usava na altura – chamou a atenção de Dr. Dre, um dos mais respeitados e influentes produtores de hip-hop americanos. Dre descobriu-o no álbum (exclusivamente digital) “Section 80” e tornar-se-ia um mentor, tanto na música como nos negócios, elevando a carreira do jovem rapper a outras alturas.
Em Outubro de 2012 sai o primeiro álbum a sério, “Good kid, m.A.A.d city”, distribuído pela Interscope. Narrativa autobiográfica, o disco marca uma alteração na persona de Kendrick, de teenager fanfarrão para adulto ponderado, mais espiritual e maduro. Deixa de ser um rapper puro para se afirmar como contador de histórias, retratando o seu passado problemático com observações afiadas.
É um disco subtil e atmosférico, elegantemente produzido, recheado de coros e batidas suaves. Um disco fluido, mais próximo do jazz do que da bazófia gangsta de muitos dos seus pares. O sucesso do disco abriu as portas para uma série de aparições em programas de televisão como o Colbert Report e o Tonight Show, que consolidaram a sua base de fãs e o fizeram aparecer no radar do indie e do rock alternativo.
Em 2015 Kendrick editou a sua (até agora) obra-prima – “To Pimp a Butterfly”. Para este álbum deixou para trás as estruturas tradicionais do hip-hop contemporâneo, abraçando uma mistura cósmica de jazz, soul, funk e spoken word. Musicalmente é um disco denso, visionário e inventivo. Os negros americanos devem elevar-se acima do racismo – é a mensagem dominante. Mas o disco é um enorme e complexo caleidoscópio de ideias. Liricamente é uma reflexão profunda acerca dos problemas da América contemporânea. Não é por acaso que Kendrick se considera, antes de mais, um escritor.
Já em 2016 é editado “Untitled/Unmastered”, que reúne músicas não usadas em “To Pimp a Butterfly”, “sobras“ de estúdio, descartadas por falta de tempo ou espaço. Muitas têm enorme qualidade e não destoariam no álbum anterior, ainda que não tenham o mesmo brilho na produção.
Numa época em que a música é muitas vezes uma mercadoria fugaz, alcatifada, download para consumo rápido, o jovem californiano parece ser uma raridade – um artista honesto e com substância. Vulcão de ideias, com uma consciência social apurada, Kendrick Lamar continua de olhos postos no mundo que o rodeia.
A 16 de Julho teremos oportunidade de presenciar, no palco do Super Bock Super Rock, o talento do jovem rapper que, aos 27 anos, é já um titã do hip-hop mundial.
Super Bock Super Rock 2016
14 a 16 Julho
Parque das Nações, Lisboa
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2 Commentários
Good kid, m.A.A.d city não é o primeiro álbum de Kendrick Lamar.
O texto refere que é o primeiro disco a sério, não o primeiro de Kendrick.