Se hoje andar entre as 40 e as 50 primaveras, o leitor lembrar-se-á, muito provavelmente, de uns pequenos livros rectangulares, religiosamente apontando às 32 páginas, editados pela Difusão Verbo nos idos anos oitenta.
Fala-se aqui das aventuras do ursinho Petzi que, por falta de vestuário ou uma simples opção estética, vestia invariavelmente uma jardineiras vermelhas às bolas brancas, juntando ao visual um gorro azul quando o frio apertava.
Como qualquer herói da pequenada, Petzi fazia-se acompanhar por um grupo de curiosos e divertidos amigos: Pingo, o leal e perspicaz pinguim; Riki, o pelicano cujo bico servia para armazenar os mais incríveis objectos, desde bombons de framboesa a um serviço completo de louça; Almirante, a foca que conhece todos os segredos dos mares mas que, normalmente, prefere passar o tempo a dormir ou a fumar o seu cachimbo – isto nos tempos em que as personagens animadas ainda fumavam.
Criadas pelo casal dinamarquês Vilhelm (1900-1992) – ilustrações – e Carla Hansen (1906-2001) – texto -, as história de Petzi eram sempre acompanhadas por um humor subtil, ao mesmo tempo que transmitiam valores como a amizade, a entreajuda, o trabalho em equipa e, sobretudo, o espírito de aventura.
A primeira tira foi publicada no vespertino Berlingske Aftenavis a 17 de Novembro de 1951, tornando-se rapidamente popular não só pela história como, também, pelo facto de os diálogos serem apresentados em legendas abaixo das ilustrações, em vez dos habituais balões à boa moda da banda desenhada.
Baptizado de Petzi em Portugal, França, Itália e Alemanha, o ursinho chama-se na verdade Rasmus Klump e, na Dinamarca – o seu país de origem -, é considerado um autêntico símbolo nacional, sendo uma das principais atracções do Tivoli – em Copenhaga -, um dos parques de diversões mais antigos e populares do planeta. Em 2001, para assinalar o 50º aniversário da personagem e a sua popularidade no país, foi emitida uma edição comemorativa de quatro selos.
Pois bem, a boa notícia é que as aventuras de Petzi estão de volta às edições nacionais pela mão da Ponto de Fuga, uma nova editora independente que, para lá de reeditar títulos que têm desaparecido das livrarias, assume o objectivo de publicar obras e autores de diferentes géneros – ficção, não ficção, poesia e infanto-juvenil.
A reedição de Petzi começou dose tripla, com os volumes “Petzi constrói um barco”, “Petzi e a baleia” e “Petzi e a mãe peixe”; títulos que, apesar de se poderem ler como história individuais, começam a partir do último quadradinho desenhado na história anterior.
Para além de servir de apresentação de Petzi e amigos, “Petzi constrói um barco” inicia o leitor nas demandas arquitectónicas aceites pelo pequeno urso e companhia que, para construir um barco de dimensões apreciáveis, não precisam de instruções à moda do Ikea. Aliás, é o próprio Petzi que desenha o esboço que os irá ocupar muito atarefados durante as 32 páginas, a partir do momento em que, por puro acaso, encontram abandonada uma roda de leme; “Petzi e a baleia” marca o início de uma volta ao mundo por mar, em que depois de atracarem numa falsa ilha são conduzidos por uma baleia a um mundo desconhecido governado pelo Rei Úrsus; Em “Petzi e a mãe peixe”, depois de se fazerem novamente ao mar, Petzi e amigos dedicam-se a abrir os muitos presentes oferecidos pelo Rei Úrsus, antes de se decidirem por uma nova construção: uma vedação à volta do barco para evitar acidentes. Mesmo imerso em trabalho, Petzi tem tempo para travar amizade com a mãe peixe, oferecendo-lhe um presente de que esta nunca se irá esquecer. Para breve está já agendada a publicação de mais três volumes da colecção: “Petzi desscobre um tesouro”, “Petzi no país do sono” e “Petzi nas pirâmides”.
Quanto a futuros lançamentos, a Ponto de Fuga está a preparar uma nova edição de “Não percas a rosa”, o diário que Natália Correia manteve entre Abril de 1974 e Dezembro de 1975, no qual a escritora disseca as idiossincrasias do processo revolucionário iniciado com o 25 de Abril – a obra foi originalmente publicada em 1978.
Para lá da vertente editorial, a Ponto de Fuga aposta também numa pequena loja instalada na sua sede – Rua de Ponta Delgada, em Lisboa – onde, além dos livros e produtos próprios, disponibiliza discos em vinil e uma selecção de títulos de outros editores, seguindo uma nova e louvada máxima: “não editámos mas gostávamos de ter editado”.
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