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Os melhores livros de 2015: Ficção Estrangeira

Por Pedro Miguel Silva · Em 30/12/2015

Armámo-nos em médicos literários e escolhemos os melhores livros de ficção estrangeira de 2015.
Diga 33.

#33
“J” | Howard Jacobson

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Trata-se de um mundo onde há muita coisa que não é possível fazer, apesar de nada estar oficialmente proibido. Um lugar onde as pessoas pedem desculpa ao mesmo tempo que insistem em que não há nada pelo qual pedir desculpa. E onde, como na alegoria da rã que o livro oferece a certa altura, se deixam cozer lentamente até à morte, ditosamente inconscientes do que se passa e com rodas as articulações descontraídas. “J” (Bertrand) encosta-nos à parede repetindo constantemente a mesma interrogação desafiante – o passado: aprender com ele ou esquecê-lo?
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#32
“O Primeiro Muçulmano – A História de Maomé” | Lesley Hazelton

Capa O Primeiro Muçulmano

Todos conhecemos o seu nome. Maomé, nos tempos que correm, marca presença nos jornais quase diariamente – e não pelas melhores razões. No entanto, a generalidade dos ocidentais pouco sabe sobre este influente vulto da história, criador da religião em maior crescimento na actualidade: o Islão. O que poderá mudar com “O Primeiro Muçulmano – A História de Maomé” (Elsinore) uma narrativa cativante da vida do Profeta que deu origem ao Corão, o livro sagrado dos muçulmanos.
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#31
Trilogia Entre Mundos | Laini Taylor

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Uma trilogia – com edição da Porto Editora – que se centra no conflito entre os conceitos de bem e de mal, de luz e escuridão, num mundo onde a violência só poderá ser combatida através do amor, da esperança e, também, da magia.
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#30
“Comédia em modo menor” | Hans Keilson

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Diz-se que Vila Nova de Mil Fontes é o lugar de Portugal mais mentiroso. Primeiro, não é vila; segundo, não é nova; e, terceiro, está longe de ter mil fontes. “Comédia em modo menor” (Sextante, 2015), livro publicado por Hans Keilson (1909-2011) em 1947, está longe de reunir um triunvirato da mentira mas, desde logo, apresenta um título que mente com os dentes todos. Ao contrário de uma comédia menor, este pequeno-grande livro é, antes, uma tragédia humana de proporções épicas, construída a partir do acaso da guerra.
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#29
“Peregrino” | Terry Hayes

Peregrino

Com muitas voltas e ainda mais reviravoltas, “”Peregrino” é um thriller com uma boa dose de literatura, onde se encontram personagens bem desenhadas, uma acção de amplitude cinematográfica e uma trama que se devora num ápice. E que, como quem não quer a coisa, deixa a porta aberta para uma nova peregrinação. O melhor mesmo é deixar os sapatos de caminhada à mão se semear.
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#28
“Os Pecados do Pai” | Jeffrey Archer

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Como que querendo dizer que isso das trilogias é coisa de meninos, Jeffrey Archer decidiu contar a saga dos Clifton – The Clifton Chronicles no original – em nada mais nada menos que sete volumes, cinco deles já editados fora de portas. Para os leitores portugueses, a publicação desta saga familiar começou no ano passado com o recomendado “Só o Tempo Dirá”, a que se seguiu a recente edição de “Os Pecados do Pai” (Bertrand), o segundo livro que mantém viva a arte de contar histórias do escritor inglês. Ao ler “Os Pecados do Pai”, o leitor sentir-se-á transportado para o mundo das séries de época britânicas, torcendo pelos bons ao mesmo tempo que vai roendo as unhas desejando que os vilões tenham toda a má sorte que merecem. Mora aqui uma telenovela de qualidade, um romance de aventuras em formato HD que oferece ao leitor o puro prazer da leitura.
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#27
“O Passo Constante das Horas” | Justin Go

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Dividindo a narrativa em dois tempos, habilmente deixando o leitor em suspenso sempre que a história salta de 2004 para 1924 num circuito frenético, “O Passo Constante das Horas” (Bertrand) é um livro ambicioso e de leitura compulsiva, que mostra o amor à luz de duas eras diferentes, ao mesmo tempo que retrata a sua intemporalidade. É também um livro sobre a castração social, a crueldade da guerra – há descrições incríveis das trincheiras, das feridas e das várias mortes possíveis -, a ambição e o desejo de glória, a incapacidade de aceitar que a vida também é feita de tempos mortos. E que, no final, obriga o leitor a unir as muitas pontas soltas, fazendo com que existam intermináveis e paralelos desfechos. E, claro, sentimentos muito contraditórios. Uma estreia em grande.
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#26
“O Rouxinol” | Kristin Hannah

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“O Rouxinol “ (Círculo de Leitores) revela-se um romance surpreendente e oportuno. O relato, na primeira pessoa, de angústias e dilemas morais geridos pelas irmãs Rossignol, são o pretexto para revisitarmos França por altura da II Guerra Mundial, percorrendo o período de 1939 a 1945. Neste intervalo temporal a autora guia-nos pela “França livre” e pela “França ocupada”, olhando a desilusão perante a cedência política a pretexto de uma acalmia e pacificação que se verificou ser meramente instrumental (pelo menos para uma das partes do conflito).
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#25
“Eleanor & Park” | Rainbow Rowell

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“Eleanor & Park” (Saída de Emergência), da autoria da norte-americana Rainbow Rowell, está a meio termo entre uma paixão adolescente e um concerto de punk rock, contando uma bela história de amor entre dois seres que, apesar das muitas diferenças que aparentam entre si, partilham uma mesma inadaptação perante o mundo. Pelo meio há muita banda desenhada, conversas sobre super-heróis e uma banda sonora que vai dos Smiths aos Joy Division, naquela que é uma belíssima história de amor que mistura, em medidas iguais, risos e lágrimas.
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#24
“Um Homem Sem Passado” | Peter May

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Com “Um homem Sem Passado”, Peter May continua a ser um dos eleitos da nossa estante. Porque não nos deixa descansados no conforto de uma leitura dirigida à descoberta de um mistério, antes nos dá uns valentes abanões, empurrando-nos para a frente, plantando interrogações daquelas que só em alguns dias nos atrevemos a colocar: Quem somos afinal, se a nossa história anterior não corresponder àquela que nos contaram? E, se o nosso passado for alterado, permanecemos iguais ou mudamos?
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#23
“Objectos Cortantes” | Gillian Flynn

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História sobre a imperfeição humana e o negrume que habita em cada um de nós, “Objectos Cortantes”( Bertrand) revela o desejo assumido que temos de que o mal não nos toque, mas que, esperançosamente, esperamos ver nascer na porta do lado, para que dele possamos falar como se o conhecêssemos desde crianças. Negro, original, desconcertante e aterrador, “Objectos Cortantes” é uma estreia magnífica.
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#22
“Últimos Ritos” | Hannah Kent

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Kent descreve com mestria a luminosidade tenebrosa e os relacionamentos a temperatura negativa da Islândia, país então atravessado pela pobreza e pela inclemência dos elementos naturais, mostrando também, com uma prosa irrepreensível, o papel subalterno e acessório da mulher e o abuso de poder da justiça e da lei que, mais do que apurar a verdade, procurava construir a sua própria visão dos acontecimentos, escudada no medo da pena capital. Dramático sem cair em sentimentalismos extremos ou em lágrimas fáceis, “Últimos Ritos” (Saída de Emergência) é uma estreia brilhante de uma escritora que deverá ser mantida debaixo de olho.
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#21
“Por Fim” | Edward St Aubyn

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Em “Por Fim” (Sextante), cumprindo os ideais de humor negro e de tragédia inevitável colados à personagem central da saga, tudo gira em redor do funeral da mãe de Patrick, que vem cortar o último elo físico a um passado cheio de nódoas negras. E, se não é claro que Patrick consiga encontrar uma forma máxima de redenção, presume-se que tenha descoberto uma centelha de liberdade. O que, para uma personagem que parece ter sido arrancada ao lado negro da força, já não é coisa pouca. Um encerramento triunfal de uma imperdível saga literária.
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#20
“Segredos Obscuros” | Hjort & Rosenfeldt

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Para quem for um habitual e dedicado consumidor de séries televisivas como “CSI” , “Investigação Criminal” ou “A Balada de Hill Street”, o primeiro romance da série Sebastian Bergman será certamente um motivo para oferecer aos amigos uma festa literária. Escrito em parceira pelos suecos Michael Hjorthe Hans Rosenfeldt, “Segredos Obscuros” (Suma de Letras) tem a dinâmica, o ritmo e os (bons) tiques de uma série televisiva que vive do espírito e das rivalidades de uma equipa dedicada a combater o crime, não sendo de espantar que, futuramente, vejamos Bergman e companhia num pequeno ecrã com assinalável regularidade.
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#19
“O Cavaleiro Sueco” | Leo Perutz

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Em “O Cavaleiro Sueco” (Cavalo de Ferro, 2015), Leo Perutz alia elementos do folclore e do género fantástico aos do romance histórico, contando a história deste cavaleiro sueco, fiel ao rei e seguindo o apelo da guerra, numa demanda maior que ele próprio. É também uma história de amor e de desamor, mas igualmente da inevitabilidade da força do destino que, por mais voltas e voltas que se decida dar, voltará mais tarde ou mais cedo ao eixo onde tem necessariamente de girar. No final caberá ao leitor unir as várias pontas soltas, decidindo por si próprio se tudo não terá passado de um sonho. Uma história que navega no território do fantástico e que apresenta alguns apontamentos Borgianos – Jorge Luis Borges que, curiosamente, o chamou de “Kafka aventuroso”.
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#18
“Stone Arabia” | Dana Spiotta

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A primeira coisa a dizer sobre “Stone Arabia” (Quetzal) é que é difícil escrever sobre o mesmo. Pelas melhores razões. Após a leitura da última página fica desde logo a vontade e a  sensação de que será necessário relê-lo, reinterpretá-lo e descobrir algo que, nas entrelinhas, nos escapou. O contexto temporal é curto, mas preenche-nos de forma insofismável, tocando em sensibilidades comuns e jogando com emoções simples num estado de pureza que roça o brutal. Dana Spiotta consegue atingir, de forma primária, o fracasso e a desilusão dos objectivos de vida, perdidos algures entre a realidade e uma ficção paralela.
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#17
“O Jantar” | Herman Koch

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Radiografia do mal à escala pessoal e familiar, “O Jantar” (Alfaguara) surpreende o leitor pela forma como revoluciona a ética e a moral das personagens, que, um pouco ao estilo das Crónicas do Gelo e do Fogo de George R. R. Martin, nos farão olhá-las de ângulos diferentes à medida que os pratos vão sendo levantados. E que deixa, entre muitas outras, uma questão deveras – e sempre – pertinente: qual a dívida que os pais têm em relação aos filhos, e quanto do carácter destes é herdado dos pais? Um livro imperdível que nos mostra um mundo feito de aparências que, ao mínimo suspiro, cai como um castelo de cartas. Pelo menos para alguns.
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#16
“Oblomov” | Gontcharov

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“Oblomov” é um jovem e generoso nobre incapaz de tomar decisões importantes ou de empreender quaisquer acções significativas. Ao longo da história passa a maior parte do tempo na cama ou no sofá, parecendo ser a última encarnação do homem supérfluo – e uma crítica à nobreza russa da época. Mais uma belíssima edição da Tinta da China.

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#15
“O Enigma da Chegada” | V.S. Naipaul

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“O Enigma da Chegada” (Quetzal) representa a viagem de um autor de Trindade para Inglaterra, numa missão de auto-conhecimento e a convivência com um novo estado de espirito. É, também, a combinação da angústia colonial com a dos pensamentos íntimos, de um escritor que nos transmite a ausência do sentimento de pertença.
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#14
“Toda A Luz Que Não Podemos Ver” | Anthony Doerr

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“Toda A Luz Que Não Podemos Ver” (Editorial Presença) é um livro com a capacidade de tirar o fôlego e oferecer a serenidade ao leitor, numa mistura de características tão distintas que permanecem até à última página. Percorridos tantos caminhos, histórias, pormenores e mesmo desafios, nada fica por contar. Nenhum território fica por explorar, apesar da complexidade das narrativas colocadas por Anthony Doerr ao longo da obra. Cada um tem o seu destino traçado, cada passagem temporal esclarece a anterior e a seguinte. Em momentos de grande destruição há sempre uma luz. Um tipo de esperança que dá vida e queima, deixando marcas difíceis de sarar.
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#13
“Só o tempo dirá” | Jeffrey Archer

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Jeffrey Archer é, de todo o planeta literário, um dos escritores mais bem-sucedidos, ultrapassando a marca de 250 milhões de exemplares vendidos em 97 países e publicados em 37 idiomas. Normalmente, neste e noutros meios, a qualidade literária não anda necessariamente de braço dado com cifrões ou estatísticas em alta mas, a julgar apenas por “Só o tempo dirá” (Bertrand Editora), temos um (raro) caso em que vendas altas e boa escrita convivem pacatamente debaixo do mesmo tecto. Cruzamento entre a tragédia romântica de “Os Maias” e o espírito de aventura de “Os Três Mosqueteiros” ou “A Ilha do Tesouro”, “Só o tempo dirá” apresenta-nos Jeffrey Archer como um exímio contador de histórias, um criador de personagens e lugares a que conseguimos aceder através de um portal do tempo literário. Temos saga.
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#12
“O Poço da Ascensão” | Brandon Sanderson

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Com muitas reviravoltas e surpresas, “O Poço da Ascensão” é um épico de todo o tamanho que, para além de cimentar Vin como uma das mais interessantes personagens adolescentes – ou lá perto – do domínio da fantasia, nos mostra o mundo das brumas como um reflexo do nosso próprio planeta, construído com base em jogos de poder e alianças por conveniência. Mas, também, com uma boa dose de amor e harmonia.
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#11
“Vai e põe uma sentinela” | Harper Lee

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Em Fevereiro deste ano, o mundo literário parou e susteve a respiração. O advogado de Lee – agora com 88 anos – fazia uma declaração confirmando a publicação de um novo romance intitulado “Go Set a Watchman” – que, na edição portuguesa, recebeu o título de “Vai e põe uma sentinela” (Editorial Presença) – a partir do romance manuscrito que desde então se encontrava perdido. Escrito em meados dos anos 1950, o livro serviu de primeiro rascunho a “Matar Uma Cotovia”, acabando de ser publicado em Julho de 2015 – a edição portuguesa chega às livrarias a 21 deste mês. A pergunta que se poderá colocar é esta: será isto motivo para tanto alarido? A resposta é curta e tem três letras: sim.
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#10
“O Gigante Enterrado” | Kazuo Ishiguro

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Mais do que um romance, “O Gigante Enterrado” (Gradiva) é servido ao leitor como um enigma, criado algures entre o empolgamento e a comoção, entre a tragédia Shakespeariana e a demanda à moda de Tolkien, e que acaba por cumprir com distinção os desígnios do escritor japonês: permanecer na memória do leitor após este ter percorrido um caminho similar ao do Rei Artur ou ao de Frodo. É que, por muito que a memória colectiva possa parecer uma clara benção, há sempre um ser singular que exige ser descoberto. Uma verdadeira epifania literária.
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#9
“A Balada de Adam Henry” | Ian McEwan

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Há escritores que gravam, no papel, palavras que cortam como facas afiadas, numa linguagem que, ao invés do excedentário ou do ornamental, aponta antes a uma simplicidade poética que põe a cru as emoções humanas mais primárias. Um dos maiores artífices desta escrita em carne viva dá pelo nome deIan McEwan, escritor com já uma dúzia de romances onde a melancolia e o irreparável estão, quase sempre, presentes. É o caso de “A Balada de Adam Henry” (Gradiva), o seu último romance que, em menos de duzentas páginas, consegue deixar o leitor a fazer um exercício de revisão existencial a grande profundidade.
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#8
“Purity” | Jonathan Franzen

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“Purity” (Dom Quixote) vem contribuir para consolidar Franzen como um verdadeiro escritor de culto que, com uma linguagem avessa a grandes artifícios ou manias, consegue penetrar por baixo da pele do leitor, apresentando-o a personagens que poderiam bem morar na sua rua, trabalhar a seu lado ou, até, estar defronte do espelho no qual diariamente vão dando conta da passagem do tempo. Ao viajar entre o passado e o presente de todas estas personagens, Franzen apresenta-nos a um mundo – o nosso mundo – feito de imagens e de aparências, onde cada um parece estar a desempenhar um papel que os outros imaginaram para si e onde, a individualidade, parece estar condenada. Um mundo constantemente vigiado pela Internet – há algures uma fantástica analogia entre esta e as ditaduras comunistas -, pelos telefones, pelas polícias secretas que, em cada momento da história, tratam de registar – e se possível eliminar – todos os desvios à abençoada normalidade. Ainda assim, mesmo sem lugar para a pureza, haverá sempre razões para tentarmos fazer melhor do que os nossos pais. Ou, pelo menos, para conseguirmos falhar melhor.
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#7
“A Zona de Interesse” | Martin Amis

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Demoramos a conjugar o estado de espírito necessário para a leitura de “A Zona de Interesse” (Quetzal, 2015), livro de Martin Amis, talvez porque as narrativas se tornam tão reais ou apenas porque vamos sendo subjugados perante tamanha indiferença pela vida humana e pela visão pessoal de cada um dos narradores: um oficial e um comandante do campo de concentração, em oposição ao judeu Szmul. Difícil é ficar indiferente perante a sublime tragédia maior e todas as experiências “menores” que ali foram vivenciadas. Quem ler «A Zona de Interesse» vai experimentar uma porção ínfima, uma centelha de realidade “oferecida” pela ficção satírica do autor.
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“A Zona de Interesse” | Martin Amis

#6
“O Astrágalo” | Albertine Sarrazin

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Se começássemos por apresentar pré-requisitos para se desfrutar da leitura de “O Astrágalo” (Antígona), bastariam dois: estar disponível para desconstruir (a realidade arrumadinha e formatada tal como a maioria de nós a concebe) e ser capaz de aceitar (o imprevisto, o impensável, e saboreá-lo). Para Albertine Sarrazin – e para Patti Smith que, no Prefácio, a transforma em sua “irmã virtual” -, devemos envergonharmo-nos da letargia das nossas conquistas e saborear o risco e o imprevisto. Entre muitos possíveis, um dos ganhos deste livro é transformar a maneira de pensar a vida, a liberdade e o convencional. Uma dádiva ampliada pela efemeridade da vida da autora (1937-1967).
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“O Astrágalo” | Albertine Sarrazin

#5
“Até que a morte nos una” | Jonathan Tropper

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Num estilo sarcástico e irónico, “Até que a morte nos una” (Suma de Letras) revela como podem ser perturbantes as ligações entre membros da mesma família, ou como, de forma mais ou menos difícil, alguém que bate no fundo pode reerguer-se e reconstruir a vida a partir de níveis próximos do zero. O humor e o amor com que o autor nos conduz, até final, dão-nos a mão, não a largando até à última linha.
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“Até que a morte nos una” | Jonathan Tropper

#4
“A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te” | Rosa Montero

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Um extraordinário livro que nasce no seguimento de um imenso turbilhão emocional para Rosa Montero que perdeu o marido e deixou envolver-se nas memórias registadas por Marie Curie no seu diário. Aconselhável ao ser e sujeito humano, “A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te” (Porto Editora) é um potente tour de force, um testemunho em busca da redenção, uma revelação cruel daquilo que a realidade alheia, e própria, pode ser. O outro lado de Curie, o seu universo pessoal, é aqui revelado. O sucesso enquanto mulher da Ciência “escondia” um desequilíbrio emocional adensado no dia em que o seu marido não mais regressaria, da ânsia provocada pelo desespero de não mais (re)ver quem se ama.
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“A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te” | Rosa Montero

#3
“Cifra” | Mai Jia

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Se gostam de livros atravessados por narradores sombrios, caminhos incertos e que se movem entre as areias movediças do thriller de espionagem, do falso romance histórico e do policial feito de (muitas) peças soltas, “Cifra” (Quetzal), do autor chinês Mai Jia – que no BI assina como Jiang Benhu -, é um verdadeiro achado. O narrador conta a história a partir de transcrições de entrevistas e documentos desclassificados, num livro que balança entre a esquizofrenia Kafkiana e a dedicação de artífice de Borges, conduzindo-nos numa viagem pela cultura chinesa – seja ela feita de iguarias gastronómicas, músicas escolares de Mao ou uma crença inabalável nos sonhos – e minando, em jeito de despedida e de forma muito subtil, um Estado repressivo e castrador da liberdade individual. Uma leitura fascinante, num livro repleto de grandes personagens e habitado por uma imensa tristeza.
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“Cifra” | Mai Jia

#2
“Arranha-Céus” | J.G. Ballard

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Um monumento. Podíamos terminar por aqui, mas talvez fosse caso de exagero, ao jeito de um elogio fúnebre, o tipo de culto que só aos autores mortos se presta. Se nos despachássemos em apenas três linhas, era para o lado que o falecido J.G. Ballard dormia melhor. Seria, contudo, injusto para o legado do autor e o trabalho exemplar de Marta Mendonça, Rute Mota e a Elsinore, respectivamente tradutoras e chancela da editora 20/20, não descurando, também, uma merecida menção ao trabalho gráfico de Lorde Mantraste. São os responsáveis pela chegada de “Arranha-Céus” (Elsinore) ao ciclo editorial preparando-nos, assim, para a adaptação cinematográfica de Ben Wheatley. Brilha em “Arranha-Céus” o que não está escrito. O mérito da obra tanto é de Ballard, como do convite à reflexão que implica a sua leitura. Haverá leitores defraudados com a obra, em todos os sentidos: por não ser ficção-científica; por não ser congruente o suficiente para ser uma distopia clássica; que é uma mera reinterpretação de “O Senhor das Moscas”; ou até mesmo por Ballard não masturbar o leitor como um Kundera. Posto isto, “Arranha-Céus” está confortavelmente inserido num nicho que a literatura anglófona conhece bem: o ponto de fervura que passeia pela fórmula sem que isso implique um tédio de bocejo escancarado, dando, em simultâneo, pouca margem para subestimar a inteligência do leitor.
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“Arranha-Céus” | J.G. Ballard

#1
“Eu Confesso” | Jaume Cabré

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O que dizer de um livro que tem tudo lá dentro, como se tivesse conseguido condensar, em pouco mais de setecentas páginas, todo o mal que o Homem tem feito durante vários séculos, sem com isso arruinar o prazer da descoberta do leitor? Pelo meio de “Eu Confesso” (Tinta da China) há de tudo um pouco: disputas familiares, negócios de sangue, egoísmo e incompreensão, narcisismo e rejeição, mas também música, literatura e amor, ainda que este último pareça sempre condenado a ser vivido no silêncio ou na já alcançável posteridade. E que guarda como um tesouro um final assombroso, para o qual dificilmente o leitor se conseguirá preparar. Jaume Cabré não escreveu um romance. Escreveu sim uma obra-prima, um daqueles livros indecifráveis que ficarão com o leitor no compartimento secreto da sua biblioteca pessoal, ao qual voltará certamente para mais do que uma releitura. “…Onde tivesse de haver terror, o terror teria de ser infinito. E onde tivesse de haver crueldade, a crueldade teria de ser absoluta, porque era a História que agora tomava a palavra.” Simplesmente magnífico.
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Os melhores de 2015

Pedro Miguel Silva

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3 Commentários

  • Alex comentou: 30/12/2015 at 21:16

    Olá, parabéns pelo trabalho. Uma questão apenas: onde é que está o Stoner? 🙂

    Abraço.

    Resposta
    • Pedro Miguel Silva comentou: 30/12/2015 at 21:24

      Faltarão certamente alguns na lista, mas apenas escolhemos de entre os livros que recebemos para crítica. O “Stoner” não foi um deles…

      Resposta
  • Alexandre comentou: 27/12/2016 at 18:38

    Olá!
    Descobri hoje o seu blog, e gostei muito deste artigo. Baixei algumas amostras para ler no Kindle, e se eu gostar, comprarei a versão completa de alguns. Abraços!

    Resposta
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