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Orfeu Negro: Livros irreverentes para gente que pensa às avessas

Por Andreia Rasga · Em 16/12/2014

A Editora Orfeu Negro saiu do escuro do escritório e foi iluminar olhares curiosos no bairro lisboeta de Campo de Ourique. O Deus Me Livro foi conhecer o espaço e conversou, entre livros, com a editora Carla Oliveira, sobre ilustrações e histórias, autores e vendas, desafios, conquistas e ideias que nascem, simplesmente, ao acordar.

Uma ideia em forma de livraria

Abrir as portas de uma livraria foi uma ideia que nasceu, numa manhã, como acontece com tantos outros sonhos que a editora Carla Oliveira descobre ao acordar. Sem medos. Com expectativa, a Orfeu Negro levou os seus livros para uma loja há muito namorada e convidou editoras-amigas, em imagem e essência, para encher estantes e compor a montra, criando uma livraria cujo defeito é só um: fecha já a 27 de dezembro.

Depois de meses e meses a amadurecer uma vontade, Carla Oliveira encontrou na loja que a cativava, na Rua Saraiva de Carvalho, o cenário perfeito para concretizar uma ideia: «um espaço de exposição e de venda, não só dos nossos livros mas de outras editoras simpáticas,  que é também um espaço de convívio, de aprendizagem, de actividades para as crianças e de trabalho com os próprios livros. Para além disso, o projecto é também uma forma de divulgarmos a nossa marca para crianças. Era uma das ideias subjacentes ao projecto, por isso demos a este espaço o nome de Orfeu Mini Livraria.»

Orfeu Negro, Orfeu Mini

Até ao dia da abertura, a 1 de novembro, a experiência de venda directa ao público resumia-se à Feira do Livro de Lisboa, «um momento um bocadinho diferente. Vendemos só os nossos livros e é um momento breve, apesar de muito importante para o contacto com os leitores. Agora que somos distribuidores da Pato Lógico, este ano a Feira do Livro também se revelou fundamental para perceber como é que os livros deles (porque os nossos já sabemos) se comportam», explica Carla Oliveira.

Desde que a Orfeu Mini Livraria abriu portas, há uma frase que se ouve, por ali, repetidamente, perante uma data de fecho anunciada. Carla Oliveira conta-nos qual é: «a frase que eu mais ouvi desde que abrimos a livraria é: “ah que pena”. Nós também temos pena… mas já assumimos, já fizemos o nosso processo.»

Em três semanas pintaram-se paredes de branco, escolheu-se mobiliário, inventaram-se soluções de decoração e exposição, encomendaram-se os livros e ilustraram-se duas paredes: uma da autoria de Jaime Ferraz e outra de Catarina Sobral.

Enquanto a livraria abre as suas portas e o pinguim gigante convida a entrar, experimenta-se o gostinho do contacto direto com os leitores, enche-se a casa para ler histórias e desvendar tudo o que escondem os livros, convidam-se escritores e ilustradores para partilhar talentos e vive-se a experiência, «uma oportunidade fantástica que está a ser um teste maravilhoso», como resume a editora.

Quando a livraria fechar e a montra escurecer, é tempo de balanços, ponderações e reflexões sobre o futuro: «Estamos a aprender muito, tentando perceber o é que pode acontecer, se é sustentável ter uma livraria só com livros de crianças ou só com determinadas editoras. Depois, a ideia é pararmos um bocadinho, fazermos um balanço, decidir se queremos de facto aventurarmo-nos e ter uma livraria, sermos livreiros para além de editores.»

Entretanto, há que desfrutar da época natalícia, escolhida bem a propósito para a aventura, e da vivência comercial do bairro que sentia falta de uma livraria assim: «Porque em Campo de Ourique, apesar de haver muitas lojas viradas para a criança, são essencialmente de roupa e de brinquedos. Em termos culturais, não só vocacionada para crianças mas também para adultos, há apenas a Casa Fernando Pessoa, e ao sábado contam-se histórias na Livraria Ler. Aqui, temos tido a loja sempre cheia em todas as iniciativas.»

Fora da norma

A Orfeu Negro nasceu em 2007 para editar, essencialmente, ensaios de arte contemporânea. Um ano depois, nascia a colecção Orfeu Mini. Carla Oliveira lembra que «a colecção Orfeu Mini cresceu para além da vertente dos ensaios. Ou seja, o que definiu logo à partida a editora foi a publicação dos ensaios de arte e a minha primeira ideia, para a Orfeu Mini, incidia numa colecção de arte para crianças. Depois, aprofundando o conhecimento do mercado, achei que a colecção iria resultar um pouco estreita e afunilada. Decidi assim criar uma série mais virada para os ilustradores e artistas contemporâneos que estimulasse a criatividade e a parte artística, bem como uma forma de ver o mundo um bocadinho diferente, para as crianças pensarem também às avessas.»

Com este propósito, a Orfeu Mini tem já um catálogo que a identifica enquanto marca. Os livros não são escolhas ao acaso, mas Carla Oliveira afirma: «eu não tenho um foco quando vejo um livro e gosto dele. Vejo o livro, gosto. Os livros aparecem à minha frente e não lhes resisto! Obviamente, neste momento, tenho de fazer equilíbrios entre o que acho que vende ou não vende (e nem sempre tenho razão), embora haja livros que faço só para o catálogo.» Para a editora, os álbuns ilustrados que a Orfeu Mini edita não têm idade, «porque hoje em dia a ilustração não tem idade, cada indivíduo apreende diferentes elementos na sua leitura visual e já se esbateram as categorias.» Carla Oliveira dá até o exemplo do livro “Animalário Universal do Professor Revillod”, contando que «os adultos deliram com o objecto. É o livro que, na maior parte dos casos, os arquitectos e designers adoram.»

Orfeu Negro, Orfeu Mini

Na missão de editar há momentos mais felizes do que outros, ou seja, vendas melhor sucedidas do que outras. Com as apostas que defraudam expetativas, Carla Oliveira diz que «não se deixa de fazer, mas aprende-se a ter mais cuidado com as tiragens.» Quanto às histórias felizes: «“O incrível rapaz que comia livros” foi o nosso segundo livro. Na altura eu não tinha experiência do livro para crianças, do livro ilustrado, e foi impressionante! Vendemos 5000 exemplares da primeira edição, 5000 da segunda e já fizemos 3000 da terceira edição. Continua a vender! É a nossa besta célere…»

Para Carla Oliveira não é fácil definir a editora, mas «primeiro diria que há um grande cuidado com o design gráfico, com os materiais, com a ilustração, é uma imagem muito contemporânea. Por outro lado acho que trabalhamos muito nesse cruzamento entre a ilustração e o design gráfico.»

A editora conta que quando receberam o convite da Casa das Histórias para fazerem o livro “OINC! A História do Príncipe-Porco”, ilustrado por Paula Rego, a própria fundação referiu-se à Orfeu Negro como “irreverente”. A palavra ficou na memória de Carla Oliveira e traduz o espírito do trabalho que desenvolvem: «Há qualquer coisa de desviante relativamente a um estereótipo, à norma, uma vontade de sair da linha.»

O futuro da Orfeu Negro desenha-se em paralelo entre traduções e originais, metade-metade seria «o ideal estratégica e financeiramente. Nós começámos com traduções e só passado algum tempo é que lançámos o livro “Greve”, da Catarina Sobral e o “OINC! A História do Príncipe-Porco”, ilustrado pela Paula Rego e com texto da Isabel Minhós Martins. É engraçado porque só fizemos os primeiros projectos originais quando sentimos que estávamos mesmo prontos para os fazer. Agora sim, queremos desenvolver mais projectos originais, não só com ilustradores portugueses. Mas ainda não estou a conseguir chegar a esse equilíbrio porque o catálogo já está muito cheio para o ano que vem. Cheio de autores estrangeiros, quero eu dizer, apesar de poder revelar que iremos lançar mais um álbum da Catarina Sobral.»

Neste caminho pelos originais há um problema que dificulta logo à partida, como relata a editora: «O que acontece neste momento é que temos ilustradores fabulosos em Portugal, mas não encontro histórias à altura dos ilustradores, dessa mesma qualidade. É a grande dificuldade, porque eu posso facilmente dizer três ilustradores com quem gostaria de trabalhar, mas não tenho textos. Ou tenho de ir buscar histórias que já estão escritas ou são escassas as histórias que encaixam na colecção. Neste momento, o défice é de escritores… surpreendentes, desalinhados, que joguem um bocadinho fora do baralho.» Para 2015, estão já anunciados muitos exemplos dessas apostas fora da norma da Orfeu Negro.

A livraria é mesmo pop-up, em dois meses abre e… fecha. Então, é importante anotar: até 27 de dezembro, visite-a! Entre no número 171 da Rua Saraiva de Carvalho, em Lisboa, todos os dias das 10h00 às 19h30 e escolha prendas de Natal vindas das editoras Orfeu Mini, Pato Lógico, Planeta Tangerina, Bruaá, Margarida Botelho, Kalandraka, Tcharan, Albatroz, Serrote e Gatafunho.  Detenha-se também no cantinho do adulto onde encontra a Orfeu Negro, a Antígona e a Tinta da China.

Ao contrário da livraria, os livros da Orfeu Negro abrem-se para ficar. Assim, no primeiro trimestre do novo ano, espera-se um livro de arquitectura para crianças, um novo livro da Catarina Sobral, mais um título de Jon Klassen, o livro “Hug me”, de Simona Ciraolo, um novo trabalho de Oliver Jeffers ou o livro “Não fiz os trabalhos de casa porque…”, escrito por Davide Cali e ilustrado por Benjamin Chaud, entre muitas e maravilhosas apostas… irreverentes.

Orfeu MiniOrfeu Negro

Andreia Rasga

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