Composta por uma equipa oriunda da Yahoo! e Myspace, a Small Demons de Valla Vakili propôs um conceito vencedor, pelo menos à luz de um teaser viral que rodou inúmeros feeds de Twitter e Facebook.
O Storyverse seria o agregar de uma série de informação relativa a determinado conteúdo dos livros que mais amamos, almejando juntar o agradável ao imprescindível da nossa sociedade – leitura e consumismo. Catalogar-se-ia não só personagens (fictícias ou reais), como também localizações, referências culturais, comida e bebida, gadgets, roupa e tudo mais que fosse passível de inventário, permitindo torná-los em aliciantes consumíveis para os utilizadores.
A empresa prometia, nas entrelinhas, um aproveitar do espírito coleccionista, tão comum a entusiastas inspirados, bem como tornar aceitável o product placement, algo que uma série como Mad Men tem conseguido com sucesso. Chegaram a assinar contractos com grandes empresas editoriais, entre elas a Random House, para proceder à tal recolha intensiva de dados que o Storyverse exigia. Porém, em 2013, quando se apontava para um crescimento, sobretudo após a inclusão de hiperligações para o iTunes e Spotify, a Small Demons enviou um comunicado aos parceiros editoriais, anunciando o seu fim caso não conseguisse um comprador. Apesar de ter amealhado dois milhões de dólares, tais investimentos foram bater às negociações de conteúdos para fortalecer a gulosa base de dados. Segundo a Startups List, o balanço de crescimento está em valor negativo, sendo que a página oficial da empresa não é mais que um fundo branco. Para reforçar o voto ao esquecimento, o feed de Twitter permanece inactivo desde o passado dia 7 de Fevereiro. O universo das histórias é um vácuo.
Existem pontos a abordar além do modelo de negócio, nomeadamente no que diz respeito à utilidade do conteúdo que a Small Demons ofereceria a longo prazo. A intuição acusa quando se reflecte sobre a necessidade de ter catalogado o que comem os personagens de Murakami, com que se embebeda Bukowski (ou se preferirmos, Henry Chinaski), ou que carro conduz o agente secreto de Ian Flemming, um tipo de recolha que foi feito, até agora, sem esforço e por vontade própria dos leitores a que essas singularidades apelavam a consumir. Dando espaço a venerações fúteis, seria dada mais importância a ornamentos literários em detrimento da literatura em si.
Há urgência em encontrar um modelo de negócio sustentável para a literatura, pois cada vez que a tendência e-reading avança com a sentença das publicações em papel, está à espreita a gatunagem pirata que não é estranha à troca de ebooks. O dinheiro, mesmo que os hábitos mudem, terá de vir de algum lado. À primeira vista, o Storyverse seria uma espécie de utopia bibliófila à maneira de Jorge Luís Borges. Porém, mais de perto, é um microcosmos submisso aos enormes custos para sustentá-lo. Implica que, para encontrar dinheiro nos livros, há que explorá-los como uma plataforma de anúncios. A Borges o que é de Borges.
Apesar de tudo apontar para que este não seja o futuro sustentável do negócio dos livros, é importante referir que muito boa literatura tem sobrevivido com parcos meios. Cresce o número de editores que defende que já não há espaço para a qualidade, que o génio literário não é rentável. Muito ingénuos, alguns de nós leitores mais esperançosos, acham que um livro se escreve apenas com lápis sobre papel.
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