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Kalandraka, Margarida Noronha
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Kalandraka: A sonhar com os mais novos desde 2002

Por Pedro Miguel Silva · Em 18/05/2015

Livros para Sonhar. É esta a frase que acompanha, como um lema de vida, os livros da Kalandraka, editora com pronúncia espanhola que chegou a Portugal no ano de 2002, numa altura em que a publicação de livros ilustrados para os mais novos estava muito longe de ser o que é hoje.

O Deus Me Livro esteve à conversa com Margarida Noronha, Directora Editorial da Kalandraka Portugal, onde se falou do que já aconteceu, do que está para vir, da aposta em autores nacionais e, claro, de sonhos.

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A história da Kalandraka em Portugal começa em 2002. Que espaço faltava preencher no mundo editorial?

A Kalandraka Portugal chegou numa altura em que, no país, havia muito pouca tradição no que diz respeito à publicação de álbuns ilustrados, e também desconhecimento de alguns dos seus autores mais emblemáticos, que estavam inéditos no país. A ilustração também não tinha nem o vigor, nem a importância que conhece actualmente em Portugal. Foi com o objectivo de preencher este espaço que nasceram os Livros para Sonhar e que avançámos, logo em 2002, para compra de direitos, mais orientada para a publicação de clássicos contemporâneos – como foi o caso de “A toupeira que queria saber quem lhe fizera aquilo na cabeça” – e para a produção própria, mais orientada para a recuperação e publicação de contos de tradição oral – como “O coelhinho branco”. A escolha deste título, por se tratar de um conto tradicional português, reflectia também já o projecto de multiculturalidade e plurilinguismo muito próprio da Kalandraka, que tinha como intenção dar projecção ao trabalho criativo e artístico de autores nacionais e estrangeiros, mesclando-os, levando histórias e culturas de um país para outro.

Os livros são só para sonhar ou dão ainda para outras coisas?

Os livros são para abrir, tocar, mexer, levar… mas são sobretudo para desfrutar. Funcionam como um canal directo para os corações e mentes das crianças e adultos que, enquanto seres humanos, partilham a mesma necessidade e curiosidade de compreender e de se conhecerem a si próprios e ao mundo.

Dedicam-se aos álbuns ilustrados e são fiéis a alguns autores, publicando vários livros da mesma autoria, casos, por exemplo, de Shaun Tan e Maurice Sendak. É uma estratégia pensada ou puro acaso?

Acima de tudo acreditamos em todos os autores que publicamos, bem como nos seus livros. O facto de publicarmos vários livros da mesma autoria tem a ver com a vontade de que as suas obras, que consideramos fulcrais, cheguem e sejam paulatinamente – uma vez que esse processo se desenrola também ao longo de vários anos – conhecidas pelos nossos leitores. Há casos que advêm da exigência de podermos continuar a assegurar os respetivos direitos autorais, para que seja possível continuar a editá-los em Portugal. Porém, e em primeiro lugar, fazemo-lo sempre porque acreditamos neles.

Há uma preocupação sustentada e premeditada de delinear um catálogo equilibrado em termos de faixas etárias?

Somos claramente uma editora mais vocacionada para o público infanto-juvenil, cujo catálogo se vai edificando nesse sentido. No entanto, não o planeamos a pensar em função de faixas etárias muito concretas, mas sim em função da literatura que podemos e queremos levar até aos nossos leitores.

Parece existir uma marca muito pessoal nas obras da Kalandraka, sente essa assinatura?

Sem dúvida que o facto de privilegiarmos a edição de álbuns ilustrados se tornou uma das nossas imagens de marca. Dentro deste e dos outros géneros pelos quais nos fomos aventurando, o que nos caracteriza, para além obviamente das escolhas dos autores – escritores e ilustradores – do nosso catálogo, é sobretudo a preocupação com o texto, com a sua oralidade e temática, tudo isto a par de um enorme cuidado gráfico. Combater a iliteracia verbal e visual, sensibilizar para a diversidade e fazê-lo com os nossos livros é um desafio constante e, simultaneamente, uma grande responsabilidade.

Sendo uma editora tão premiada e reconhecida, o que significam os prémios na rotina de trabalho diário?

Os prémios constituem sempre uma fonte de alegria pois, para além de serem o fruto do empenho e do esforço de toda uma pequena mas grande equipa, também funcionam como uma alavanca para continuarmos a acreditar e a trabalhar mais e melhor.

A aposta mais parca na produção própria, com autores nacionais, é justificável ou passível de explicação?

Contamos com a colaboração de mais de 10 ilustradores portugueses no nosso catálogo. Com a coleção Treze Luas, publicada sob a chancela da Faktoria K de Livros – criada em 2009 -, temos vindo a editar antologias poéticas que recuperam autores canónicos nacionais, cuja obra, nalguns casos, se encontrava esquecida e mesmo maltratada, como é o caso de Bocage. Mais parca será talvez a presença de escritores portugueses contemporâneos, mas isto deve-se sobretudo à falta de textos que se enquadrem na nossa linha editorial e que respondam às nossas exigências e expectativas em termos de género e de temática. Infelizmente, não somos os únicos editores a referir este facto.

A Kalandraka Portugal faz parte de um grupo internacional com “filiais” em Espanha, Itália,  México e Brasil. Contudo, a independência é total. Que exemplos reais nos pode dar de livros apenas editados ou editáveis em Portugal ou outros que, por alguma razão, foram editados noutros países mas não cá?

Não se trata exatamente de filiais, a Kalandraka é um pequeno grupo editorial que nasceu na Galiza, mas que se foi disseminando por outros países, estabelecendo-se, em cada um deles, como uma editora nacional, atenta às respetivas realidades culturais, embora abraçando um projecto comum. Esta situação, que é muito invulgar dentro do panorama do mercado editorial internacional, e que gera por vezes também alguns equívocos, permite-nos actuar de maneiras muito diferentes, quer em grupo, quer isoladamente. No que a este último diz respeito, a Kalandraka Portugal tem publicado as obras de Eric Carle, Shaun Tan, Jimmy Liao ou Istvan Banyai, que, em Espanha ou em Itália, são de outras editoras. O inverso também acontece e não pudemos, por exemplo publicar, o “Lágrimas de crocodilo”, que aqui é da Bruaá e que em Espanha é da Kalandraka.

Que balanço faz de 2014 em termos de vendas, de apostas ganhas e de outras menos conseguidas?

Uma aposta ganha foi sem dúvida a publicação da colecção dos «Inventários Ilustrados», mas também de «Desencontros», o primeiro livro de Jimmy Liao publicado em Portugal. Por outro lado, infelizmente, o «Na cozinha da noite» de Maurice Sendak veio confirmar o que aconteceu inicialmente, em 2009, com o «Onde vivem os monstros», revelando um fraco índice de vendas. Se actualmente o «Onde vivem os monstros» vende um pouco mais, mas nada de muito significativo para um título tão consagrado, esperamos, ainda assim, que o mesmo venha a acontecer com o segundo volume desta famosa “loose trilogy”.

Uma das autoras que têm editado recentemente é Adela Turin. Sentiram que seria o momento de trazer, para a literatura infantil editada em Portugal, temas como o sexismo ou a desigualdade de género?

Na verdade não se trata de um tema novo no catálogo da Kalandraka. Em 2006, por exemplo, já tínhamos publicado «O livro dos Porquinhos», de Anthony Browne, que  abordava estas questões. No caso da Adela Turin houve a possibilidade de editarmos a coleção “Dalla parte delle bambine”, que ela concebeu com Nella Bosnia e que estava mais especificamente orientada para a co-educação e para a igualdade, e fizemo-lo. Mais do que um momento que tenhamos sentido como certo ou não, o que sempre nos pareceu pertinente, ao publicarmos estes livros e esta colecção – que já tem mais de trinta anos -, é que todos eles continuam ainda hoje a ser necessários.

Kalandraka, Margarida Noronha

Para que um livro originalmente concebido numa língua estrangeira seja adaptado para Português é fundamental a preocupação com a tradução. Que cuidados têm a esse nível, e onde começa e acaba a liberdade na tradução/adaptação?

Nos livros que traduzimos a nossa preocupação maior tem sempre a ver com o respeito e com a fidelidade aos textos originais. Porém, se o tradutor é aquele que traz, ele é também aquele que pode, por vezes, ‘trair’ o texto, no bom sentido, o que acontece, por exemplo, numa adaptação, quando há que manter a sonoridade ou a rima do original, mas por vezes também o seu grafismo. «Os bolsos de Marta», de Quentin Blake, intitulava-se «Angelica Sprocket’s Pockets». Aqui, para além da óbvia dificuldade em traduzir literalmente o título, verificava-se ainda que o nome da personagem centralizava todo o texto do álbum. Desta forma, o tradutor focou-se na escolha do nome da personagem, que passou a ser Marta, uma vez este que permitia um bom jogo rimático ao longo da narrativa. Tudo isto para dizer que cada escolha pressupõe uma grande responsabilidade e que, cada liberdade, é sempre muito pensada e discutida entre os nossos tradutores e revisores.

O grafismo é uma grande preocupação para a Kalandraka? 

Sendo que uma boa parte dos nossos livros se destina ao público infantil, uma das nossas preocupações a nível gráfico é, por exemplo, o cuidado na escolha de fontes que facilitem a leitura, mais do que a sua estética propriamente dita. A colocação do texto na página e a sua relação com as ilustrações, para que ambas respirem e assumam as suas funções, é também um dos elementos gráficos em que nos detemos e pensamos.

Mantêm uma grande preocupação com a aproximação às escolas.  O que levam e o que trazem dessas visitas e que receptividade sentem na comunidade docente em relação aos vossos livros?

Dentro das actividades que vamos, pontualmente, desenvolvendo com as escolas, mas também com as bibliotecas, e que passam por sessões de leitura, pequenos ateliês, exposições de ilustrações dos nossos livros, esperamos sempre deixar raízes, ou seja, criar futuros leitores. Também aprendemos e descobrimos muito mais do que aquilo que trazemos. As crianças são leitores muito especiais e são elas que nos dão pistas de trabalho e nos gratificam com risos e apartes por vezes bem inesperados!

2015 para a Kalandraka será o ano de/para…

… finalmente Sendak! Anunciámo-lo o ano passado, publicámos o «Na cozinha da noite» mas, por motivos que nos foram alheios, não pudemos concretizar o que tínhamos planeado. Este ano conseguiremos por fim fazê-lo com a publicação de mais alguns dos seus livros. Porém, o nosso ano não será apenas deste aclamado autor, uma vez que estamos a trabalhar num novo projecto cujas linhas editoriais ainda estamos a costurar e que não podemos revelar!

Pedro Miguel Silva

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