Usando uma expressão muito dada ao mundo do futebol, pode dizer-se que a Antígona entrou com tudo nesta rentrée, mesmo que o desporto-rei não faça parte do plano editorial.
No campo da ficção destaca-se o lançamento de “O Astrágalo” (em Setembro), de Albertine Sarrazin (na foto acima)– com prefácio de Patti Smith e já adaptado por duas vezes ao grande ecrã -, um romance semi-autobiográfico e a derradeira dádiva que Albertine Sarrazin – uma irmã gémea de Genet, pela sua insubmissão e pela elegância poética das suas páginas – confia ao leitor: a denúncia das prisões quotidianas, celas cujas grades são a falsidade e a hipocrisia
Em Outubro chega às livrarias “A Estação da Sombra”, de Léonora Miano,um exercício de restituição da humanidade que mergulha o leitor no medo e na angústia de uma tribo africana que se confronta, pela primeira vez, com o tráfico negreiro e com o rapto dos seus jovens durante um misterioso incêndio. Pela sua escrita poderosa e impregnada de misticismo, Léonora Miano, nascida em 1973 nos Camarões e a viver em França desde 1991, e considerada uma das vozes francófonas mais intensas da sua geração.
Também em Outubro chega mais uma distopia, uma praia bem conhecida para os frequentadores assíduos da Antígona.“Kallocaína” (em Outubro), de Karin Boye, é um romance distópico que se insere na linha de Nós, de Zamiatine, e de Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Precedendo 1984, de George Orwell, foi inspirado pelo apogeu do nacional-socialismo na Alemanha. Um romance opressivo que concebe a ditadura como censura de consciências e que se revela clarividente no que toca ao controlo de massas. Poeta consumada e pacifista, Karin Boye (1900-1941) é um dos vultos mais destacados na literatura sueca do século xx. Publicou várias antologias poéticas, entre as quais Moln (Nuvens, 1922) e Gömda land (Terras Ocultas, 1924), e contou-se entre os fundadores do jornal de vanguarda Spektrum, que apresentou T. S. Eliot e autores surrealistas aos leitores suecos. Membro do movimento artístico e cultural Clarté, de pendor socialista e antifascista, viajou pela Europa e visitou a União Soviética de Estaline e a Alemanha nazi de Hitler, facto que influenciaria claramente a escrita de Kallocaína. Suicidou-se em 1941.
No campo da não-ficção ficam três propostas: “Os Empregados”, um ensaio-reportagem de Siegfried Kracauer publicado em 1929, que sonda a vida quotidiana e a importância política de um novo tipo social no início do século XX: os empregados. Com uma obstinada ironia, o autor descreve um mundo que escamoteia a sua degradação, e antecipa, nas entrelinhas, o papel desta nova classe média, anestesiada e iludida, na ascensão do nazismo; “O Universo Concentracionário”, um ensaio da autoria de David Rousset, um dos primeiros deportados a descrever os mecanismos e a lógica dos campos de concentração, que o nazismo levou ao paroxismo do horror. Escrito em Agosto de 1945 e inédito em Portugal, revela o sistema que neles operava, pondo a nu as suas molas psicológicas e as hierarquias que neles se estabeleciam; e ainda “Dada – História de uma Subversão”, um estudo de Henri Béhar e Michel Carassou, obra de referência que traça a génese e a evolução da aventura dadaísta, a expressão mais pura e violenta da poesia do século xx: os princípios fundadores e múltiplos rostos desta revolução artística, os episódios essenciais e as reflexões dos protagonistas e intervenientes.
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