Muita coisa aconteceu desde que por aqui lançámos a edição de 2017 do Vodafone Mexefest, entre novas confirmações e o falecimento do enorme Charles Bradley. Ainda com a porta aberta novas entradas, é tempo de colocar os pontos nos Es do festival que toma conta da Avenida da Liberdade e arredores nos dias 24 e 25 de Novembro. O passe é único para os dois dias, valendo 45 euros. Fica a lista de todos os nomes confirmados até à data, com uma breve apresentação sacada e cortada ao press release que nos chegou à redacção.
Julia Holter
Tem uma voz delicada que dá corpo às angústias da sua geração, à dificuldade das relações dos dias de hoje, mas também a tudo aquilo que há de mais poético nessa dificuldade. A música desta norte-americana é feita de alguns contrastes que geram encantamento. Se, por um lado, há uma urgência geracional, por outro há uma certa toada clássica, que Julia transporta na voz; as melodias mais densas e arrojadas contrastam com a delicadeza e a doçura do timbre desta norte-americana. Desde a estreia em 2011 com “Tragedy”, Julia nunca mais parou de conquistar público e crítica. Em 2013 editou “Have You in My Wilderness”, um disco que inclui pérolas como “Feel You” ou “Sea Calls Me Home”. A influência de vozes como Laurie Anderson, Julianna Barwick, Kate Bush ou Joanna Newsom não tiram originalidade a Julia Holter.
PAULi
Nasceu em Londres mas fixou-se em Brooklyn, um dos centros nevrálgicos da melhor música da atualidade. Às vezes na sombra, outras vezes no centro do palco, é um desses bons exemplos de talento. Director musical de artistas como Jamie XX ou FKA Twigs e percussionista de Damon Albarn, Gorillaz e Bobby Womack, PAULi também se aventura a solo. O seu espectáculo faz-se da eletrónica que domina, da sua faceta enquanto songwriter e do seu talento como multinstrumentista. O próximo EP está previsto para outubro deste ano, antecipando um disco que sairá na primavera de 2018.
Childhood
De guitarras em punho e com um gosto especial pela nostalgia, os Childhood enchem a sua música de um espírito groove e funk que nos transporta para a década de 1970. Mas há mais influências nas canções da banda inglesa: conseguimos ouvir electro pop, indie, R&B e dream pop no novo disco, “Universal High”, editado em 2017 e sucessor do bem-sucedido disco de estreia, com canções tão contagiantes como “Californian Light” ou “A. M. D.”.
Songhoy Blues
Sabemos que cada banda tem a sua mitologia, mas poucas podem contar uma história (real) tão forte como aquela que foi vivida pelos Songhoy Blues. Obrigados a fugir do norte do Mali pela violência exercida por fundamentalistas islâmicos, Garba Touré, Aliou Touré, Oumar Touré e Nathanael Dembelé encontraram-se uns aos outros na capital Bamako, onde reencontraram também a preciosa liberdade de fazer música. A riqueza da música do Mali em conjunto com as melhores referências anglo-saxónicas resulta num magnífico blues do deserto. Depois do sucesso do disco de estreia, “Music in Exile”, os Songhoy Blues voltam a juntar blues, funk e rock & roll no novíssimo “Résistance”, mas arriscam mais ingredientes, como uma pitada de hip-hop e outra de reggae.
Manel Cruz
É impossível fazer uma história da música portuguesa sem referir o nome de Manel Cruz. Responsável pelos portuenses Ornatos Violeta, tornou-se a voz de uma geração e, durante muitos anos, a esperança maior do rock cantado em português. Além do sucesso da banda Ornatos Violeta, Manel Cruz sempre fez questão de colocar o seu talento ao serviço de múltiplos projetos – Pluto, Supernada ou Foge Foge Bandido -, mostrando que é possível ser versátil sem nunca perder a identidade.
Nos últimos dois anos, Manel Cruz, com Nico Tricot, Edu Silva e António Serginho, apresentou “Estação de Serviço”, um projecto que entretanto evoluiu para “Extensão de Serviço”. Nos planos de Manel Cruz está também a edição de um novo disco, já no próximo ano, em 2018. Enquanto esse disco não chega, já podemos ouvir uma nova canção: “Ainda Não Acabei”.
Washed Out
Washed Out é um dos projectos mais acarinhados pelos melómanos indie de todo o mundo. Ernest Greene estudou para ser bibliotecário, mas o apelo da música acabou por ser mais forte. E, sendo assim, não demorou muito até que os primeiros sons começassem a sair do quarto. Os discos “Within Without” e “Paracosms” mostraram uma electrónica ao serviço de belas canções, identificadas com o chillwave ou a dream pop, mas com uma assinatura que ia além de qualquer género. Em 2017 Foi lançado o novíssimo “Mister Mellow”, um registo em que o músico norte-americano procura novos caminhos para a sua música, com uma atmosfera tropical e um subtil convite à dança.
Momo
Marcelo Frota é MOMO para o mundo da música, um dos nomes mais cotados entre os novos músicos brasileiros. Depois de ter conquistado o público e a crítica com o lançamento de “Serenade of a Sailor” (2011) e “Cadafalso” (2013), voltou aos discos em 2017 com a edição de “Voá”, chegando ao Vodafone Mexefest com Camané como convidado. Este é um registo que reflecte a sua experiência de viver em Portugal, no bairro de Alfama, apaixonado pela luz de Lisboa, uma luz que ilumina estas canções, entre o fado e o samba, entre o mar e o quotidiano do bairro. “Voá” conta com as colaborações de Rita Redshoes no tema “Mimo”, do compositor brasileiro Wado em “Nanã” e de Camané em “Alfama”.
Luís Severo
Primeiro sob o signo O Cão da Morte e agora em nome próprio, Luís Severo tem deixado a sua marca na música portuguesa graças a canções imaculadas – clássicas, por um lado, mas também profundamente identificadas com uma nova geração. Em 2015 editou “Cara d’Anjo” pela Gentle Records, considerado um dos melhores discos do ano por algumas das principais publicações portuguesas. Em 2017 regressou aos discos com “Luís Severo”, uma viagem emocional pela cidade de Lisboa. Este disco foi composto ao piano, e é precisamente assim que Luís Severo vai apresentá-lo na edição deste ano do Vodafone Mexefest.
Statik Selektah
Com um percurso marcado pela versatilidade, sendo DJ, produtor e dono da Showoff Records, Statik Selektah é um dos nomes mais sonantes do hip hop mundial. Produtor reputado, este músico de Boston já trabalhou com nomes como Nas, Eminem, 50 Cent, AZ e Freeway. Depois da formação no New England Institute of Art, onde aprendeu a dominar o estúdio, e inspirado por nomes como DJ Premier ou Funkmaster Flex, Statik abraçou a aventura de criar a sua própria arte. “Spell My Name Right: The Album” foi o primeiro disco, editado em 2007, e desde aí já lá vão sete. O último, “Luck 7”, conta com as participações de Joey BADA$$, Mick Jenkins, Royce Nickel Nine, Dave East, entre outros. Recentemente mostrou ao mundo “But You Don’t Hear Me Tho”, um excelente prenúncio para o novo disco, “8”, que está mesmo a chegar.
Allen Halloween
Não é possível fazer uma retrospectiva da música urbana portuguesa dos últimos dez anos sem falar de Allen Halloween. Sem ceder a modas e trilhando um caminho só seu, Halloween conseguiu criar um universo muito particular, onde o hip hop se junta ao rock e a outras influências, criando a atmosfera ideal para histórias de queda e redenção, crónicas cruas de uma realidade vivida pelo próprio músico. Depois da estreia em 2006 com “Projecto Mary Witch”, Halloween edita duas obras-primas: “Árvore Kriminal” (2011) e “Híbrido” (2015). Aclamado pela crítica e com um público cada vez mais fiel, Halloween prepara agora “Unplugueto”, o seu projecto acústico, feito de reinterpretações de temas já gravados e também alguns inéditos.
Karlon
Português com raízes cabo-verdianas, Karlon é um nome essencial na história do hip hop português: em 1994 fundou o grupo Nigga Poison e, em 2001, criou a editora Kreduson Produson. Com formação no curso de Artes e Ofícios do Espectáculo do Chapitô, Karlon emprega toda essa sensibilidade artística ao serviço da música que faz, como provam os discos “Nha Momentu” (2012) e “Meskalina” (2015), ou a mixtape “Paranoia” (2013). Editado no final de 2016, “Passaporti” está mais perto das origens cabo-verdianas de Karlon. Com funaná adicionado ao hip hop e muitos outros ritmos, este registo impressiona também pela atenção ao detalhe, com sons, vozes e expressões com pronúncia cabo-verdiana. O disco conta com a participação de nomes como Valete, Chullage e DJ X-Acto, entre outros.
Liars
Os Liars deram os primeiros passos em novembro de 2000 e depressa marcaram a diferença nesses primeiros anos do século XXI. A proposta de pós-punk acompanhado de electrónica chamou a atenção do público e da crítica logo após o lançamento do primeiro disco, “They Threw Us All in a Trench and Stuck a Monument on Top”, sucesso fez com que a banda marcasse presença no documentário “Kill Your Idols”. Influenciados por Delta 5 ou Gang of Four, procuraram sempre o seu próprio caminho, adicionando elementos novos a cada disco. Um risco que valeu a pena, como provam os excelentes “Drum’s Not Dead” e “Sisterworld”. Ao longo do tempo a banda sofreu algumas alterações na formação e hoje é o projecto de um homem só: o vocalista e o multi-instrumentista Angus Andrew. “TFCF”, editado em 2017, mostra um músico criativamente inquieto e empenhado em alargar as suas próprias fronteiras musicais (e não só).
Liniker e os Caramelows
O nome Liniker e os Caramelows leva-nos até Araraquara, cidade do interior de São Paulo. O raro talento da cantora e compositora Liniker Barros (não se define como homem, nem como mulher, mas prefere o pronome feminino) está bem acompanhado por Renata Éssis (backing vocals), Marja Lenski (percussão), Rafael Barone (baixo), William Zaharanszki (guitarra), Péricles Zuanon (bateria), Fernando TRZ (teclados), Graziella Pizani (trompete) e Eder Araújo (saxofone). “Remonta”, editado em 2016, é o disco de estreia que revela toda a capacidade de Liniker, camaleónica e sempre inspirada. MPB, muita soul e referências que vão desde Tim Maia até às mais improváveis baladas latinas, passando pelo inevitável Ney Matogrosso, fazem deste registo um verdadeiro acontecimento.
IAMDDB
Motivada por uma cena musical que fervilha em Manchester, IAMDDB não tem parado de criar. Depois de “Waeveybby, Volume 1” e “Vibe, Volume 2”, chega agora um novo EP. “Hood Rich, Volume 3” confirma IAMDDB como uma das artistas mais conscientes da nova geração. A decisão de nos aceitarmos exatamente como somos continua a ser uma das ideias mais fortes da mensagem que IAMDDB quer transmitir. Empenhada em juntar jazz às batidas trap que domina com mestria, e cada vez mais interessada nas suas raízes angolanas, esta jovem de Manchester tem nomes como Jimmy Dludlu e Lianne La Havas na sua lista de referências. “Shade”, o primeiro single do novo EP, tem o condão de prender quem ouve.
Oddisee
Concentrado na sua própria arte, sem se distrair com as luzes do rap, Oddisee é um dos músicos mais produtivos dos últimos dez anos: mixtapes, discos, colaborações e muitos outros trabalhos enquanto produtor atestam a sua prodigiosa ética de trabalho. Filho de pai sudanês e mãe afro-americana, cresceu sob a influência do rap e da soul, contando com vários músicos em ambos os lados da família. Interventivo como poucos, Oddisee aborda temas como as desigualdades sociais e de género, ou a islamofobia. Mas o talento do rapper de Washington DC não se fica pelas letras e também se faz notar nas batidas, como prova “Odd Tape”, uma mixtape exclusivamente instrumental editada em 2016. Mais recentemente, já em 2017, lançou “The Iceberg”. Como sempre, o próprio músico é também o produtor do disco. O jazz é a base de todo o trabalho, mas também há soul, funk, disco e, o mais importante, palavras que têm o dom de nos tornar mais conscientes.
Ermo
António Costa e Bernardo Barbosa são os Ermo, um dos projectos mais arrojados da nova música portuguesa. A dupla de Braga deu os primeiros passos em 2012, com o lançamento de um EP homónimo. No ano seguinte editaram o seu primeiro longa duração. “Vem Por Aqui” foi elogiado pela crítica e garantiu a presença da banda em vários palcos europeus e brasileiros. Difícil de catalogar, a música dos Ermo é influenciada por diferentes géneros, desde o hip hop até ao pós-punk. E essa aventura musical tem um novo capítulo: “Lo-Fi Moda”, editado este ano e que marca a assinatura com a editora NorteSul, apostado em criticar a vaidade e o narcisismo destes tempos de domínio digital. Feito da vontade de experimentar, mas sem perder um irresistível apelo pop.
Hinds
“De Espanha, nem bom vento, nem bom casamento” é o género de provérbio que está mais do que ultrapassado. Depois de ouvir Hinds estamos certos de que de Espanha vem, pelo menos, bom rock. Começou por ser um duo formado por Ana Perrote e Carlotta Cosials (vocalistas e guitarristas), mas depressa passou a quarteto com a entrada de Aden Martin (baixista) e Amber Grimbergen (baterista) para a banda. A proposta das Hinds é simples: rock de garagem, lo-fi, directo ao assunto, com carisma e descontração em doses elevadas. Depois do lançamento de algumas faixas soltas e do EP “Very Best of Hinds so Far”, em 2016 chegou o primeiro álbum. “Leave Me Alone” mantém a fórmula, com uma energia punk irresistível. Na senda de bandas como os Best Coast ou os Wavves, as Hinds sabem como servir um bom surf rock.
Cigarettes After Sex
Os Cigarettes After Sex nasceram no ano de 2008 em El Paso, Texas. Só mais tarde se mudaram para Brooklyn, centro de alguma da melhor música produzida nos últimos anos. A banda liderada por Greg Gonzalez é um exemplo dessa música e do poder do YouTube na divulgação da mesma, com os Cigarettes After Sex a saltarem rapidamente do underground para os ouvidos de milhões de pessoas. O primeiro EP, “I”, foi editado em 2012, registo onde podemos encontrar temas como “Dreaming of You” ou “Nothing’s Gonna Hurt You Baby”, uma das canções que explodiu no YouTube. O primeiro longa-duração da banda chegou já este ano. Um disco homónimo que inclui os singles “Affection” e “K.”. Entre a slow pop e o rock alternativo com ecos de shoegaze, o som dos Cigarettes After Sex recebe a influência de nomes como Trinity Session, Julee Cruise, Red House Painters ou Cocteau Twins.
Aldous Harding
Vem da Nova Zelândia umas das vozes mais originais dos últimos dois anos. Mas os encantos de ALDOUS HARDING não se ficam pela voz: o seu rosto e o seu corpo alimentam uma performance capaz de mostrar vulnerabilidade, sem nunca perder um charme e um carisma irresistíveis. Depois de lançar o seu primeiro álbum em 2005, a cantora neozelandesa editou “Party”. Este trabalho, lançado em maio deste ano, foi produzido por John Parish, produtor dePJ Harvey, Perfume Genious e Laura Jean. Com um lado sombrio transformado em beleza, a música de Aldous Harding é um gothic folk influenciado pelo jazz e até pelo indie rock.
Destroyer
A aventura Destroyer começou ainda na década de 90 para materializar o fulgor criativo de Dan Bejar (também um dos membros da banda The New Pornographers). Aquilo que, no início, era um projecto a solo não
demorou muito até se transformar em banda. Os primeiros registos, como “City Of Daughters” ou “Thief”, trouxeram as comparações a David Bowie, mas também algum estranhamento: havia ali algo de diferente. Essa diferença, que vem da vontade de fazer sempre novo, não se perdeu pelo caminho e é uma das forças da banda de Vancouver.
Valete
Formado em Ciências da Comunicação, VALETE decidiu investir o seu espírito crítico ao serviço da música. O primeiro disco,
“Educação Social”, colocou-o imediatamente na linha da frente dos rappers portugueses, com uma habilidade especial para dar voz a quem não a tem, tratando os problemas sociais com uma força poética invulgar. Estes atributos confirmaram-se em 2006 com o lançamento de “Serviço Público”. Temas como “Subúrbios”, “Monogamia” ou “Serviço Público” são alguns clássicos do hip hop português que saíram desse segundo disco de Valete.
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