Aqueles que andaram no liceu em meados dos anos 80 lembram-se, certamente, de como a música era, muitas vezes, o elemento agregador para a constituição dos grupos que, ao intervalo, se reuniam para fumar um cigarro, jogar à bola, cortar na casaca alheia ou, simplesmente, trocar uns dedos de conversa. E, se aparentemente era complicado relacionar o grupo dos que ouviam Iron Maiden, Metallica ou Helloween com um outro mais dado aos Duran Duran, Spandau Ballet ou Depeche Mode – as combinações, essas, andam perto do infinito -, existia uma banda que parecia ser tolerada por todos – assumidadamente ou às escondidas, cada um tinha pelo menos uma cassete ou um vinil e, com sorte, um poster na parede do quarto e autocolantes no caderno.
Fala-se aqui dos irlandeses U2, banda que, só nos anos oitenta, lançou seis longas-duração. Um deles, o seu quinto, vendeu mais de 25 milhões de cópias, sendo em 1987 aquele vinil com que se caminhava estilosamente debaixo do braço, que servia para impressionar as miúdas – ou os rapazes – cantando de cor as letras ou que levou muito boa gente a comprar roupa preta e a vestir-se e pentear-se com muita pinta.
Lançado em 1987, “The Joshua Tree” foi um marco na carreira da banda e da música rock. Um disco feito de canções que têm corrido gerações e que, mesmo com a implacável passagem do tempo, continuam a manter o estatuto de hinos. Entre elas estão “With Or Without You”, “I Sill Haven’t Found What I’m Looking For” ou “Where The Streets Have No Name”, temas maiores de um disco que transformou os U2 numa instituição ainda maior do que os Rolling Stones, influenciados por uma América feita de estações de gasolina, estradas poeirentas, desertos de cortar a respiração ou motéis de beira de estrada. Uma América que, no ano seguinte, conquistariam definitivamente com “Rattle and Hum”.
Produzido por Brian Eno e Daniel Lanois, “The Joshua Tree” aliava a libertação do rock à magia da poesia, do amor, do desejo e da perda, fazendo dos U2 uma banda universal através da qual muitos passaram a acreditar num mundo melhor – um lugar onde as diferenças de cor, raça ou credo não passavam de notas de rodapé destinadas a serem ignoradas.
A edição especial dos 30 anos de “The Joshua Tree”, lançada recentemente pela Universal, contém um booklet com as letras, fotos da banda no seu estado de pós-adolescência e um texto de Biil Flanagan, escrito em 2007, que dez anos depois se mantém actual. Há ainda um CD gravado ao vivo no Madison Square Garden, em Setembro de 1987, fazendo desta edição uma homenagem essencial a um dos grandes discos da história da música.
De momento, os U2 estão na estrada a apresentar The Joshua Tree Tour, mais um espectáculo cénico e emocional de outro planeta que vem devolver um pouco a esperança à humanidade. Isto nestes tempos loucos onde o mundo parece estar a um pequeno passo de um incêndio inextinguível e o rock passa, definitivamente, por um mau bocado. Veremos o que a banda nos vai oferecer no próximo longa-duração, depois de o lançamento de “Songs of Innocence”, pela Apple, ter sido um fiasco. Não é de acreditar que um novo “Achtung Baby” esteja a caminho mas, quando falamos da fénix U2, tudo é possível.
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