Para Filipe Monteiro, a música não é novidade. Reza a sua (ainda curta) biografia que desde muito novo abraçou aulas de órgão, piano e guitarra, acabando por mostrar uma predilecção especial pelas seis cordas. Passou alguns anos na Banda Filarmónica de Loures, lugar e instituição onde aprendeu coisas como ler e escrever notas, compassos, acordes e outros pormenores que dão um jeito tremendo a quem quer levar a sério a carreira musical.
Diz-se que em adolescente compôs temas que serviram de pano de fundo sonoro a peças de teatro, experimentando algumas bandas de garagem antes de colaborar na formação dos Atomic Bees, com quem editou um único registo, “Love Noises and Kisses”. Rita Redshoes, que também por lá andava, seguiu uma carreira a solo, tendo Filipe acompanhado-a nessa viagem pessoal.
Na altura de escolher um rumo académico optou pelo Curso de Design de Comunicação na Faculdade de Belas Artes. A imagem passou a ser quase uma obsessão, passando daí em diante e até hoje a trabalhar com nomes como Da Weasel, Paulo Furtado, David Fonseca, Rita Redshoes, António Zambujo ou Márcia, produzindo videoclipes e documentários ou desenhando a parte visual de alguns concertos.
Ao mesmo tempo que desenvolvia uma apetência pelo lado imagético da música, trabalhou como músico (de estúdio e ao vivo), arranjador e produtor de discos de Redshoes – “Golden Era” em 2007 e “Lights & Darks” em 2010 – e de Márcia – “Casulo” e “Quarto Crescente”.
2017 marca um novo arranque para Filipe Monteiro que, depois de um percurso na senda altruista, decidiu aventurar-se num trilho pessoal, escolhendo para isso o alter-ego Tomara, sob o qual lançou um primeiro longa-duração: “Favourite Ghost“. Uma caixa musical folk onde cabem cordas de guitarras, pianos, harmonias vocais, arranjos de cordas e metais, tudo cozido com uma voz capaz de nos fazer atravessar a penumbra rumo a um dia de sol sem nuvens.
“Hallow” serve de introdução a um mergulho em águas folk, que tem como expoente máximo “Coffee and Toast”, tema pautado pelo encantamento do piano, o levantamento de violinos, o eco de metais e uma voz que vai ligando os pontos desta imensa trama, levando-nos a pensar que seria possível sobreviver meses à pala de café e de tostas mistas.
“Favourite Ghost” poderia ser uma faixa arrancada ao baú de recordações de Simon & Garfunkel, fazendo pensar a certa altura nos Mumford & Sons só que em bom, com metais de que os Beirut teriam inveja naqueles dias mais difíceis.
“For No Reasons” começa com um piscar de olho a la XX, que cedo se transforma num passeio pela floresta folk com direito a visita guiada por um daqueles barbudos dos Fleet Foxes.
“House” chega como um lamento onde os metais choram uma vida de sem-abrigo, antes de o círculo se fechar com “Land At The Bottom Of The Sea”, regresso às seis cordas onde se troca a paisagem campestre por um passeio espacial. Se o desejo de Filipe Monteiro é ser o fantasma favorito de muito boa gente, começou com o susto certo.
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