São uma instituição musical americana. Os The Roots lançaram um dos discos mais influentes do hip-hop – “Things Fall Apart”, de 1999 -, e ostentam uma carreira rechada de discos aclamados pela crítica. Consolidaram a sua fama mundial ao aceitar ser a “banda da casa” do talk-show de Jimmy Fallon, desde o ano de 2009. Com este currículo invejável, o concerto da passada terça-feira no EDP CoolJazz prometia.
Eram cerca de 21h30 quando se ouviram os primeiros acordes da actuação dos portugueses HMB. A banda tentou de imediato ligar a máquina do funk, mas o motor gripou com um quadro eléctrico que lhes cortou o pio por três vezes. À terceira falha de energia desistiram, e os roadies arrumaram os tarecos ao som das vaias do público. A noite começava da pior maneira, com um cancelamento de que ninguém estava à espera.
Com um pequeno atraso começou o concerto dos The Roots, com toda a gente de dedos cruzados a ver se não falhava nada. E aqui a máquina do funk revela-se um verdadeiro Ferrari – o frontman Black Thought atacou de imediato The Next Movement, a sua voz gutural a puxar pelo público – “Everybody get up”, declarou com voz de comando, e todos obedecemos. Figura imponente, cordões de ouro e roupão branco com “Reigning Champ” escrito nas costas, como um boxeur em noite de vitória, mostrou porque é considerado uma lenda do hip-hop – e foi um colosso incansável ao longo de toda a noite.
Nas suas costas, o carismático baterista Questlove não falhou um beat, mesmo quando sacava do telemóvel para filmar em volta, sempre com boa disposição.
Foi um concerto tipo rolo compressor – no bom sentido, claro. Sem pausas à vista e com uma energia contagiante, os The Roots passaram em revista alguns êxitos, como Clones, Dynamite!, You Got Me e Proceed, revelando a todo o instante uma sintonia rara entre os músicos – todos verdadeiros prodígios, onde se destacava a guitarra de Kirk Douglas, a fotogénica tuba de Damon Bryson, e uma secção de sopros banhada em funk.
Assistiu-se a uma verdadeira celebração da história do hip-hop: a meio do concerto a banda debitou um medley brilhante, onde couberam muitas lendas do calibre de A Tribe Called Quest, Curtis Mayfield, Old Dirty Bastard, os Main Source (a versão de Lookin At The Front Door foi um grande momento) e muitos outros.
De vez em quando houve uma pitada de soul, um toque de jazz, uma vista da Jamaica; outras reinou um electro-terrorismo agressivo, cheio de scratches e percussões endiabradas. Mas o que não faltou foi o groove contagiante, que deixou toda a gente aos saltos até ao fim da actuação.
Enquanto aplicava vigorosos ganchos e uppercuts sonoros, a banda mostrou em Cascais que, ainda que o legado do hip-hop seja essencial para os The Roots, eles continuam relevantes e a abrir caminho para o futuro do género. Um concerto histórico.
Galeria Fotográfica (Fotos de Luís Miguel Andrade)
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