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The Rolling Stones | “Hackney Diamonds”

Por Pedro Soares · Em 22/11/2023

Mesmo quem não ligue ao rock de matriz mais blues ou a guitarras eléctricas, é impossível ficar indiferente ao lançamento de um novo disco dos The Rolling Stones. Primeiro, porque são três homens quase octogenários (Mick Jagger fez já os 80) que continuam a cantar e a tocar como se tivessem 18, o que lhes confere uma espécie de aura de atracção de feira – que, por muito que queiramos, não conseguimos evitar; segundo, porque nunca ninguém fez isto antes. Nunca houve uma banda tão duradoura e, especialmente, tão relevante.

Claro que esse “relevante” se confunde muita vez com o estatuto. Os Stones têm uma máquina promocional gigantesca, que permitiu colocar o logotipo da banda na frente das camisolas do Barcelona no último clássico contra o Real Madrid. Que outra banda, perdão, que outra empresa se pode dar ao luxo de fazer isso? A semana passada, o novo disco, “Hackney Diamonds”, estava em primeiro lugar nas listas de 14 países diferentes. É um disco realmente bom ou é fruto dessa máquina bem oleada? O que veio primeiro: o ovo ou a galinha?

A verdade é que os elogios ao novo trabalho se têm empilhado numa torre de Babel, que vai já bem alta. “O melhor disco desde 1981”, ano de “Tattoo You”, é talvez aquele que se houve mais. E, mesmo sem o ouvir, a maioria das pessoas vai perceber que isso é manifestamente exagerado. Até porque é preciso admitir que os discos dos anos 90 não são assim tão maus. “Voodoo Lounge” é mesmo um belo disco, talvez o melhor da fase de estádio dos Stones. Mas vocês ainda não estão preparados para esta conversa.

Vamos então a “Hackney Diamonds”. Felizmente, o Deus Me Livro tem ao seu dispor este escriba, que não só escreve manifestamente bem como é provavelmente o único fã dos Stones que consegue fazer uma crítica ao disco sem viés. Que privilégio, hein? Aliás, quando a banda revelou o primeiro single, “Angry”, e andavam os maluquinhos da banda aos saltos por ser uma grande malha rock(?), eu temi o pior. “Angry” parece uma música dos Stones feita por inteligência artificial, como se o Mick Jagger tivesse feito log in no ChatGPT e tivesse pedido um tema à Stones.

Mas os Rolling Stones têm, também, uma tradição em lançarem como single inaugural dos discos um tema mais fraco – e mantiveram-na em 2023. O segundo single, “Sweet Sounds of Heaven”, é mesmo um dos pontos altos de “Hackney Diamonds”. Um gospel que vai crescendo ao longo de mais de 7 minutos, com a contribuição de Stevie Wonder e de Lady Gaga. Um dos problemas em ter uma carreira de 60 anos é que vamos inevitavelmente comparar tudo o que os Stones façam hoje a algo que já fizeram no passado. É por isso inevitável mencionar “Gimme Shelter” ao falar de “Sweet Sounds of Heaven”. No entanto, Lady Gaga não é nem de perto nem de longe Merry Clayton. E, apesar dos esforços – Lady Gaga também já interpretou “Gimme Shelter” ao vivo com a banda -, dava o mindinho para ver esta cantiga gravada com Clayton.

Um dos motivos de interesse deste disco são os convidados especiais. E se é giro ver o Elton John em dois dos temas – ele que tem um passado de pegas com Keith Richards: é especialista em fazer músicas para loiras mortas, disse o guitarrista; Richards parece um macaco com artrite, respondeu Elton John -, o convidado de maior destaque é mesmo Paul McCartney. E isso porque “Bite My Head Off” é um dos bons temas do disco, uma punkalhada que podia estar em “Some Girls”. Mais uma vez é impossível não pensar também nas comparações com “I Wanna Be Your Man”, a canção que McCartney e John Lennon ofereceram aos Stones em 1964 – e que toda a gente sabe que a melhor versão é aquela ao vivo que está no disco de Keith Richards, com os seus X-Pensive Winos. E quem era o baterista? Exacto, Steve Jordan, que agora é um Stone de pleno direito.

Steve Jordan substituiu Charlie Watts depois da morte deste, há dois anos, e gravou já quase todo o disco (há ainda dois temas com Charlie Watts, mas estão lá mais por tributo do que por relevância). É certo que é um óptimo baterista, mas nota-se uma grande diferença no estilo actual dos Stones. Quando Bill Wyman (que também voltou ao estúdio para participar num tema deste disco) saiu dos Stones e o lugar passou a ser ocupado oficiosamente por Darryl Jones, a diferença não se notou tanto. É que, enquanto a bateria de Watts era toda ela classe e sofisticação, a de Steve Jordan é uma locomotiva imparável. E isso resulta numa música mais cheia e mais rápida, não necessariamente melhor. Mas o mais curioso disto tudo é que, aos 80 anos de idade, os Rolling Stones têm agora uma secção rítmica com dois afro-americanos, eles que sempre foram uma banda de tributo à música negra norte-americana.

Em “Hackney Diamonds”, os Stones têm ainda mais uma rockalhada, que anda ali entre o cânone da banda e o refrão orelhudo meio radio friendly. Chama-se “Get Close” e, pela primeira, são os Stones a parecer mais os Aerosmith daquela fase pós-“Get a Grip”. O que também é curioso, já que a banda de Steven Tyler passou toda a carreira a parecerem sempre os Stones. Mas é o solo de saxofone de James King que faz toda a diferença, e que ainda serve para prestar tributo ao saudoso Bobby Keys.

O que há com fartura em “Hackney Diamonds” são as baladonas, que Mick Jagger parece adorar cada vez mais (basta ouvir os seus discos a solo) e que mais ninguém quer ouvir. “Dreamy Skies” é, no entanto, um óptimo tema country, com a slide guitar de Ronnie Wood a brilhar.

The Rolling Stones, Deus Me Livro, Disco, Crítica, Hackney Diamonds

Tenho uma teoria sobre os discos dos Stones. Desde 1969, todos os álbuns da banda têm sempre um tema cantado por Keith Richards. E a minha teoria é a de que os discos são tão bons quanto esse tema é bom. A prova: qual o melhor disco dos Stones? “Exile On Main St.”. E qual é o tema que Richards canta aí? Exacto, o “Happy”. I rest my case. Posto isto, olhemos para “Tell Me Straight”, de “Hackney Diamonds”. Uma balada desinspirada que, sem ser propriamente má, é maioritariamente esquecível. Não é assim também “Hackney Diamonds” durante grande parte do tempo?

No fim, o álbum acaba com “Rolling Stones Blues”, uma versão do blues homónimo de Muddy Walters (da sua fase do Mississippi, antes da electrificação em Chicago), a quem a banda foi pedir o nome emprestado. Se nunca mais gravarem um disco, esta é a forma perfeita para os Stones encerrarem uma carreira de 60 anos, fazendo um círculo perfeito. Touché!

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Pedro Soares

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