“O sexo é uma coisa suja? Só se for feito como deve ser”, já dizia Woody Allen. Os The Dead Weather acreditam que o rock’n roll também é assim: para ser bom, tem de ser sujo, distorcido e sensual. O novo disco da banda de Jack White, Alison Mosshart, Dean Fertita e Jack Lawrence chama-se “Dodge and Burn” (Third Man Records, 2015), e foi gravado nos estúdios da editora de White, em Nashville.
Desde que editaram “Sea of Cowards”, em 2010, que os The Dead Weather não lançavam um álbum. Estes 5 anos sem gravar deveram-se à agenda sobrecarregada dos seus músicos: White tem investido na carreira a solo e está sempre ocupado com múltiplos projectos e colaborações; Alison é a vocalista dos The Kills; Dean Fertita toca teclas nos Queens of the Stone Age; e Jack Lawrence é o baixista dos City and Colour e dos Greenhornes. Tudo gente muito ocupada, portanto. Ainda assim, nos intervalos das tournés e gravações, lá se conseguiram encontrar esporadicamente nos últimos dois anos para compor e gravar os temas deste novo disco.
A música dos The Dead Weather é um casamento entre blues, riffs hard-rock, outros mais invulgares e energia punk-rock em alta rotação. “Dodge and Burn” é um monstro de distorção e agressividade. O disco começa com uma música inspirada: o primeiro single, “I Feel Love (Every Million Miles)”, que transpira Led Zeppelin por todos os poros. Até a bateria de White parece possuída pelo espírito de John Bonham.
A fasquia continua alta em “Buzzkill (er)” e “Let me Through”, na melhor sequência do disco. Destaque também para “Three Dolar Hat”, que pisa o terreno hip-hop dos Beastie Boys: White canta, ameaçador, sobre um tal de Jackie Lee, que mata toda a gente com um revólver ’33, a que se segue uma mudança de ritmo e um refrão absolutamente demolidor.
Embora assentem em bases clássicas como o blues, o punk e o hard-rock Zeppeliniano, as canções dos The Dead Weather acabam por ser também bastante inovadoras. Há aqui muitas ideias, ritmos e distorções invulgares. Apesar de soar “crú” e inacabado, não há dúvida de que existe neste disco uma identidade própria, forjada pelas dinâmicas vocais entre White e Mosshart – como em “Rough Detective” -, a guitarra pulverizada de Fertita e o baixo mutante de Lawrence.
Colecção de canções repletas de arestas cortantes e arame farpado, “Dodge and Burn” revela ser uma furiosa máquina de rock: Mosshart uiva, demoníaca, através de um manto de gravilha e terra; os riffs e as teclas de Dean Fertita atravessam o disco como serras circulares a cortar madeira. Isto no bom sentido, claro; as letras, da autoria de Mosshart, sublinham o aspecto noir da música, e são abstractas e espontâneas -”Like bubblegum in your hair isn’t fair but it smells good “, canta ela em “Open Up”.
O álbum termina com uma balada completamente inesperada e de recorte clássico, “The Impossible Winner”, com recurso a um quarteto de cordas e ao acompanhamento ao piano. Quase imaginamos a Adele a transformar isto num mega-êxito planetário…
Muitos classificam os Dead Weather como apenas mais um projecto paralelo do prolífico Jack White. No entanto, este disco do supergrupo de Nashville é um dos passos mais sólidos de White desde o final dos White Stripes.
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