Para compreendermos os Temples, temos de falar primeiro de outra banda: os Tame Impala. O colectivo australiano, com Kevin Parker ao leme, foi o principal responsável pela onda de revivalismo neo-psicadélico que surgiu no cenário musical dos últimos anos. “Innerspeaker”, álbum de 2010, e “Lonerism”, de 2012, deram origem a incontáveis bandas de cores ácidas e penteados improváveis.
Uma dessas bandas são os britânicos Temples. Em 2014 editaram o seu primeiro álbum “Sun Structures”, com ligação directa ao psicadelismo rock de guitarras dos anos 60 e 70. Foi um disco muito bem recebido, que colheu elogios de luminárias musicais como Noel Galagher e Johnny Marr.
Chegados a 2015, os Tame Impala lançaram o fabuloso “Currents”, álbum onde ensaiaram uma viragem para o electro-pop, carregada de sintetizadores polidos e melodias orelhudas. Passados dois anos surge o novo dos Temples, “Volcano” (Heavenly, 2017), onde seguem de novo as pisadas dos Impala, pintando as canções com sintetizadores espaciais e melodias açucaradas. Ou seja, originalidade, chapéu. No entanto, essa falta de inovação é largamente compensada pelo talento musical de James Bagshaw e seus comparsas.
O disco arranca a toda a velocidade com a inspirada “Certainty”, a bateria bojuda e o baixo ribombante a abrirem caminho para uma linha melódica infecciosa. É bem capaz de ser a melhor música de sempre dos Temples, e serve como matriz para o resto do disco. “All Join in” prossegue em registo sideral, enfeitada com riffs de sintetizador distorcido, coros épicos e melodias trauteáveis. “(I want to be Your) Mirror” começa com uma flauta pastoral, que dá lugar à entrada da bateria e da guitarra, sublinhadas por teclas cintilantes.
A produção, a cargo dos próprios Temples, é sem dúvida bem conseguida. Não há aqui lugar para a distorção empastada à la Ty Segall – todos os instrumentos se diferenciam na mistura, e o som está elegantemente disposto por camadas. É um disco pensado ao pormenor, pouco dado à espontaneidade.
A guitarra acústica no início de “Oh the Saviour” tem um efeito refrescante, a voz de James Bagshaw a ecoar os Beatles de “Revolver” – faz lembrar o tema “Dr. Robert”-, pelo menos até meio da música porque, quando damos por ela, estamos outra vez em terrenos dos Tame Impala de “Currents”. “Born into the sunset” já é mais pop-rock de guitarras, a fugir para os lados dos MGMT.
Um dos pontos negativos de “Volcano” é a repetição de atmosferas e texturas sonoras semelhantes em todas as músicas, tornando o álbum algo uniforme. Dito isto, ao fim de algumas audições descobrimos pequenas pérolas: veja-se o início de guitarra acústica em “In My Pocket”, ou a sensibilidade pop em outro ponto alto do disco, “Roman God-Like Man”, por onde se passeia o fantasma de John Lennon.
“Volcano” é um bom álbum, com atenção ao detalhe, feito por músicos sem dúvida talentosos e com bom gosto. O problema é que os Temples parecem contentar-se em seguir a cartilha dos Tame Impala, o que os torna artisticamente menos relevantes. Ainda assim a receita musical da banda é sólida, e o disco torna-se rapidamente num vício.
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