Só faltou mesmo, à de certa forma irritante maneira de Glastonburry, uma bandeira inglesa a esvoaçar junto à pala do antigo Pavilhão de Portugal, para que no dia 21 de Julho se tivesse cantado a plenos pulmões o muito real God Save The Queen. Tudo por culpa de Baxter Dury e dos The The, que assinaram dois concertos para mais tarde recordar no último dia da edição deste ano do Super Bock Super Rock.
Para os The The – e mais concretamente para Matt Johnson – tratou-se de um regresso à música, dezasseis anos depois de um ponto final que, na altura, se julgava corresponder ao derradeiro capítulo de um livro sem continuação. Independentemente das razões do regresso a nostalgia dos The The será sempre bem-vinda, sendo notório o espírito de celebração e a alegria do reencontro daqueles que compareceram, deixando Benjamin Clementine e João Peste – e os Pop Dell Arte – a tocar noutros pontos geográficos e fazendo da banda britânica um improvável cabeça de cartaz.
Matt Johnson esteve pouco oficial mas muito cavalheiro, dizendo, por exemplo, que Portugal é o país em que se lembra de ter estado pela primeira vez – tinha então cinco anos -, apresentando alguns dos temas da setlist, inseguro sobre se os discos tinham sido editados em Portugal – “Foram todos!”, gritou alguém a certa altura – ou perguntando o que poderia uma banda inglesa fazer num sábado à noite em Lisboa – parece que acabariam a noite no Incognito.
Brincou também com a secção VIP – estranhamente vazia quando tudo à volta era entusiasmo -, num alinhamento por onde passaram a incrível “This is The Day”, o espírito rebelde de “Dogs of Lust” – que chegou a trazer sinais de mosh pit -, o momento cabaret de “This Is The Night” ou o apelo à auto-tranformação no hino “Lonely Planet”. Tivesse sido na Aula Magna e teria sido um daqueles para a história.
Ainda o lusco-fusco estava longe quando Baxter Dury subia ao Palco EDP, trazendo na mão um copo de vinho branco como se se preparasse para entrar num veleiro de encontro ao horizonte.
Ao longo de menos de uma hora e acompanhado por uma banda incrível, de onde sobressaiam duas moçoilas com veia, pose e estilo de umas Au Revoir Simone, Baxter revisitou muita da música inglesa das últimas décadas. “Listen” mostra-nos um Ian Curtis de fato branco, camisa florida e dotado de uma melancolia um pouco mais sorridente; “Mungo” é atravessado por uma épica linha de baixo e uma dicção em prol do proletariado, daquelas que encontramos nos melhores momentos dos The Streets; “She Wants” transporta o crooning para o mundo da disco; “Oi” promove um ajuste de contas com o passado, o bullying e a violência, exemplo maior da escrita refinada, poética e situada nas entrelinhas de Baxter. Não faltam os momentos inspirados pela chanson française – um deles termina mesmo com um beijo -, texturas arrancadas aos inimitáveis Pulp ou o Natal antecipado em “Palm Trees”. Tudo somado, moram aqui uns The Fall londrinos – obrigado Serginho da Vice Portugal -, menos operários e mais noctívagos, trocando as boas de trabalhador por uns ténis mais confortáveis. A despedida faz-se ao som de “Prince Of Tears”, mas a verdade é que a última coisa que nos apetecia era dizer adeus a Baxter Dury e companhia por este delicioso momento indie.
Destaque ainda para Sevdaliza, que veio preparada para participar na Moda Lisboa com o cenário de As Mil e Uma Noites, que depois de um concerto muito cénico desceu do palco para cumprimentar os fãs, tirar fotografias e trocar algumas beijocas, conseguindo arrancar alguma histeria. Props para ela.
Quanto a Julian Casablancas é, decididamente, já parte da história do SBSR. Depois de no ter assinado Meco o pior dos concertos que por lá passaram, conseguiu repetir a gracinha aagora Oriente e na companhia dos The Voidz, num concerto que foi um dos piores atentados aos ouvidos de quem conseguiu por lá ficar mais que um par de canções – e que teria merecido intervenção policial. Como alguém partilhou nas redes sociais, “só não pedi o dinheiro de volta porque vim de borla”. O Super Bock Super Rock regressa em 2019 e já tem datas: 18, 19 e 20 de Julho.
Sem Comentários