Em 2022, numa entrevista após o concerto de estreia em Portugal (no Vodafone Paredes de Coura), os L`Impératrice confessavam nunca terem sido tão aplaudidos, numa carreira iniciada em Paris no ano de 2012. Depois do concerto de dia 15 de Julho no Meco, é bem provável que a banda comece a pensar seriamente em mudar de casa, tal foi o estado de loucura que se viveu para os lados do Meco no encerramento da 27ª edição do Super Bock Super Rock.
O terceiro e último dia do SBSR arrancou com esmero, ainda que o horário nocturno tivesse assentado melhor às tropelias jazzísticas dos Ezra Collective, habituados a tocar quando o relógio passou já – e com largo avanço – da hora Bela Adormecida. Falando da dança como um dos melhores medicamentos legais disponíveis no mercado, a banda entusiasmou com o seu caldeirão mágico de jazz, funk ou hip-hop, saindo praticamente em ombros do SBSR.
Depois desta caprichada hora do chá, com sabor a poção mágica, assistimos a uma sucessão de concertos marcados pela tepidez: o soul americanizado dos Aparat, onde há um toque de Whinehouse mas sem aditivos; a pop anglo-espanhola de Biig Piig, salva por uma ponta final com acrescentadas batidas por minuto; o DJ Set de Kaytranada, que deslizou em modo de greatest hits ainda com o sol posto e perto da hora da bucha; a incatalogável – mas nem por aí além entusiasmante – música de Pink Pantheress, que aceitou a designação de “european bitch” lançada pelas filas da frente; e o que dizer de Steve Lacy, um tipo que parece querer ser Prince mas ao qual falta bem mais que um Danoninho? Chegou a doer tanta falta de afinação, ou ver a banda e o tremendo coro remetidos às sombras num anonimato imposto.
Quando tudo parecia perdido, os L’Impératrice assinaram o melhor concerto do dia – e, arrisque-se, de todo o festival. É certo que a banda formada por Charles de Boisseguin, Hagni Gwon, David Gaugué, Achille Trocellier, Tom Daveau e Flore Benguigui tem discos capazes de rodar em loop durante horas, mas é ao vivo que tudo começa a fazer sentido, com as músicas a ganharem o balanço de remixes numa festa house servida com uma aplicada banda no lugar de um DJ. O entusiasmo era já perceptível antes do concerto, com um grupo de fãs a cravar canetas para desenhar um cartaz dedicado a Flore Benguigui, que fazia anos nesse dia e que acabou por ter direito a uns parabéns cantados.
No espírito de um exercício de auto-motivação, os L`Impératrice gostam de começar pelo fim. A banda entra em palco, os seis elementos alinham-se abraçados e os seus corações, pequenos e luminosos, piscam em crescendo, até ao grande arranque com “Off To The Side”. Uma canção de “Tako Tsubo”, disco que colou os cacos de um coração partido com muito abanar da anca. “There`s a heart beating against your skin/ It cannot wait for you/ Run off to the side/ You can still decide/ Don`t go with the tide”, canta-se já em coro. Ao nosso lado, um provável adolescente, com um charro na mão que daria para alimentar fila e meia, diz ter vindo de Paris só para os ver.
Flore Benguigui conquista o público depois de um par de canções, aliando estilo, classe e uma capacidade comunicacional fora de série. Como quando pede que dancemos da forma mais marada que conseguirmos ou, mais à frente, pedindo sugestões para um movimento estranho, a ser replicado num refrão.
A banda é toda ela um achado, a começar pelo bem desenhado guarda-roupa, participando em coreografias encenadas ou improvisações de impulso, numa alegria contagiante que faz de um concerto uma festa sem hora de saída. Assim como se os Monty Python decidissem formar uma banda. Um festão. Reviens s`il te plait (se o tradutor não nos tiver trocado as voltas).
Fotos: Francisco Cabrita | World Academy
Promotora: Música no Coração
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