O dia do meio do Super Bock Super Rock era todo ele dedicado ao hip hop, mas foi na pista de dança que se viveu o grande concerto do dia. Tudo à boleia do groove servido, com muita classe e ainda mais requinte, por Nile Rodgers & Chic.Nilepuxou dos galões e levou-nos numa visita guiada por alguns dos grandes momentos pop das últimas – largas – décadas, todos eles partilhando o seu toque de Midas que, quase sempre, nasceu a partir da guitarra – ou das cordas do baixo de Bernard Edwards, com quem fundou os Chic.
Depois de um grande concerto de Sam The Kid, e perante uma plateia que vestia o preto e amarelo oficial dos Wu-Tang Clan, Nile Rodgers não se deixou abalar, entrando com tudo: “You look like a dancing crowd. Are you ready?”.
Após uma versão do clássico “I Want Your Love”, corria então o ano de 1978, e como se aos 70 anos de idade andasse à procura de um trabalhinho para pagar as contas, Rodgers lê-nos parte do seu CV, onde se descobrem produções e composições para nomes como os de David Bowie, Diana Ross ou Beyoncé – mais à frente falaria do seu recente 6º Grammy e de um ano que está a ser em grande. “Mas vamos é tocar os hits”, remata, deslizando para os anos 1980 e virando-nos “Upside Down”, tema que compôs com Bernard Edwards (também ele dos Chic) para Diana Ross, seguindo-se um dos clássicos maiores da história da disco: “We Are Family”, celebrizado pelas Sister Sledge. A dupla de vocalistas, com um estilo old school e classe para dar e vender, deu um recital de bem cantar, subindo escadarias vocais mais altas que o Evereste – e sempre em afinação máxima.
Por esta altura o clima já é de festa, mas o que veio a seguir esteve ao nível de um Creamfields em ponto de ebulição, sempre com muito contexto pelo meio. Como a sugestão – ignorada – que deu a Madonna para chamar ao seu LP de estreia “Material Girl”, que lhe valeu qualquer coisa como um “you can kiss may material girl`s ass”. O disco acabou por se chamar “Like a Virgin”, tendo sido produzido por Rodgers. No Meco, tivemos direito ao medley “Like a Virgin/Material Girl” e, a partir daqui, foi sempre a subir, com uma lista de êxitos que fizeram do Meco a pista de dança onde todos queriam estar: “Cuff It”, de Beyoncé; dose dupla de Daft Punk, com “Get Lucky” e “Lose Yourself To Dance”; ou esse tema tão gingão de David Bowie intitulado “Let`s Dance”.
Ainda houve tempo para a entourage de Nile Rodgers se divertir com o público, antes de um remate final com “Good Times”, no qual GZA, dos Wu-Tang Clan, subiu ao palco para se juntar à festa. “I heard Portugal was a party place”, havia lançado Rodgers a dado momento. E não é que somos mesmo?
Notas breves
Os The 1975 são daquelas bandas que podiam bem ficar confinadas ao estúdio de gravação, tal não é a pasmaceira da maior parte dos seus concertos. Matty Healy, o sexy boy do pedaço, começou por beber de um copo, depois da sua garrafinha de metal e, às tantas, já bebia de uma garrafa de tamanho XL, ajudando ainda mais ao entorpecimento. Em 2019, também Meco, assistimos a um concerto fofinho, com animadas bailarinas e um espectáculo visual bem estudado, mas desta vez nada de bom fica para recordar.
Sam The Kid abriu o livro e, antes de o sol se pôr, assinou um senhor concerto, na companhia de uma orquestra de 24 elementos – dirigida pelo maestro Pedro Moreira -, dos Orelha Negra e de um naipe de convidados de encher o olho – incluindo o seu pai, Napoleão Mira. A música deste rapper é poesia pura, o retrato de um país que muitos de nós só conhecem das notas de rodapé dos telejornais, ou de quando o aperto da vida se transforma em ficção. Clássico atrás de clássico, beat atrás de beat, Sam mostrou a razão de ser o nome maior do hip hop português. “Continuamos a caminhada. A fazer a história de que vocês também fazem parte. Isto para nós já é quase uma religião”. O dia era dos Wu-Tang, mas quem mais brilhou foi Sam The Kid.
Em 1993, os Wu-Tang Clan entraram para a história do hip hop ao primeiro disparo. Com temas como “C.R.E.A.M.” (Cash Rules Everything Around Me) ou “Protect Ya Neck”, “Enter the Wu-Tang (36 Chambers)” passou a fazer parte da enciclopédia do melhor do hip hop, fazendo dos Wu-Tang uma referência e inspiração para gerações de rappers e melómanos. Trinta anos depois da estreia, a banda formada por RZA, GZA, Method Man, Raekwon, Ghostface Killah, Inspectah Deck, U-God, Masta Killa e Ol ‘Dirty Bastard estreou-se finalmente em Portugal, num festival que se vestiu de preto e amarelo galante para os receber. Um concerto que foi como virar as páginas de um álbum de fotografias, tendo cada um dos temas sido acompanhado por imagens de décadas atrás, quando mandavam os filmes de artes marciais, samples de funk e soul no ponto e muito espírito destemido. Mais do que o presente, foi tempo de celebrar uma página dourada da enciclopédia musical. Respect.
Caroline Polachek tinha tudo para sair do Meco carregada em braços: um disco do cacete, fãs ferverosos, letras gritadas em coro ou coreografias que nos levam a arriscar escrever que, em catraia, terá sido bailarina. O problema foi mesmo o som do palco, que foi tratando de minar cada uma das canções, com os graves em puro desgoverno sobrepondo-se a tudo o resto. A ovação final, bem como o número de vezes que se gritou “Caroline” como na celebração de um golo decisivo, são motivos suficientes para que uma promotora se chegue à frente e a faça regressar ao burgo em nome próprio.
Fotos
Diogo Pereira | World Academy (Caroline Polachek)
Rita Duarte | World Academy (The 1975)
Francisco Cabrita | World Academy (Wu-Tang Clan)
Super Bock Super Rock (Nile Rodgers & Chic)
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Promotora: Música no Coração
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