Depois de tudo o que fez na última década em relação a discos de originais, foi com alguma ansiedade que se aguardava “Carrie & Lowell”, o mais recente disco de Sufjan Stevens.
O dedilhar de cordas de uma guitarra acústica é complementado por um piano que surge, ao fundo, em quase todas as faixas. A sua voz, que sempre foi baixa, chega como um ligeiro sussurro que não nos abandona e, de facto, o carácter intimista do disco a isso obriga.
A notável ausência de orquestrações elaboradas leva-nos de volta a “Seven Swans”, disco editado em 2004. Surgem, porém, arranjos de Laura Veirs ou Thomas Bartlett que trazem pianos, orgãos ou sintetizadores, fazendo-nos lembrar algo como Nick Drake ou Elliot Smith.
De realçar também o registo auto-biográfico. Com “Carrie & Lowell” Stevens vem homenagear a mãe (falecida em 2012) e o padrasto. Aliás, “Fourth of July” e “Should Have Known Better” são claras referências à morte da mãe e a tudo o que essa fatalidade incontornável lhe trouxe.
Algumas das canções, como “Eugene”, são regressos mentais de Sufjan Stevens à sua infância e ao que viveu junto da sua família. A citada “Fourth of July” é parte central do álbum, tema onde Stevens “tem” uma conversa com Carrie em que são pedidas desculpas por um abandono precoce.
Esta é a obra em que Sufjan volta ao seu passado e lamenta o tempo que passou com as pessoas erradas, colocando o dedo na ferida e tendo, ironicamente na morte da Mãe, a fonte de inspiração. Não obstante a melancolia e a doçura das canções que compõem “Carrie & Lowell”, vamos acreditar que Sufjan Stevens foi feliz.
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