Foi na companhia de Dean Moriarty, “o pai que nunca chegámos a encontrar”, que pudemos visitar a terra “onde deixam as crianças chorar”. Uma viagem “Pela Estrada Fora”, construída habilmente por Jack Kerouac, que nos conduziu ao Teatro Maria Matos, em Lisboa, lugar onde decorreu a apresentação de “Life”, o novo e recomendado disco assinado por Sean Riley & The Slowriders.
Uma rodela que contou com a produção de Makoto Yagyu, músico dos PAUS, e que viu a banda trocar as guitarras electrificadas por esmerados arranjos onde dominam as teclas, os sintetizadores e alguma maquinaria, mostrando que a banda de Coimbra está em grande forma, continuando a escrever canções que permanecem muito para lá do último acorde.
“You`ve been waiting for too long”, cantou Afonso Rodrigues em “Six Years Later” e, de facto muito tempo passou desde que pudemos regressar a uma sala de espectáculos. Mesmo que, de momento, muitas cadeiras permaneçam vazias e tudo tenha, ainda, o ar de um baile de máscaras veneziano para gente sentada. Uma alegria de voltar expressa várias vezes por Afonso, que não escondia a pressão: “É um prazer tão grande que até estou nervoso”.
Love e Life eram as palavras que, alternadamente, se iam acendendo no fundo de um palco bem desenhado, residindo na sua conjugação um dos grandes mantras da noite: Love Life. Os temas do novo disco estiveram na linha da frente, ganhando ao vivo um fôlego extra: em “Every Time”, o piano transforma-se em câmara de filmar e projecta um western em formato panorâmico; “DiCaprio From Russia” é uma declaração de amor, com muito groove um slow dançado sem agarrões e com alguns pulos numa iluminada pista de dança; “Baby Girl” chega depois de uns exercícios de respiração, a que se segue um show de bola no timbre e nas variações de ritmo, muito graças a uma bateria que consegue jogar em várias posições e a um baixo gingão; “Hide” tem pinta de música das Arábias, de banda sonora para uma leitura dançante de um conto sacado a uma das mil e uma noites; “Never Lonely” faz descer as bolas de espelhos, trazendo à memória a energia de uns LCD Soundsystem ou os tempos mais travessos e felizes dos Foals.
Houve tempo ainda para rock n rollar na “máquina do tempo”, como lhe chamou Afonso Rodrigues, com paragens em “Greetings”, onde de um inofensivo carrossel das girafas se salta repentinamente para uma montanha-russa; “This Woman”, que contou com Paulo Furtado – “alguém que acompanha a banda desde o primeiro concerto” – a dar cartas na guitarra eléctrica; ou, ainda, “Lights Out”, onde se escuta um teclado que traz a fumaça e o espírito etílico dos clubes de jazz e de noites bem regadas. Um bem servido concerto de apresentação que recuperou, nas palavras de Sean Riley, um dos grandes princípios do bom melómano: “A música é um bom pretexto para estarmos juntos”.
Fotos: Luísa Velez
Promotora: A Firma
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