Sean Riley & The Slowriders é o nome de uma banda veterana de Coimbra, mas é também uma longa história de amizade entre três músicos. Essa história sofreu um profundo revés em 2016 – poucas semanas após a edição do terceiro álbum, homónimo, Afonso Rodrigues e Filipe Costa foram confrontados com a morte inesperada do baixista Bruno Simões.
Quatro anos depois, os Slowriders partiram para o processo de gravação do quarto disco, “Life” (Sony Music, 2021) com a intenção de fazer um álbum luminoso, celebratório, em contra-corrente com a disposição soturna que inevitavelmente sentiam. Lançaram o primeiro avanço, “Everytime”, no início de 2020, mas entretanto aconteceu pandemia, por isso ficou tudo em águas de bacalhau. Como um azar nunca vem só, e não há duas sem três, no dia 1 de Janeiro de 2020 Afonso Rodrigues cortou um dedo numa chávena, e durante algum tempo guitarras nem vê-las.
A lesão veio reforçar uma ideia que já existia: a banda procurou construir “Life” traçando os azimutes numa nova direção: alistaram Makoto Yagyu, músico dos PAUS, como produtor, e criaram uma série de arranjos polidos, dominados por teclas, sintetizadores e maquinarias diversas – em vez das habituais guitarras folk electrificadas.
Na nossa opinião foi uma aposta ganhadora: o som surge fresco, revigorado, e “Life” é um disco recheado de bons momentos. Desde logo salta ao ouvido “Love Life”, com as teclas sombrias a rugir no centro do motor, uma energia roubada ao Nick Cave mais mafarrico, e um refrão tão luminoso como a letra: “I’ve never loved life so much”.
Também “Dicaprio from Russia” é um achado – uma fatia de som viciante com ares de Depeche Mode, e teclas de filme de terror dos anos 50 a criar ambiente. As letras falam de amores nocturnos, céus estrelados e champanhe em cascata.
Os Slowriders sempre foram capazes de criar bons temas melódicos, circulares, em que a música se infiltra nos tímpanos e não quer sair – veja-se “Never Lonely”, com o seu órgão à Beach House, ou a balada épica “Baby Girl”. Já se Springsteen e Ian Curtis se encontrassem para beber um copo numa taberna do Nebraska, o resultado poderia ser a balada “Six Years Later”. É uma composição mais clássica, candidata a canção intemporal.
O disco encerra com “Last One”, onde a parafernália eletrónica é posta de lado, e Filipe Costa canta uma composição sua, acompanhado apenas pela guitarra – foi gravada junto à fogueira numa noite estrelada, no deserto do Mojave (ok, não foi, mas podia ter sido).
“Life” é uma reinvenção, o chamado pontapé para a frente, deixando as mágoas ao largo. O disco mostra que o coração dos Sean Riley & The Slowriders está bem vivo e que a banda ainda não atingiu o seu limite – ou, como os próprios gostam de dizer em tom de brincadeira, “no limite não há limite”.
A primeira apresentação do novo disco ao vivo está marcada para o próximo dia 15 de Junho, no Teatro Maria Matos.
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