Quem esteve na edição de 2004 do saudoso Hype@Meco, provavelmente não terá esquecido o concerto de uma banda chamada Moloko, autores de um hino chamado “Sing It Back”, que tinha como vocalista a entusiasmante, sedutora e muito enérgica Róisín Murphy – uma diva que, a certa altura, sacou de um inesperado e bem armado stage diving, fazendo ganhar a noite a todos os que assistiram.
Os Moloko terminariam dois anos mais tarde, um ano depois de Róisín ter tido a sua estreia em nome próprio com “Ruby Blue”. Um disco onde conseguiu pegar em toda a excentricidade e espírito livre dos Moloko e convertê-lo em algo de grandioso, com princípio, meio e fim. Algo que muito se deveu à cortesia do Sr. Matthew Herbert, que se veio a juntar à produção de “Ruby Blue”.
Em 2021, alguns discos e muitas horas passadas em pistas de dança depois, Róisín editou “Róisín Machine” onde, em sentido quase literal, mostrava continuar uma máquina na arte do convite ao abanar de anca. Depois disso, Richard Barratt – ou, se preferirem, DJ Parrot, o alter-ego de Barratt, uma quase lenda do underground britânico que, em tempos fez, parte da banda Sweet Exorcist -, tomou conta da loja e nasceu este “Crooked Machine”. Um disco que, ao contrário de um habitual e mais luminoso disco de misturas, se atira ao lado mais íntimo e obscuro, num hino às reconfortantes profundezas do house e do techno.
“Crooked Machine” tem todo o ar de um diário escrito enquanto se dança, de uma tese sem academismos sobre o poder transformativo da música e do milagre físico que são as pistas de dança. Um disco que consegue, a espaços – muitos –, suplantar a matéria original, e no qual a voz de Róisín recua para oferecer a primazia à música. Como que a querer dizer-nos que, por vezes, o melhor mesmo é seguir o lema «cala-te e dança». Dancemos, pois.
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