Muitos fãs tremeram dentro das botas quando se soube que o sétimo álbum dos Queens of The Stone Age, “Villains” (Matador, 2017), iria ser produzido por Mark Ronson: poderia o célebre produtor (ligado a artistas como Amy Winehouse e Bruno Mars) profanar, com a sua secção de sopros, os sacrossantos riffs do deserto de Josh Homme e companhia?
Sossega-se o espírito logo no primeiro minuto de “Feet don’t Fail Me”, o tema de abertura – um ronco apocalíptico intensifica-se até à vibrante entrada da bateria, que abre caminho a um groove dos antigos à escala Led Zeppelin. Não há razão para alarme: os Queens continuam a ser a mesma banda que, em 1998, se ergueu das areias escaldantes do deserto da Califórnia.
Em duas décadas tornaram-se figuras de proa do panteão rock, muito graças a discos como “Songs for The Deaf” e “Rated R”, peças fundamentais em qualquer discografia rock que se preze. O tão aguardado “Villains” não mancha a reputação dos californianos – a mãozinha de Ronson tornou as músicas um pouco mais “arrumadas”, mais dançáveis, mas os temas de Josh Homme continuam tão pesados, ambiciosos e estranhos como sempre.
O primeiro single, “The Way We Used To Do”, mostra a produção de Ronson em acção: na clareza dos sons e das percussões e na mistura muito focada, com cada instrumento encaixado com espaço para respirar. É um tema rockabilly, acelerado, gingão, acompanhado por palmas robóticas, a puxar movimentos de anca à Elvis.
A soturna “Fortress” surge adornada por um sintetizador espacial e uma linha de baixo ondulante. Apresenta o lado mais vulnerável e franco de Josh Homme – o tema é dedicado aos três filhos do vocalista, que lhes promete que “If ever your fortress caves, you’re always safe in mine”.
Todo o disco está construído sobre riffs poderosos, a sustentar temas interessantes e dinâmicos – “Domesticated Animals” assenta num riff minimalista até ao osso, sobre o qual Homme canta, quase a capella; de seguida a bateria, seca, constrói o groove em arritmia típico da banda. Também “Head Like a Haunted House” vive à base da guitarra e da percussão, colocando o pé no acelerador. O baixo bojudo de Michael Shuman providencia uma inesperada vibração pós-punk.
Aqui e ali detectam-se influências do amigo Iggy Pop, com quem Homme e o teclista Dean Fertita fizeram “Post Pop Depression” – o álbum a solo da velha iguana saiu em 2016, e “Hideaway”, por exemplo, encaixa perfeitamente nesse universo.
A balada pesarosa e sentida “Villains of Circumstance”, escrita há já alguns anos – um primeiro registo acústico no Youtube data de 2014 -, encerra o disco numa toada melancólica. A atmosfera de filme de vampiros série B leva-nos pela mão, para uma encruzilhada poeirenta entre o deserto e a Transilvânia.
Fecha-se desta forma um álbum que, não sendo uma obra-prima, é forte do início ao fim, mais uma entrada de peso no impressionante catálogo da banda. Tal como no genial álbum anterior “…Like Clockwork”, de 2013, também “Villains” se apoia numa formação coesa, sob o comando do almirante Homme. É, também por isso, um disco consistente e robusto. Passados quase vinte anos após o primeiro álbum dos Queens of The Stone Age, o instinto roqueiro de Josh Homme continua afinado.
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