Após a avassaladora prestação dos Royal Blood na noite de arranque do NOS Alive, havia uma expectativa no ar: estariam as Savages à altura do desafio? De início parecia que não: ainda era cedo e o público, apático, bebericava cerveja, e nem os primeiros acordes de “I’m Here” provocaram grande agitação.
Mas calma, estamos a falar das Savages, uma força da natureza. A vocalista Camille Berthomier, vestida de preto, saltos altos vermelhos e batom a condizer, atacou os temas dos dois álbuns “Silence Yourself” e “Adore Life” com uma garra impressionante. “Sad Person” e “Something to say” começaram a mexer com os sentidos, e por alturas de “When In Love” já todos se tinham rendido. A guitarra de Gemma Thompson abria um buraco negro de distorção, a baterista Fay Milton era um furacão controlado, o baixo possante de Ayse Hassan tomava conta das melodias com autoridade.
A vocalista, confiante e assertiva, encarna uma vedeta rock à antiga, passeando-se por cima da multidão, figurativa e literalmente. Músicas como “No Face”, “Husbands”, “Adore” e a final “Fuckers” não deixaram dúvidas: apesar de algumas peripécias no som, mais um grande concerto.
Depois de uma banda feminina, outra idem aspas – as Warpaint. As americanas traziam na bagagem “Heads Up”, terceiro álbum de estúdio. A sonoridade alia atmosferas dream pop com uma secção rítmica robusta, para debitar um indie-rock que tanto deve aos Cocteau Twins como aos Cure. Em Oeiras, o alinhamento começou com “Heads Up”, seguido de “Crimson” e “Undertow”. Um início competente mas algo morno, que nos levou a pensar se não se estaria melhor a matar saudades dos velhinhos Cult no palco NOS, onde se encontravam os mais dados à nostalgia.
A escolha tornou-se mais acertada a partir de “Intro”, a dar início a uma sequência vencedora com “Keep it Healthy” e “Love is to die”. De seguida as Warpaint soltaram-se e revelaram a veia mais dançante do novo álbum, com “New Song”, o tema com maior impacto em toda a actuação que contou com um convidado especial: o baixista Jono Ma, dos Jagwar Ma. Encerrou-se a actuação com as harmonias vocais da ameaçadora “Disco//Very”, – e o clássico obrigado Lisboa, até à próxima.
Dos Wild Beasts conferimos apenas que a nova “Big Cat” funciona bem ao vivo, mas não havia mais tempo – deixámos o Palco Heineken para rumar ao Palco NOS, onde os The Kills estavam prestes a ligar a sua infernal máquina de rock n’ roll.
E de facto os Kills são rock n’roll, da ponta dos cabelos louros oxigenados de Allison Mosshart até à base dos tacões das botas de Jamie Hince. Apresentaram-se em palco com mais dois músicos e, como pano de fundo, havia três vulcões, ladeados por silhuetas de palmeiras. A banda deu início às hostilidades com “Heart of a Dog”, de “Ash and Ice”, álbum do ano passado, e prosseguiu em modo blusão de cabedal por temas mais antigos como “U.R.A. Fever”, “kissy Kissy” e “Black Balloon”.
O groove da guitarra de Jamie e o estilo rockeiro de Allison são coisas para serem medidas às toneladas, e a actuação não precisou de muito mais para funcionar. É rock puro e duro, com Allison a passar pelos bombos em “Pots & Pans” e a fumar casualmente um cigarro em “Monkey 23”. “That Love”, com a cantora sozinha na guitarra, mostrou a veia mais acústica dos Kills, e o final apoteótico chegaria com um épico “No Wow”. Apesar de ter sido um bom concerto, fica a ideia de que o público não embarcou totalmente na viagem. Pareceu faltar entusiasmo – talvez uma banda como os The Kills funcione melhor num palco mais pequeno.
Não faltou, no entanto, entusiasmo à actuação seguinte: os muito aguardados Foo Fighters tocaram duas horas e meia (!) para um público completamente rendido. O vocalista Dave Grohl, extraordinário entertainer, contou como no dia anterior, quando vinham no avião, enfrentaram uma tormenta tão assustadora que chegou a recear que não conseguiria actuar em Portugal.
Grohl ainda apresentou a banda, pediu desculpas pela longa ausência (a última actuação dos Fighters em Portugal já data de 2011), houve umas malhas de Queen, Ramones e The Cult, e compuseram-se canções com a ajuda do público, tudo na maior boa onda.
Os americanos suaram as estopinhas em palco, atacando os temas com um vigor e entusiasmo contagiantes, sendo bem visível a cumplicidade entre Dave Grohl, Pat Smear, Chris Shiflett, Nate Mendel e o fantástico baterista Taylor Hawkins.
O longo alinhamento transbordou de energia: tivemos direito a versões musculadas de “All My Life”, “My Hero” e “This Is a Call”, clássicos que soam sempre bem, e ainda um olhar por temas de “Concrete & Gold”, novo álbum com edição prevista para 15 de Setembro deste ano.
Ouvimos o primeiro single “Run” e também “La Dee Da”, canção novinha e a estrear, que conta com a colaboração de Alison Mosshart – a cantora voltou ao palco para interpretá-la em dueto com Dave Grohl. Soa precisamente a um encontro entre os dois universos Kills e Foo Fighters: rock gingante e festivo.
O fecho dá-se ao som de mais um clássico: “Everlong”, debitado com intensidade e eficácia, e lá fomos nós para casa com um sorriso nos lábios.
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