É um facto conhecido em toda a Europa: NOS Alive é sinónimo de cartaz de luxo. O festival assinalou este ano a 11ª edição, tendo-se tornado numa peregrinação anual para muitos portugueses e estrangeiros.
Depois do calvário natural de trânsito, filas para entrar e segurança apertada, chegámos ao palco principal e à presença dos Alt-J. Sombrias mas cheias de “ganchos” sonoros: são assim as músicas da banda britânica, com harmonias vocais medievais, folk, hip-hop e pós-punk em igual medida – a salada não é indigesta, por ser combinada pelos músicos de uma forma cerebral e inteligente.
Num palco decorado com faixas de luz verticais e imagens abstractas a cintilar, os quatro membros dos Alt-J surgem na frente, sem grandes protagonismos individuais. Vieram ao Alive mostrar o novo “Relaxer”, dando o pontapé de saída com “3ww”, o primeiro single. Daí partiram para uma viagem pelos três álbuns editados, passando inevitavelmente por temas como “Every Other Freckle”, “Something Good”, “In Cold Blood” e “Dissolve Me”. O inevitável hino “This is for Matilda”, cantado em coro pelo público, deu início à sequência mais entusiasmante – “Fitzpleasure”, “Left Hand Free” e “Breezeblocks” geraram entusiasmo –, mas quando o concerto começava a levantar vôo a descolagem foi cancelada com um final abrupto.
Por esta altura já haviam cerca de 27.000 pessoas no recinto do Alive, e muitas mais a chegar. A paisagem começava a parecer um daqueles sonhos esquisitos: um par de noivos tira fotos, a Record TV entrevista festivaleiros, ali vai um pacote de batatas fritas com pernas, e lá ao fundo há um dragão azul a beber uma cerveja.
A pontualidade dos concertos foi uma constante, e pouco passava das 20h50 quando teve início a actuação dos Phoenix: “Ti Amo” foi o ponto de partida para um espectáculo muito colorido – as cores garridas dominaram o palco, e não faltou uma cascata em movimento, saída de um qualquer restaurante chinês. E a música? Os franceses tocaram em todos os pontos certos: “Liztomania” trouxe o primeiro grande momento do Festival, com toda a gente a cantar; “Entertainment” e “1901” caíram que nem ginjas.
As músicas do mais recente “Ti Amo” não conseguiram bater tão forte, mas os baixos dançantes dos novos temas funcionaram bem. “J-Boy” e “Fior de Latte” foram pontos altos de um concerto esfuziante (ainda que perdesse um pouco o gás ali a meio). Chega o final com o crowdsurf de Thomas Mars, ao som de uma reprise de “Ti Amo” que deixa toda a gente a dançar. Boa onda a destes franceses.
Passagem rápida por Ryan Adams, só para ver se o rock n’roll ainda está vivo. E não é que sim? Solos exuberantes, tigres de peluche, um demónio em palco a tocar pandeireta. Não houve tempo para mais, já que iria ser servido um dos pratos principais da noite: The XX no palco NOS.
A banda já é da casa – tocaram em Portugal várias vezes, e as juras de amor ao nosso país foram uma constante ao longo da noite. Os ingleses mostraram ao que vinham com “Intro”, seguida de uma interessante versão (mais “despida”) de “Cristalyze”. Passaram por temas dos três álbuns de estúdio, com o foco no mais recente “I See You”, sem esquecer velhas glórias como “Islands”, “Shelter” ou “Angels” (dedicada a Hanna Marshall, noiva da vocalista Romy Madley Croft). O espectáculo foi dominado pelas batidas dançáveis da pena de Jamie XX que, atrás dos pratos, puxava os companheiros Romy e Oliver Sim para a pista de dança, com o NOS Alive à pendura. Um concerto competente, por parte de uma banda em velocidade de cruzeiro que hoje em dia não tem nada a provar – muito menos em Portugal.
A acabar a noite, Royal Blood. E que final, senhoras e senhores, que final. Havia uma enorme massa de gente à espera dos britânicos Mike Kerr e Ben Thatcher, e não foram precisos mais do que 10 segundos de “Where Are We Now”, do novo disco “How Did We Get So Dark”, para se perceber que o concerto ia acelerar a rotação do planeta. A banda apresentou um som mostruoso – escala Godzilla – e a descarga de energia surpreendeu os próprios músicos, extasiados com a resposta da multidão.
A linha de montagem musical dos Royal Blood não tem nada de novo: aplica-se o baixo de Kerr, distorcido até aos limites da electricidade, a uma bateria violentamente agredida por Thatcher, acrescentam-se poses exageradas, riffs e melodias em pára-arranca, e vocalizações Hard Rock cheias de testoesterona – o resultado foi uma noite a não esquecer tão cedo. “Lights Out”, “Come On Over”, “Little Monster”, todas contribuíram para um espectáculo visceral, sem dúvida o melhor do primeiro dia do Alive.
Ao nosso lado, alguém colocava uma máscara de Lucha Libre mexicana e saía levantado por mil braços, a surfar por cima da multidão. Com os Royal Blood, até isso fez sentido.
No palco principal dava-se início às considerações erótico-românticas do americano The Weeknd, mas para nós a noite já estava ganha.
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