O cantautor brasileiro Marcelo Frota, conhecido como MOMO., é um músico irrequieto, de horizontes largos. Já viveu no Rio de Janeiro, em Angola, nos Estados Unidos e em Barcelona. Em 2015 veio a Portugal para uma série de concertos, e acabou por escolher Lisboa como quartel-general até hoje. “I Was Told to Be Quiet” (Lab 344, 2019) é o sexto disco de originais, o segundo que edita desde que assentou arraiais no nosso rectângulo.
O álbum começa com a folk tranquila de “For I Am Just a Reckless Child”, ao sabor de uma guitarra dedilhada, uma fatia de melancolia suavemente tropical. “Diz a Verdade”, cantado em português, acentua a ligação com o samba, misturado com uma percussão discreta e uma guitarra banhada em bossa nova.
Com “Marigold” começa a desenhar-se um disco tranquilo, subtil, que cresce a cada audição. A voz aveludada de Momo voa no espaço, levemente. Consegue, a espaços, subir a temperatura com o colorido dos trópicos; noutros pontos vem ao de cima o dramatismo, como por exemplo na operática “Stupid Lullaby”, com um esqueleto de piano clássico – ou na massa de ar quente gaulesa que é a balada “Mon Néant”.
A produção é cuidada – o norte-americano Tom Biller, que já trabalhou com nomes como Kanye West ou Fiona Apple, puxa dos galões durante todo o disco, com detalhes subtis e precisos, seja nas percussões e ruídos inventivos, seja na nitidez dos momentos mais calmos. Há uma porção de sensibilidade indie na fórmula, e o disco, apesar de ter sido gravado em Los Angeles, é brasileiro até ao tutano.
Em “Vida” constata-se a presença de Alfama, na guitarra portuguesa em destaque. Mais à frente surge a boa onda de “Higher Ground”, um dos pontos altos do disco, só ultrapassada pela elegante melodia de “Sereno Canto”, que fecha o registo da melhor forma.
Ao mesmo tempo festivo e melancólico, MOMO. balança entre estas duas facetas como um equilibrista no arame, sem nunca cair na tentação do facilitismo. “Foi-me dito para ficar quieto”, diz no título, como quem convida a apreciar a serenidade nestas canções benevolentes. Uma boa surpresa.
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