Calçamos as botas de montanha e entramos no terceiro álbum dos Minta & The Brook Trout, “Slow” (Valentim de Carvalho/NorteSul, 2016). Com ele percorremos os caminhos pedregosos da folk americana dita alternativa, cumprimentando ocasionalmente outros companheiros de viagem tais como Feist, Cat Power ou Laura Veirs.
Os Minta & The Brook Trout não são novos nesta paisagem. Formaram-se em 2008 e, passo a passo, tornaram-se uma certeza na música indie nacional. A sua sonoridade está definida, não se espere de um novo disco uma viragem abrupta para batidas techno, psicadelismo ou coisa que o valha – a guitarra acústica sempre foi o fio condutor do seu som.
Sempre ocupados com mil projectos diferentes, não gravavam sob a designação de Minta & The Brook Trout desde o EP “Out of Washington State”, de 2013, e a demora para editar o novo trabalho acabou por dar nome ao álbum.
“Slow” é um disco focado, estando o foco na guitarra e na voz de Francisca Cortesão, cantora e compositora da banda – e o verdadeiro nome por detrás do alter-ego Minta. Francisca tem uma voz límpida como um copo de água fresca, e as suas canções serenas são pérolas de bom gosto, transformando-se a cada nova audição.
O álbum assinala uma mudança na formação: saiu Manuel Dordio para dar lugar à guitarra eléctrica de Bruno Pernadas, autor do celebrado “How Can We Be Joyful in a World Full of Knowledge?”, disco a solo de 2014. Para além disso, entrou Margarida Campelo para os teclados. No baixo, coros e ukelele mantém-se a talentosa Mariana Ricardo e, na percussão, Nuno Pessoa, que povoa o disco com as suas batidas minimalistas num prodígio de contenção.
Os arranjos sóbrios e delicados da banda têm pormenores interessantes. Ainda que tranquilas, as faixas nunca são monótonas, fruto da abordagem inventiva nos ritmos e texturas. A produção, a cargo de Francisca e Mariana, é sintomática da sua visão minimalista, mantendo uma simplicidade cintilante.
Logo à partida, salta à vista a fantástica “Little Falls”, música que já andava pela net (em versão ao vivo) desde 2013, (é pesquisar “Little Falls”, com o João Correia), mas que aqui ganha uma versão mais encorpada e cristalina. É a faixa mais conflituosa do disco, onde se canta – “You’ve got nothing on me now, so back the hell down”.
Também “Holy Trinity”, com ecos de Sufjan Stevens nos coros e na prestação vocal, impressiona pela positiva. Detalhes como os pormenores da segunda guitarra, ou a sua batida subtil, enriquecem a canção.
Apesar da roupagem folk, os Minta & The Brook Trout sabem fazer boas canções pop – como se prova pelo sucesso de “Falcon”, do anterior álbum “Olympia”. Também em “Slow” há malhas prontas a rebentar nas rádios, como a espaçosa “I Can’t Handle the Summer”, primeiro single do disco e uma das faixas mais solarengas.
Apesar de haver algum desalento e nostalgia subjacente a temas como “In Spain” ou “A Semester Abroad”, não se pode dizer que seja um disco triste. Há espaço para a ironia e para alguns momentos mais upbeat, como “Plaid and Denim”, que temperam a mistura. Há ainda lugar para o reverb da guitarra de “Old Habits”, balada doce que nos transporta, flutuantes, aos anos 60, para o cheiro a maresia da Costa da Califórnia. Uma última e positiva palavra para a qualidade do trabalho gráfico de José Feitor, ainda que, pela primeira vez em discos dos Minta, não haja nenhum animal na capa.
Os Minta & The Brook Trout apresentam o novo disco no próximo dia 26 de Fevereiro, no pequeno auditório do CCB, espectáculo que marcará a estreia ao vivo da nova formação.
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