Os Minta & The Brook Trout editaram, na passada sexta-feira, o seu terceiro álbum, o excelente “Slow”, com um concerto de apresentação no pequeno Auditório do CCB.
O nome não mente: “Slow” teve um processo de gravação demorado, mas a espera valeu a pena. Enraizada na folk americana, a música ganhou uma maior sensibilidade pop do que no álbum anterior, “Olympia”. Mais adeptos do minimalismo que do excesso, os Minta & The Brook Trout fazem canções ricas em subtilezas, nuances, melodias vocais elegantes e arranjos inventivos.
No imaginário americano da compositora e letrista Francisca Cortesão há felicidade e melancolia em doses iguais, fazendo lembrar que não existe uma sem a outra. As letras são temperadas com alguma auto-ironia e boa disposição, o que classifica oficialmente “Slow” como um álbum com muito boa onda.
No palco do CCB esteve a nova formação da banda: mantém-se a Francisca na voz e guitarra e a Mariana Ricardo no baixo – os novos cúmplices são o fantástico Bruno Pernadas na guitarra eléctrica, Margarida Campelo nas teclas e Tomás Sousa na bateria.
Foi com uma mão cheia de canções do novo disco que começou o concerto. “Sand” abriu o espectáculo com elegância seguido de “Light Blue Blues”, com a guitarra eléctrica de Francisca Cortesão a dialogar com a de Bruno Pernadas.
Vestida de forma sóbria, com calças e camisa preta, Francisca tem uma presença tranquila e simpática em palco. Distribui sorrisos generosamente, tanto ao público como aos companheiros da banda, bebe da sua garrafa de água entre cada música e é timidamente cativante.
Para a belíssima “Holy Trinity”, Francisca trocou a guitarra eléctrica pela acústica. As harmonias vocais com a baixista e a teclista, presentes nesta música, foram uma constante na actuação, dando cor e textura às canções. Francisca cantou sobre as suas memórias de infância, com uma tocante nostalgia. Lá atrás, Tomás Sousa marcava o ritmo com a sua batida jazzy.
À direita do palco, Bruno Pernadas encantava com certeiras frases de guitarra. O talentoso guitarrista parece plenamente integrado na sonoridade da banda, com uma actuação muito segura.
Discreta balada folk, “In Spain” ganhou alguma envergadura em palco. Ainda que na versão do disco seja uma música melancólica, emanou aqui uma energia diferente, mais rock n’roll, principalmente no refrão.
Os Minta revisitaram de seguida o seu álbum anterior, “Olympia”, primeiro com a inevitável “Falcon”, muito forte ao vivo, e depois com “Blood and Bones”, “Future Me” e “The Right Boulevards”. O som mais rico desta nova formação reflecte-se nas músicas antigas, dando-lhes mais camadas e uma outra densidade.
Seguiu-se uma das músicas mais fortes do novo álbum, “Little Falls”. Enérgica e entusiasmante, a canção foi um momento alto do concerto.
Sucedem-se a canção mais antiga e a mais recente do novo álbum – “apercebi-me disso agora”, diz com graça Francisca –, a balada “Old Habits”, seguida de “I Can’t Handle The Summer”, primeiro single de “Slow”. Esta última resultou muito bem em palco, recebendo uma das maiores ovações da noite.
Houve ainda tempo para um regresso ao álbum homónimo de 2009 com a música “Large Amounts”, que marcou o fim falso do concerto.
Fortes aplausos e regresso ao palco para o encore, primeiro com “Bangles”, assente no baixo minimal da discreta Mariana Ricardo e depois, a encerrar a festa, a velhinha “A song to celebrate our love”, retirada do EP a solo de Francisca Cortesão, “You”, de 2008.
Lá fora a chuva fustigava as paredes de pedra do CCB e o frio gelava os ossos, mas dentro do pequeno auditório havia uma atmosfera quente – não o calor directo do sol, mas o calor residual e desvanecente de uma agradável noite de verão.
Fotografias de Luís Andrade/LART Photography
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