Continuamos o nosso passeio pelo Parque da Bela Vista, que recebeu nos dias 29, 30 e 31 de Agosto a 3ª edição do Meo Kalorama. Seguem-se mais alguns postais de poucas linhas, num dia de opções difíceis onde nos perdemos na Jungle com a música a bombar de um LCD Soundsystem.
O parque de diversões Meo Kalorama abriu pelas 17h00, com os Unsafe Space Garden a tomarem conta de escorregas e baloiços. Um parque onde, recriando a máxima dos quadradinhos de Lulu, Bolinha e Cª, criança não entra. O som desta banda nacional, que se veste como se o pré-escolar fosse agora uma tendência na moda, mistura a esquizofrenia dos Fiery Furnaces com a experimentação desbragada de uns Animal Collective. Desenhos animados para adultos que promoveram o regresso à selva, deram cabo do GPS e atiraram um queque à cara da auto-sabotagem. Primeiro estranha-se…
Acompanhada por 7 magníficos, a britânica Olivia Dean esteve em bom plano na sua estreia em Portugal. Dirigindo-se por várias vezes ao público – “Não sabia se alguém iria aparecer”, brincou -, recusou a ideia de cara-metade – “Be My Own Boyfriend”, assumiu a imperfeição como parte da vida – “Messy”, tema título do disco de 2023 -, dedicou uma “sweet little song about an alien” ao seu lado mais espacial – “UFO” -, revelou-nos a profissão que escolheria caso a carreira musical tivesse dado para o torto – “I Could Be A Florist” -, falou das separações como uma coisa boa (às vezes) e agradeceu à avó ter decidido, aos 18 anos, rumar da Guiana para o Reino Unido, na sua primeira vez num transporte com asas. “Nunca seria o que sou sem ela. Esta é uma canção para todos os migrantes”, disse antes de nos brindar com “Carmen”. Quite a good show, Ms. Dean.
Os Jungle são a banda que todos gostaríamos de ter a actuar no nosso baptizado, casamento ou funeral. Num cenário relativamente contido em termos cénicos, imitando cortinas vermelhas e negras a esvoaçar ao ritmo de uma brisa meiga, a banda britânica trouxe a sua soul de embalo house ao Kalorama, num concerto-festa capaz de despertar até mesmo a anca mais adormecida. Pura festa, sem tempo para respirar, em modo Djset. Para quem gosta de dançar, foi um festão.
Depois da abençoada estreia no Primavera Sound Porto em 2023, os Nation of Language chegaram ao Meo Kalorama em grande forma, tratando de afagar o ego de um público que tratou de os ir mimando – “Está a ser o melhor concerto da tour”, avançou o vocalista Ian Richard Devaney, que continua a fazer da pista um ginásio de estilosas contorções. O synth-pop retro-futurista continua em boas mãos.
A promessa chegou com estes versos, sacados a uma bonita canção de Lou Reed: “We’re gonna have a real good time together/ We’re gonna dance and bawl and shout together”. “É bom estar de volta”, disse um muito satisfeito James Murphy depois do inaugural “Us V Them”, pronto para uma viagem – mais uma – ao património musical dos LCD Soundsystem – um património nascido a partir do bom gosto musical de um melómano que decidiu arrumar os vinis e chegar-se à frente.
Depois de uma noite tripla no Coliseu dos Recreios em Junho de 2018, isto depois de James Murphy ter anunciado um final apoteótico que levou a uma ressurreição da banda depois de cumprido o luto musical – regresso recebido entre a indignação e a festa -, os LCD Soundsystem brindaram Lisboa com um grande concerto. Menos exuberante na forma, é certo, mas cheio de conteúdo. Siga a festa.
Num dia que foi de abanar o esqueleto, não se poderia ter pedido melhor final de noite. Folamour, francês versado na arte do lava-pratos, sabe umas coisas de bateria, baixo, guitarra e percussão, tendo chegado a colaborar com a Orquestra Nacional de Lyon e noutros projectos que vão da pop ao jazz. Uma versatilidade sentida no DJSet escolhido para o Kalorama, uma viagem house-disco-funk que, pelo meio, serviu por exemplo “Vogue”, de Madonna. Chapeau!
Fotos:
Hugo Moreira (LCD Soundsystem, Folamour +foto de capa)
Rodrigo Simas (Jungle)
Lucas Coelho (Unsafe Space Garden, Olivia Dean)
Matia Garcia (Nation of Language)
Promotora: Last Tour
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