O duo britânico Goldfrapp tem atravessado, ao longo da carreira, diversos humores: ora surgem mais contemplativos e cinemáticos, em álbuns como o disco de estreia “Felt Mountain”, ora se viram para a electrónica mais lúdica, de discos como “Black Cherry” e “Supernature”. Há ainda a encarnação mais optimista, inspirada pelos Van Halen e pelo rock dos anos 80, que se ouve no álbum de 2010 intitulado “Head First”.
A ligar estes diversos registos está a voz felpuda da vocalista Allison Goldfrapp, apoiada pelos sintetizadores poliglotas do cúmplice Will Gregory. A banda tem estado em pousio desde “Tales of Us”, disco de 2013 que os encontrava a explorar o seu lado mais delicado, banhados em folk sombria.
Chega agora “Silver Eye” (Mute,2107), sétimo álbum de originais, que nasce sob o signo da lua – Allison tem dito em entrevistas que este álbum gravita em torno de tudo o que é lunar: o oculto, a metamorfose, e as forças mais elementares da natureza.
Acercamo-nos do disco e somos imediatamente atingidos por um torpedo apontado às pistas de dança – “Anymore”, o primeiro single, acelera de imediato o ritmo cardíaco, com o seu cardápio de zumbidos, batidas secas e sintetizadores pulsantes. É uma música baseada em três acordes – simples, mas terrivelmente eficaz. Não fica mal ao lado de êxitos antigos como “Strict Machine” ou “Ooh La La”. O tema que se segue, “Systemagic”, não dá tréguas, e prossegue em maré dançável, a pedir-nos para desviar os móveis.
Mas a energia está prestes a mudar: com a faixa número 3, “Tigerman”, onde mergulhamos numa outra vaga, mais atmosférica, que domina o miolo do disco: temas como ”Faux Suede Drifter” ou “Zodiac Black” carregam nas texturas electrónicas mais obscuras e robóticas. É aqui que o álbum patina e perde a chama inicial – canções dispersas e vocalizações insípidas (o que não é habitual em Allison Goldfrapp), convidam perigosamente ao bocejo, como em “Become the One” ou “Everything is never enough”, onde a voz surge empastada por efeitos e camadas. Salvam-se “Moon In Your Mouth”, balada gentil e sedutora, e “Ocean”, o tema que encerra o disco, no qual os Goldfrapp se acercam dos Depeche Mode de forma particularmente eficaz.
Com a ajuda do produtor John Congleton, que já trabalhou com St. Vincent e Angel Olsen, a banda construiu um álbum electrónico a espaços curioso, mas ao qual parece faltar um golpe de asa para deixar marca. Os fãs de sempre vão encontrar em “Silver Eye” uma banda confortável na sua pele, só que este território já foi amplamente explorado pelo duo e com resultados mais entusiasmantes. Com “Silver Eye”, os Goldfrapp parecem ter entrado em quarto minguante.
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