Em 1998, os Pulp lançaram um dos seus discos mais brilhantes que, não sendo o último da cronologia, se ouvia como uma despedida da banda britânica e, sobretudo, um olhar com o peso da memória sobre o mundo. “This is hardcore” está habitado pela chegada da velhice e pela proximidade da morte, um olhar apurado de Jarvis Cocker sobre a sua existência na terra, as suas vitórias e, maioritariamente, os seus muitos arrependimentos.
Foi preciso esperar 15 anos por um novo disco dos GNR que, desde “Retropolitana”, se haviam remetido a um enorme silêncio, se pusermos de lado os DVD’s, as colectâneas e as celebrações de carreira. “Caixa Negra“, o 12º longa-duração de Rui Reininho e seus muchachos, chega em muito boa hora, sendo provavelmente a melhor coisa que a banda lançou desde o longínquo “Rock In Rio Douro”, marcavam os ponteiros do tempo o ano de 1992. E que, diga-se, poderá ser ouvido como o “This is hardcore” de uma banda que tem o Porto no coração e Portugal na alma.
Longe vão os tempos em que se assaltavam caixas de esmola ou se fazia amor nas dunas. Agora sentamo-nos em cadeiras eléctricas, pressentimos o Alzheimer e a valsa, essa, dança-se a sós, falhado o engate de pastelaria. Não quer isto dizer que a banda não tenha tido sempre uma pequena nuvem negra a sobrevoar os seus discos: a diferença, agora, é que essa nuvem se tornou céu, estando cada um dos temas habitados por um negrume muito particular. Afinal, todos temos uma caixa negra à espera no fim da linha.
Há baladas ao lado de temas de fazer o corpo dar piruetas, num disco que recupera o som mais clean da banda sempre com a voz frágil (e única) do timoneiro Reininho a indicar o bom caminho, feito de amargura, ironia, sentido de humor e letras para lá do críptico. O passado mostrou o futuro aos GNR. Brindemos a isso.
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