I ain’t no collaborator
I am the partisan
Rebel in the rocks with dirty trousers, broken pistol in the hand
I ain’t no collaborator
Hack my scalp if you think I am
I am a sadistic young usurper, a hand on your neck
Hand on your lover, oh, give the man a hand
I ain’t no collaborator
I ain’t no collaborator
I am the master, independent
If I ever need a father, it won’t be you, old man
O pedaço de letra acima transcrito, carregado de ironia, embebido em sarcasmo e rodeado de boa disposição, foi arrancado a “Colaborations Don`t Work”, um dos 16 temas que fazem parte de “FFS” (Domino, 2015), rodela que uniu duas bandas aparentemente inconciliáveis e separadas por uma geração e meia: os escoceses Franz Ferdinand e os norte-americanos Sparks. De facto, contra todas as previsões dos analistas e leitores de palmas da mão musicais, desta improvável colaboração nasceu um dos mais entusiasmantes discos de 2015 no que à pop de abanar a anca diz respeito.
Autores de 22 (!!!) longas-duração, os manos Sparks foram construindo ao longo de quatro décadas uma carreira da qual sempre fez parte o espírito glam, presente numa pop feita de estranhos sintetizadores ou de uma música de câmara que parecia saída de uma série de desenhos animados para gente crescida. Estranhamente ou não, foram eles que decidiram abordar os Franz Ferdinand, seus fãs confessos, com vista a fazerem algo em conjunto, ideia que terá demorado dez anos a concretizar.
O bonito desta história é que, para além dos Sparks terem conseguido arrancar um bom par de shots à fonte da eterna juventude, talvez tenham sido os Franz Ferdinand que mais lucraram com esta joint venture musical, recuperando muita da frescura e criatividade que, depois de um disco de estreia incendiário, pareciam ter ficado em banho-maria (ainda que o mais recente “Right Thoughts, Right Words, Right Action”, de 2013, esteja cheio de grandes canções).
Com letras onde o duplo significado e os trocadilhos gramaticais fazem parte do ADN, basta atentar a alguns dos títulos para perceber o alucinado mundo em que o ouvinte mais ou menos incauto irá entrar a partir do momento em que o disco começar a rodar: “Johnny Delusional”, “The Dictator`s Son”, “The Man Without A Tan”. Ou, gran finale dos gran finales, o tema “Piss Off”, que serve também como verso de despedida.
Há perdedores carregados de espírito romântico – “Johnny Delusional” -, um homem que aprendeu a matar demasiado cedo – “The Little Guy From The Suburbs” – uma instrospecção que, na falta de medicação, se transformou em paranóia – “Save Me From Myself” – ou uma estranha paixão por uma mulher-polícia depois de uma noite que tinha tudo para correr mal – “Police Encounters”.
Musicalmente as águas são vastas mas sempre revoltas, seja no oceano glamoroso dos musicais da Broadway, no rio onde se pesca o rock dos anos 70, no lago onde foi avistado o monstro da electropop, num dos muitos afluentes que desagua em terras de new wave entre o falseto e o modo crooner ou, simplesmente, numa piscina indie com direito a prancha de saltos. Cheio de desvios inesperados, “FFS” é um carrossel pop do qual não mais apetece mais descer. Faça-se a festa.
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